Corpo da rainha Elizabeth 2ª chega a Londres em preparação para funeral

Caixão permanecerá no Palácio de Buckingham por uma noite e segue para Westminster nesta quarta

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Londres

Foi ao som do hino, na pista guardada por 101 soldados e em um avião da Força Aérea Real usado em operações militares recentes no Afeganistão e na Ucrânia, que o corpo da rainha Elizabeth 2ª deixou a Escócia às 17h44 (13h44 de Brasília) desta terça-feira (13).

A viagem entre Edimburgo e Londres, encerrada às 18h55 (14h55 em Brasília), foi mais uma etapa da "jornada final" da soberana morta na quinta (8), no Castelo de Balmoral. Desde então seu corpo vem cumprindo uma série de protocolos e cerimônias, que justificam a definição dada por seu filho mais velho, o agora rei Charles 3º, proclamado no sábado (10).

Quem acompanhou o caixão no avião foi a única filha de Elizabeth, a princesa Anne, que em comunicado divulgado nesta terça disse que está sendo "uma honra e um privilégio" acompanhar a mãe. "Testemunhar o amor e o respeito mostrados por tantos tem sido humildemente encorajador."

O caixão da rainha Elizabeth 2ª levado a avião da Força Aérea em Edimburgo - Andrew Milligan - 13.set.22/Pool/Reuters

Na Escócia, o caixão havia passado a noite na Catedral de Saint Giles, onde ao menos 33 mil pessoas, segundo o governo local, prestaram sua última homenagem presencialmente —membros da família real permaneceram em vigília. A imprensa noticiou que muitos esperaram até cinco horas na fila, e mesmo quem chegou no final da madrugada, por volta de 6h, foi avisado de que a previsão para chegar ao interior da catedral seria de ao menos duas horas.

A chegada a Londres se deu em uma base da RAF em Ruislip, no extremo oeste da capital inglesa. De lá, sob chuva e num carro com luzes acesas no interior para permitir que o caixão fosse visto, o corpo seguiu direto para o Palácio de Buckingham, onde foi recepcionado pelo rei, pela rainha consorte Camilla e outros integrantes da realeza —na primeira vez desde a confirmação da morte em que toda a família se reuniu.

Ele passará a noite na residência oficial da monarquia, onde está prevista uma série de cerimônias privadas. Nesta quarta (14), às 14h22 no horário local (10h22 em Brasília) será levado em uma carruagem, em procissão, até o Palácio de Westminster, sede do Parlamento britânico. Como se deu em Edimburgo, entre o Palácio de Holyroodhouse e a catedral, Charles acompanhará o cortejo em silêncio ao lado dos irmãos. Desta vez, porém, seus dois filhos, William e Harry, também estarão presentes —a rainha consorte e suas noras, Kate e Meghan, irão de carro.

Da mesma forma que se viu no trajeto entre a base aérea e Buckingham nesta terça, dezenas de milhares de pessoas são esperadas nas ruas, numa versão amplificada do movimento visto nos últimos dias em frente aos castelos da monarquia.

Pela programação oficial, a procissão deve chegar a Westminster às 15h (11h), quando batidas do Big Ben, o famoso relógio do Parlamento, marcarão a passagem do cortejo. A partir das 17h de quarta, o Westminster Hall, prédio erguido em 1097, estará aberto para visitação pública até segunda de manhã, quando acontecerão o funeral e o enterro.

Segundo o governo, até 750 mil pessoas poderão fazer a visita ao salão, formando uma fila de 7,5 quilômetros às margens do rio Tâmisa. Nesta terça, o governo antecipou que todos passarão por medidas de segurança similares a de aeroportos e obedecer a regras rígidas: usar roupas adequadas (sem mensagens políticas ou ofensivas), não tirar fotos nem usar celular. Caso seja preciso ir ao banheiro, pulseiras serão distribuídas para sair da fila por alguns minutos; para evitar acampamentos nos arredores, o governo proibiu barracas, churrascos e fogo.

Talvez as pessoas mais interessadas nesses detalhes em todo o Reino Unido sejam as de um grupo que estava próximo à ponte de Lambeth, a 850 metros de Westminster. Foi lá que a polícia resolveu organizar o início da fila. Às 14h desta terça-feira, eram cerca de 15 pessoas, e as primeiras duas mulheres já estão lá desde a segunda (12).

A quarta pessoa da fila era Sarah Langley, funcionária ferroviária que aproveitava para passar seus dois dias de folga sob o relento. Ela havia chegado à 0h30 de terça e dormiu a primeira noite na grama. "Esse pequeno sacrifício é o mínimo que posso fazer por alguém que é insubstituível. Nunca mais haverá alguém como Elizabeth", ela disse à Folha.

De camisa, com um moletom e uma japona por cima, além de um par de botas Doc Martens pretas, Sarah, 55, trazia consigo um saco plástico com sanduíches, barras de proteína e água. "Saí do trabalho à noite e vim para cá. Volto ao trabalho às 6h30 de quinta. Mas às 17h de amanhã serei uma das primeiras a ver a rainha", falou. Ela já havia passado 14 horas no local e tinha outras 27 horas à frente. Na manhã desta terça, choveu insistentemente em toda a cidade.

Com 85 anos, Michael Darvill chegava naquele instante para tomar a lanterna da fila. "Eu nunca tive a oportunidade de fazer nada como isso", contou. "Eu tinha 10 anos quando ela se casou com Philip, em 1947. Eles eram tão lindos. E tinha uns 15 quando o rei George 6º, um grande homem, morreu, em 1952. Tudo isso eu assisti pela televisão em preto e branco da época, com uma telinha minúscula. Por isso agora eu quis estar aqui pessoalmente."

A pequena fila atraiu muitas equipes de imprensa; algumas inclusive passaram a noite ao lado de Vanessa Nathakumaran e Anne (sem sobrenome conhecido), as duas primeiras da fila. Nesta terça o interesse era tão grande que a polícia organizou uma segunda fila, com cerca de dez jornalistas, para que cada um falasse com elas —mais a terceira— de forma organizada e eficiente.

Segundo o jornal Evening Standard, os custos do funeral da rainha Elizabeth 2ª vão ultrapassar os 6 bilhões de libras (R$ 36 bilhões). Esse valor inclui o fator de um feriado nacional ter sido decretado na próxima segunda-feira —só isso pode custar 2,9 bilhões de libras aos cofres públicos— e a coroação de Charles 3º, que provavelmente só ocorrerá no ano que vem.

O valor não será divulgado oficialmente. O funeral da mãe de Elizabeth custou em 2002 cerca de 5,4 milhões de libras (não bilhões, como o da rainha agora), enquanto o da princesa Diana, em 1997, ficou entre 3 milhões e 5 milhões de libras.

Nesta terça, antes de receber o corpo da mãe em Buckingham, Charles 3º e a rainha consorte visitaram a Irlanda do Norte, como parte do roteiro de homenagens à rainha. Em meio às condolências de autoridades e um serviço religioso em Belfast, os dois encararam fortes simbolismos —o país hoje tem como principal força política o partido nacionalista Sinn Féin, para quem a Coroa representa a dominação sobre as gerações anteriores.

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