Papa Francisco visita túmulo de Celestino 5º e atribui sua renúncia a humildade

Viagem à cidade de L'Aquila é cercada de rumores sobre possível renúncia do pontífice argentino

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L'Aquila (Itália) | Reuters e AFP

Em visita ao túmulo do primeiro pontífice que renunciou ao cargo na história da Igreja Católica, o papa Francisco elogiou, neste domingo (28), a humildade de líderes que renunciam voluntariamente em vez de governar por toda a vida. A declaração vem em meio a especulações de que ele possa deixar a função em breve –algo que o próprio papa já cogitou ao comentar problemas de saúde.

Durante a manhã (madrugada no Brasil), Francisco foi à L’Aquila, cidade no centro da Itália onde o papa Celestino 5º está sepultado. Ele renunciou em 1294, depois de apenas cinco meses de muita pressão no cargo. O papa emérito Bento 16, por sua vez, visitou o local em 2009, quatro anos antes de renunciar.

Papa Francisco reza em frente ao túmulo do papa Celestino 5º, na cidade italiana de L'Aquila
Papa Francisco reza em frente ao túmulo do papa Celestino 5º, na cidade italiana de L'Aquila - Domenico Stinellis - 28.ago.22/AFP

"Celestino 5º foi uma testemunha corajosa do Evangelho, porque nenhuma lógica de poder se encaixava ou dominava. Com ele, admiramos uma igreja livre da lógica mundana e testemunha plena da misericórdia de Deus", destacou Francisco em uma missa neste domingo.

Ele acrescentou: "Aos olhos dos homens, os humildes são vistos como fracos e perdedores, mas, na realidade, são os verdadeiros vencedores porque são os únicos que confiam completamente no Senhor e conhecem sua vontade".

A viagem simbólica à L’Aquila coincide com a posse de 20 novos cardeais –entre eles, dois brasileiros– um dia antes. As nomeações ocorrem quase corriqueiramente, mas a sucessão de eventos importantes marcados pelo papa alimentou rumores de uma eventual renúncia. De volta ao Vaticano, a partir de segunda (29), o líder católico vai acompanhar uma assembleia a portas fechadas com todos os cardeais, convocados de forma extraordinária.

Segundo especialistas, uma de suas intenções é promover o encontro de todos os cardeais eleitores, muitos dos quais nunca estiveram juntos. A reunião, portanto, serviria como uma oportunidade para os religiosos conhecerem os perfis dos candidatos ao próximo papado.

Em uma entrevista à agência Reuters no mês passado, Francisco, 85, riu dos rumores e disse que "nunca passou por sua cabeça" uma eventual renúncia. Na mesma ocasião, ele não descartou a possibilidade de deixar o cargo por motivos de saúde em um futuro distante.

Neste domingo, Francisco –que tem dificuldade para andar e usa cadeira de rodas– chegou à catedral de papamóvel, cumprimentando os milhares de fiéis; alguns agitavam bandeiras amarelas e brancas do Vaticano. "O mundo precisa de perdão e o perdão constrói a paz", diziam as faixas.

Na missa, o papa comentou o terremoto de 2009 que matou cerca de 300 pessoas e feriu mais de 1.500 em L’Aquila, cidade com 70 mil habitantes. "Vocês mostraram que são pessoas de caráter resiliente", disse Francisco aos fiéis.

O pontífice destacou também o que chamou de difícil reconstrução, não só física, mas cultural, espiritual e moral da cidade, localizada a 80 quilômetros de Roma. Cerca de 50 mil pessoas perderam suas casas na época.

"Esta visita do papa é especial. É como se Jesus tivesse vindo aqui", disse chorando Rita Maccarone, 45, à agência AFP. Ela perdeu sua cunhada e dois sobrinhos no desastre.

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