China dispara mísseis no maior exercício militar contra Taiwan; veja vídeo

Pequim começa retaliação pela visita de Pelosi; Japão diz que projéteis caíram em suas águas

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São Paulo

A China disparou 16 mísseis balísticos em direção a Taiwan nesta quinta (4), iniciando os exercícios militares em retaliação pela visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha que Pequim clama para si.

As armas eram mísseis de curto alcance DF-15, a julgar por vídeos distribuídos pela imprensa chinesa, disparados de locais não revelados. Um mapa divulgado pelo Exército de Libertação Popular mostra que eles sobrevoaram Taiwan, algo que só havia ocorrido uma vez, em 1996, e caíram nas águas a leste da ilha.

Mísseis sendo lançados de ponto não identificado da costa chinesa rumo ao estreito de Taiwan
Mísseis sendo lançados de ponto não identificado da costa chinesa rumo ao estreito de Taiwan - Comando do Teatro Oriental/Reuters

Seja como for, com 600 km de alcance e capacidade de levar uma ogiva nuclear, eles poderiam fazer ambas as coisas: são armas que seriam usadas em um primeiro ataque a Taiwan. Como Taipé disse, os exercícios são desenhados para mostrar como seria feito um bloqueio aeronaval da ilha, já que Pequim divulgou seis áreas de manobras em torno do território.

Segundo o ministro da Defesa do Japão, Nobuo Kishi, "aparentemente cinco mísseis" caíram em águas da Zona Econômica Exclusiva do país, junto à região. Ele diz ter feito um protesto a Pequim e que o incidente seria o primeiro do gênero, adicionando tensão à situação: o governo em Tóquio vem aumentando a retórica belicista contra a rival China.

Também foram disparados, de outros pontos como a ilha Pingtan (130 km de Taiwan), foguetes de artilharia de longo alcance. Helicópteros militares foram vistos no local e há relatos de que navios de guerra chineses já estão posicionados ao largo da costa oeste de Taiwan, do outro lado da ilha.

Segundo o Ministério da Defesa de Taiwan, os projéteis foram lançados em ondas sucessivas por duas horas, a partir de aproximadamente 14h (3h no Brasil). A pasta chamou isso de "ação irracional", exatamente o mesmo termo usado pelo chanceler chinês, Wang Yi, para qualificar a visita de Pelosi durante discurso em encontro com colegas do Sudeste Asiático no Camboja.

A China diz que os mísseis e foguetes estavam equipados com ogivas convencionais, tornando esse o maior exercício de tiro com munição real no estreito de Taiwan na sua história.

Em entrevista à rede NBC, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, afirmou que seu país acompanha a movimentação "bem de perto". "É preocupante", disse. Já o secretário de Estado, Antony Blinken, disse em reunião com colegas asiáticos no Camboja "esperar muito que Pequim não fabrique uma crise ou busque uma desculpa para aumentar sua ação militar agressiva".

A tática de atingir alvos no mar ou sobrevoar o território inimigo com mísseis é velha conhecida na região, sendo aplicada nos testes da Coreia do Norte sobre o Japão, por exemplo. É bastante intimidatório, mas não houve relatos de pânico em Taiwan, que já está em alerta militar máximo desde que Pelosi desembarcou na ilha, na terça (3) à noite.

A americana está em um giro asiático e fez a primeira visita de uma autoridade de seu nível à ilha em 25 anos, sob intensos protestos chineses, que consideram isso um apoio à independência nunca proclamada de Taiwan. Ela passou a quarta (3) em Taipé e voou para a Coreia do Sul e na sequência para o Japão.

Encontrou-se com autoridades como a presidente Tsai Ing-wen e reafirmou o compromisso americano de defender a democracia da ilha, em oposição a autocracias —teve o cuidado mínimo de não usar a palavra China, mas foi obviamente inútil. Após os disparos de mísseis, Tsai também recorreu ao termo irracional e disse que a comunidade internacional deveria agir para deter Pequim.

Os EUA mantêm uma ambígua política ante Taipé, ao mesmo tempo reconhecendo a soberania chinesa implícita no reconhecimento diplomático de Pequim e oferecendo armas e promessa de proteção militar em caso de guerra.

O governo de Xi Jinping já disse ter um compromisso inadiável com integração da ilha, lar da liderança derrotada pelos comunistas na revolução de 1949, com o continente. Promete fazê-lo de forma pacífica, mas não descarta o uso da força e tem intensificado suas ações militares na região para deixar isso claro.

No ano passado, por exemplo, fez a maior incursão de caças e bombardeiros da história, testando a rapidez com que taiwaneses enviam aviões de interceptação. Na quarta, Pequim enviou 27 aeronaves de combate contra Taiwan, num "esquenta" dos exercícios prometidos até domingo (7).

Mais está por vir, e a tensão parece estar sendo dosada por Pequim de forma crescente. A imprensa chinesa fala que serão empregados armamentos sofisticados, como o caça furtivo ao radar J-20, um dos porta-aviões do país, um submarino nuclear, o destróier Tipo 52D e uma série de mísseis, inclusive o "matador de porta-aviões" DF-21 e o hipersônico DF-17.

O acirramento de ânimos é o maior entre China e EUA desde a Terceira Crise do Estreito de Taiwan, entre 1995 e 1996, quando seis mísseis foram lançados na região após o presidente da ilha visitar Washington.

O contexto atual é o da Guerra Fria 2.0, lançada por Donald Trump ante a assertividade crescente de Xi em 2017, que envolve de tarifas de comércio à autonomia de Hong Kong como campos de batalha. O governo de Joe Biden a intensificou, acelerando a montagem de uma rede de aliados no Indo-Pacífico para cercar Pequim e questionar suas reivindicações sobre as águas do principal corredor de comércio do país, o mar do Sul da China.

Ela tomou proporções dramáticas com a Guerra da Ucrânia, iniciada pela invasão promovida por Vladimir Putin em fevereiro. Moscou é a principal aliada de Xi, que dias antes do conflito havia recebido o colega russo e celebrado uma aliança. Ela não é militar em si, mas o apoio econômico e político que Pequim dá ao Kremlin, além da recusa de Xi de condenar o conflito, é visto pelos EUA como vital para Putin.

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