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Poder crescente de irmã de Milei preocupa líderes na Argentina

Chamada de 'a chefe' durante campanha eleitoral, Karina atua como secretária geral da Presidência e controla agenda do irmão

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Ciara Nugent
Buenos Aires | Financial Times

Durante a campanha eleitoral na Argentina, o economista libertário Javier Milei referiu-se repetidamente à sua irmã mais nova, Karina, como "a chefe". Quatro meses depois de assumir a Presidência, ela tem feito jus ao apelido.

Na função de secretária-geral da Presidência, Karina Milei não é apenas guardiã da agenda de seu irmão e a mais confiável de um pequeno quadro de assessores. Ela tem as rédeas da coalizão (Liberdade Avança) e escolhe a equipe para cargos mais altos no governo e no Legislativo.

Ex-padeira e leitora de cartas de tarô, Karina só começou na política em 2021, quando Milei —então comentarista de televisão e economista do setor privado— concorreu a uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ela administrou sua campanha bem-sucedida.

Karina Milei é a secretária geral da presidência da Argentina - Pablo Porciuncula - 10.dez.23/AFP

Em uma entrevista para um documentário sobre ele lançado no ano passado, uma das poucas vezes em que falou em público, Karina defendeu a equipe inexperiente e unida dos libertários.

"Conheço muitos profissionais em muitas áreas diferentes, mas sabe o que é mais importante? Nosso grupo faz isso por seus ideais, mais do que qualquer outra coisa", disse ela. "Tudo flui melhor quando as pessoas que nos cercam são boas pessoas."

Mas seu poder crescente despertou a atenção de políticos e líderes empresariais. No início deste mês, o fato de ela ter cancelado no último minuto uma nomeação para um comitê no Congresso provocou uma divisão na bancada do Liberdade Avança.

Em março, a vice-presidente Victoria Villarruel disse a uma emissora de televisão que o "caráter forte" de Karina às vezes transformava o presidente em um "pobre porquinho no meio" nas disputas entre as duas mulheres.

"Karina é tão importante quanto Milei na administração da Argentina", disse um importante líder empresarial de Buenos Aires. "Ainda não tenho certeza se isso é um problema, mas é definitivamente estranho."

Karina Milei, 52, tem sido a confidente mais próxima de seu irmão solteiro desde a infância em uma família de classe média da capital. Javier Milei, 53, chamou seus pais de "muito tóxicos" e se afastou deles por mais de uma década.

"Eu ganhei na loteria com Kari. Não há pessoa mais maravilhosa no mundo", disse Milei em uma entrevista em agosto.

Javier Milei acena para a multidão ao lado de sua irmã, Karina Milei, enquanto eles anda em um carro aberto durante sua cerimônia de posse em Buenos Aires - Luis Robayo - 10.jan.24/AFP

As pessoas que a conhecem descrevem-na como "supertranquila" e "alguém que não tenta encantar você". Mas ela não parece ser tímida. Em 2016, apareceu em um popular game show com seu cachorro Aaron.

Ela disse ao apresentador que não se saiu bem na escola, mas acabou se formando em relações públicas pela UADE, uma universidade particular de Buenos Aires, graduando-se em 2001. Em seguida, trabalhou em várias empresas, entre elas uma importadora de pneus e uma fabricante de inseticidas, até seu próprio negócio de bolos, baseado no Instagram.

Karina foi fundamental para a entrada de seu irmão na mídia e na política na década de 2010, moldando tanto sua estratégia de longo prazo quanto a logística do dia a dia.

Quando Javier Milei encenou um espetáculo teatral com tema econômico em 2018, por exemplo, ela "gerenciou todos os seus compromissos de palestras, o orçamento familiar e a bilheteria", além de se apresentar no palco, disse Lilia Lemoine, deputada do Liberdade Avança que trabalhou nos sets, em entrevista ao Financial Times em dezembro. "Ele não teria se tornado presidente sem ela", declarou.

Karina Milei aprova as entrevistas e aparições públicas de seu irmão e o acompanha em viagens. O porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, reporta-se a ela, e Martín Menem, presidente da Câmara, é um aliado próximo.

Ela é uma das três conselheiras mais próximas do presidente. Os outros são Santiago Caputo, consultor político, e Nicolás Posse, chefe de gabinete.

Segundo uma pessoa que conhece os irmãos há anos, Karina é menos bem relacionada e envolvida em negociações com o establishment argentino. No entanto, se houver um desentendimento entre ela e Posse, a vantagem será dela.

Essa proeminência levou alguns investidores estrangeiros a se perguntarem se deveriam estabelecer um relacionamento com Karina. Mas empresários locais disseram que isso não parece ser possível. Poucos a conheceram desde que o irmão assumiu o cargo.

Enquanto o presidente se concentra em lidar com a grave crise econômica da Argentina e se comunicar com os eleitores no X, Karina Milei lidera um esforço para construir uma estrutura partidária nacional para a sua coalizão.

Fundado em 2021, o movimento se baseou em alianças com pequenos partidos provinciais durante as eleições de 2023 e não apresentou candidatos para o Congresso ou para os governos em muitas províncias. Como resultado, conquistou menos de 15% dos assentos no Legislativo.

O presidente disse que ganhar uma parcela maior nas eleições de meio de mandato em 2025 é essencial para seu plano de reforma da economia argentina.

Segundo um funcionário do Liberdade Avança, a proteção de Karina Milei, a quem chama de ditadora, ao projeto de seu irmão causou atrito dentro do partido.

Karina Milei, irmã do presidente da Argentina, Javier Milei, ao lado do ministro do Interior Guillermo Francos e do chefe de gabinete de ministros Nicolas Posse no Congresso Nacional, em Buenos Aires - Agustin Marcarian - 01.mar.24/Reuters

Em abril, depois que o presidente aprovou a nomeação de Marcela Pagano, uma legisladora de primeiro mandato da coalizão, como chefe de um poderoso comitê do Congresso sobre questões constitucionais, incluindo impeachment, Karina ordenou sua remoção, de acordo com duas pessoas familiarizadas com a decisão.

O episódio fez com que o líder do bloco na Câmara, Oscar Zago, e outros dois deputados deixassem o Liberdade Avança, reduzindo a bancada a 38 dos 257 assentos da Câmara. Apesar disso, os três se comprometeram a apoiar as reformas de Milei. "Claramente não é bom ter tanta divisão em um bloco pequeno", disse Ignacio Labaqui, da consultoria Medley Advisors.

Segundo analistas, Karina também ordenou a destituição de Ramiro Marra, um dos fundadores do Liberdade Avança, como líder de seu bloco na legislatura da cidade de Buenos Aires no mês passado. Marra retornou ao cargo na semana passada.

Karina não respondeu a um pedido de comentário do FT sobre o afastamento de Marra e Pagano.

"Ela ampliou um pouco sua influência", afirmou Sergio Berensztein, consultor político. Segundo ele, porém, Karina "precisará aprender rápido" para ter sucesso na complexa tarefa de construir alianças duradouras nas províncias da Argentina. "Você precisa conversar com as pessoas, convencê-las. Isso exige muito. E acho que ela está cometendo erros de principiante."

Essa é uma curva de aprendizado que Karina talvez estivesse esperando. "A verdade é que a política é um lixo", disse ela no documentário do ano passado. "Quando entramos nisso, dissemos que não seria fácil."

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