Talibã reprime protesto de mulheres com coronhadas e tiros para o ar

Manifestação em Cabul, que reivindicava direito ao trabalho e à educação, foi interrompida em cerca de cinco minutos

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Cabul | AFP

O Talibã, grupo fundamentalista islâmico que voltou a governar o Afeganistão há um ano, dispersou um protesto de mulheres em Cabul neste sábado (13) com tiros para o ar e coronhadas. A manifestação exigia o direito ao trabalho e à educação, mas foi interrompida violentamente após cinco minutos.

Cerca de 40 mulheres, que gritavam "Pão, trabalho e liberdade!", caminhavam em frente ao Ministério da Educação, quando integrantes da facção, vestidos com uniforme militar e armados com rifles de assalto, bloquearam a passagem e começaram a disparar rajadas por vários segundos.

Segundo a agência AFP, um dos membros simulou um tiro contra as manifestantes, que buscaram proteção em lojas próximas, mas foram agredidas com coronhadas. Jornalistas que cobriam o movimento também foram reprimidos.

Integrantes do Talibã atiram para o ar para dispersar manifestantes afegãs em Cabul - Wakil Kohsar - 13.ago.22/AFP

As participantes do protesto carregavam uma faixa que dizia: "15 de agosto é um dia sombrio", referindo-se à data da tomada de Cabul em 2021 pelo Talibã.

"Infelizmente, os talibãs que fazem parte dos serviços de inteligência vieram e atiraram para o ar", disse Zholia Parsi, uma das organizadoras da manifestação. "Eles dispersaram as meninas, arrancaram suas faixas e confiscaram os celulares de muitas delas", acrescentou.

Munisa Mubariz, que também estava no momento, prometeu continuar lutando pelos direitos das mulheres. "Se o Talibã quiser silenciar esta voz, não conseguirá. Vamos protestar de nossas casas".

Mulheres afegãs seguram cartazes enquanto marcham e gritam 'Pão, trabalho, liberdade' durante protesto em Cabul, dias antes do primeiro aniversário do retorno do Talibã ao poder - Wakil Kohsar - 13.ago.22/AFP

​As manifestações de mulheres para exigir direitos estão cada vez mais raras na capital afegã, especialmente após a prisão no início do ano de algumas organizadoras.

Depois de retornar ao poder em agosto de 2021, os fundamentalistas islâmicos acabaram gradualmente com as liberdades que as mulheres conquistaram nos últimos 20 anos, após a queda de seu regime anterior. Na primeira vez em que estiveram no poder, de 1996 a 2001, os extremistas proibiram mulheres e meninas mais velhas de estudar e de trabalhar. Agora, elas estão sendo expulsas da maioria dos empregos públicos ou recebendo cortes salariais e ordens para ficar em casa.

Apesar da narrativa de moderação no começo, o Talibã retornou impondo uma série de restrições à sociedade, muitas das quais destinadas a submeter as mulheres à sua concepção fundamentalista.

Na última restrição, anunciada no início de maio, o governo publicou um decreto, aprovado pelo líder supremo do Talibã, o mulá Hibatullah Akhundzada, tornando obrigatório que as mulheres cubram totalmente seus corpos e rostos em público.

O Talibã disse que preferia a burca, o véu geralmente azul que cobre o rosto inteiro com uma malha para esconder os olhos, que já era obrigatório em seu primeiro governo. No entanto, indicou que toleraria outros tipos de véus mostrando apenas os olhos.

O grupo também determinou que, a menos que tenham uma razão convincente para sair, é "melhor que as mulheres fiquem em casa".

As Nações Unidas e grupos de direitos humanos criticaram as restrições. A organização Human Rights Watch pediu, na última quinta-feira (11), que o Talibã "reverta sua decisão horrível e misógina" de banir as mulheres da educação. "Isso enviaria uma mensagem de que o Talibã está disposto a reconsiderar suas ações mais hediondas", disse Fereshta Abbasi, pesquisadora da ONG sobre o Afeganistão.

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