Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia se opõe e trava revisão de acordo da ONU contra armas nucleares

Ata que cita usina de Zaporíjia, na Ucrânia, é descrita por Moscou como 'descaradamente política'

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Nova York | AFP

Depois de quatro semanas de conferências na sede da ONU em Nova York, a Rússia alegou motivos políticos e bloqueou a adoção de uma declaração final de revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). O país é o detentor do maior arsenal do tipo no mundo e está mergulhado na Guerra da Ucrânia, que completou seis meses no último dia 24 e cujos conflitos estão longe de acabar.

O tratado tem como objetivo evitar a proliferação de armas atômicas, promover o desarmamento completo e estimular a cooperação para uso pacífico deste tipo de energia. O documento é revisado todo ano por 191 signatários.

Míssil russo lançado durante exercício militar no dia 19 de fevereiro, antes da invasão russa da Ucrânia
Míssil russo lançado durante exercício militar no dia 19 de fevereiro, antes da invasão russa da Ucrânia - Ministério da Defesa da Rússia - 19.fev.22/AFP

Representantes dos países se reuniram desde 1º de agosto na sede da organização para um mês de negociações com a meta de reduzir o arsenal atômico no mundo. Mas, ao final do encontro, o presidente da conferência, o argentino Gustavo Zlauvinen, afirmou que a formalização do acordo não seria possível porque a Rússia discordou do texto.

Igor Vichnevetski, representante de Moscou, disse que as 30 páginas do projeto final não tinham equilíbrio. "Nossa delegação tem objeções sobre alguns parágrafos que são de natureza descaradamente política", afirmou, alegando que a Rússia não era o único país que via problemas no documento.

Fontes próximas às negociações afirmaram que a Rússia criticou em particular os parágrafos sobre a usina nuclear ucraniana de Zaporíjia, ocupada pelo Exército do país desde a primeira fase do conflito.

O último rascunho do documento expressava "grave preocupação" com as atividades militares ao redor de centrais ucranianas, assim como com a perda de controle de Kiev sobre esses locais e o impacto negativo para a segurança.

Embora ocupada por russos, a usina de Zaporíjia é operada por ucranianos. Ambos os lados se acusam de travar perigosos combates em torno do complexo, aumentando o risco de acidentes radioativos. Há preocupações de que um reator ou depósitos de lixo atômico ao redor da estrutura sejam atingidos.

Neste sábado (27), a estatal de energia nuclear ucraniana Energoatom advertiu para o risco de "pulverização de substâncias radioativas" em Zaporíjia. Segundo a empresa em seu canal no Telegram, a infraestrutura foi danificada e há riscos de vazamento de hidrogênio e de outras substâncias como resultado dos bombardeios recentes.

A operadora indicou ainda que, na manhã deste sábado, a central operava com o "risco de violar os parâmetros de segurança de radiação e de incêndio".

O Ministério da Defesa da Rússia voltou a acusar a Ucrânia de bombardear a região do complexo. Em comunicado, afirmou que as forças de Kiev lançaram 17 projéteis contra o local nas últimas horas. As informações não puderam ser comprovadas de maneira independente.

Desde o início de agosto, Zaporíjia é palco de explosões que suscitaram temores de acidente nuclear. Enquanto russos atribuem a ofensiva a Kiev, ucranianos dizem que Moscou sabota a planta para culpá-los por eventuais cortes no fornecimento energético.

Na quinta (25), a usina foi completamente desconectada da rede elétrica ucraniana pela primeira vez em quatro décadas devido a "ações dos invasores", segundo a Energoatom. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que a corrente foi cortada pelos bombardeios russos contra a última linha de energia ativa que ligava a usina à rede nacional.

A planta foi reconectada na sexta (26). A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) reforçou o pedido pelo envio de uma missão à usina para ajudar a estabilizar e a restabelecer protocolos de segurança.

Também neste sábado, a Áustria criticou a atitude das principais potências durante as negociações sobre o Tratado de Não Proliferação Nuclear, e não apenas da Rússia. "Embora três quartos dos 191 estados signatários apoiem avanços concretos em direção ao desarmamento nuclear, são principalmente os Estados com armas nucleares, e em particular a Rússia, os que resistem", afirmou o governo de Viena em comunicado.

A nota destaca que, ao contrário dos compromissos do tratado, Estados Unidos, China, França, Reino Unido e Rússia estão aperfeiçoando ou ampliando seus estoques de armas nucleares. "Durante as negociações em Nova York, não houve vontade perceptível de cumprir com as obrigações contratuais", completou o governo austríaco.

Os signatários debateram na ONU outros temas importantes durante a conferência, entre os quais o programa nuclear do Irã e os testes nucleares da Coreia do Norte.

Na abertura do evento, o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez alerta de que o mundo enfrenta um perigo nuclear que não era observado desde o auge da Guerra Fria. "Hoje a humanidade está a apenas um mal-entendido, um erro de cálculo, da aniquilação nuclear", disse Guterres.

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