Estupro e assassinato de adolescentes na Índia reacende debate sobre castas

Irmãs de 15 e 17 anos foram abusadas e estranguladas; seis suspeitos foram detidos pela polícia

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Seis pessoas foram presas na Índia nesta quinta-feira (15) por conexão com o estupro e o assassinato de duas adolescentes, de 15 e 17 anos, cujos corpos foram encontrados pendurados em uma árvore no estado de Uttar Pradesh, o mais populoso do país, segundo a polícia.

A jornalistas um policial local detalhou que as meninas, que eram irmãs, foram atraídas por quatro dos acusados a um campo vazio, onde sofreram abusos sexuais e acabaram estranguladas com um lenço.

Pessoas protestam contra a cultura do estupro, em Nova Déli, na Índia; no cartaz, lê-se: 'um estuprador é um estuprador' - Sajjad Hussain - 27.ago.22/AFP

Elas pertenciam a uma casta considerada inferior, o que reviveu o debate sobre a endêmica violência de gênero agravada por esse sistema social.

Familiares disseram à polícia que as meninas foram sequestradas por homens em motocicletas, refutando a versão oficial. "Tentei pará-los e corri atrás deles, mas eles me bateram e foram embora", relatou a mãe à mídia local. Os homens seriam todos da mesma aldeia.

O vice-ministro-chefe de Uttar Pradesh, Brajesh Pathak, afirmou que o governo buscará justiça. "Tomaremos as medidas mais rigorosas de acordo com as leis", disse. A manifestação, porém, não aplacou as críticas. O governo local, liderado por Yogi Adityanath, um nacionalista hindu, tem sido acusado de fazer pouco para proteger as mulheres.

As irmãs mortas e violentadas eram dalits, pertencentes à casta a mais baixa do sistema hierárquico da Índia e, portanto, marginalizada econômica e socialmente. Embora a Constituição do país proíba a segregação do grupo, na prática ele continua sendo alvo de ataques constantes.

Dados do Escritório Nacional de Crimes mostram que, no ano de 2020, foram registrados 3.372 casos de estupro contra mulheres e meninas dalits —média de dez por dia. De 2015 até aquele ano, houve aumento de 45% da cifra.

Ainda segundo o órgão, tem aumentado o número de crimes contra castas marginalizadas. No ano passado, eles cresceram em média 1,2% em todo o país, com destaque para o estado de Uttar Pradesh, onde as irmãs foram mortas, que registrou aumento de 25,8% no período.

Em relatório, a ONG Human Rights Watch descreveu que a posição subordinada e de exploração de grande parte das mulheres dalits, que compõem a maioria dos trabalhadores sem terra, bem como parte significativa das mulheres forçadas à prostituição em áreas rurais e urbanas, favorece o cenário para a violência sexual.

Ao jornal britânico The Guardian Jacqui Hunt, diretora para assuntos de gênero da ONG Equality Now, que acompanha o assunto, disse que faltam esforços significativos para lidar com a violência sexual baseada em castas, ainda que diversos casos semelhantes já tenham ganhado destaque no país e sido tema de ondas de protestos.

"A mudança é urgentemente necessária, de modo a incorporar boas leis de proteção que sejam efetivamente implementadas para proteger as minorias e responsabilizar os agressores."

O caso das irmãs evoca um emaranhado de episódios semelhantes no país asiático. Em um deles, 11 homens relacionados ao estupro de uma mulher muçulmana em 2002 foram liberados antecipadamente no mês de agosto, em um caso relacionado a pressões políticas.

A mulher foi repetidamente violentada pelos agressores quando estava grávida e teve a filha de três anos e outros membros de sua família mortos. Mas os homens, hindus de uma casta elevada, foram soltos por uma controversa decisão judicial.

Acionada por políticos e ativistas, a Suprema Corte do país exigiu que o estado de Gujarat, onde foi tomada a decisão da liberação, apresente mais informações sobre o caso. Depois disso, uma audiência será marcada.

Com Reuters

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