Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Papa diz que envio de armas à Ucrânia é moralmente aceitável para autodefesa

Religioso recorre a conceito de guerra justa da Igreja Católica para defender ação de países ocidentais

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Avião Papal | Reuters

O papa Francisco defendeu, nesta quinta-feira (15), ser moralmente legítimo que países do Ocidente forneçam armas para a Ucrânia, de forma que Kiev possa se defender da agressão da Rússia.

A jornalistas no avião retornando de uma viagem ao Cazaquistão, o pontífice ainda exortou o país de Volodimir Zelenski a estar aberto ao diálogo. Francisco já havia tratado longamente sobre o conflito no Leste Europeu em discursos na conferência de líderes religiosos da qual participou em Nursultan.

O papa Francisco em entrevista a jornalistas no avião de volta a Roma - Alessandro Di Meo - 15.set.22/Pool/Ansa/Reuters

Foi durante a conversa de cerca de 45 minutos que um repórter perguntou se seria moralmente aceitável que países enviem armamentos para a Ucrânia —um dos principais pedidos de Kiev desde o começo da guerra, há mais de 200 dias, que tem sido atendido por nações como os Estados Unidos e membros da União Europeia.

"Trata-se de uma decisão política, que pode ser moralmente aceitável se for feita sob certas condições de moralidade", disse Francisco, que depois expôs os princípios de "guerra justa" da Igreja Católica, que permitiriam o uso proporcional de armas para autodefesa contra uma nação agressora.

"A autodefesa é não só lícita como uma expressão de amor pela terra natal. Alguém que não defende a si, que não defende alguma coisa, não ama essa coisa. Quem a defende, a ama."

Ainda esclarecendo a questão, o papa disse ser imoral fornecer armas se a intenção for provocar mais guerra. "A motivação é o que em grande parte qualifica a moralidade dessa ação", afirmou.

O pontífice também insistiu na importância do diálogo, mesmo quando o interlocutor é um inimigo. Questionado sobre a posição da Ucrânia, se Kiev deveria negociar com a Rússia ou se haveria um limite moral nesse sentido, ele afirmou que tentativas de conciliação não deveriam jamais ser descartadas, por mais que sejam difíceis quando se trata de dois países em guerra.

"Às vezes é preciso insistir em conversar desse jeito. É desagradável, mas é necessário", disse ele. "Porque, de outro modo, fechamos o único caminho possível para a paz."

Francisco passou os últimos três dias em Nursultan, a capital do Cazaquistão, onde participou do Congresso dos Líderes das religiões mundiais e tradicionais. Durante a viagem, celebrou uma missa para a parca comunidade católica local, que corresponde a menos de 1% da população, e discursou em ao menos duas ocasiões.

O primeiro desses pronunciamentos, realizado na noite de sua chegada, versou sobre a Guerra da Ucrânia, que ele descreveu como "trágica e sem sentido".

Francisco demonstrou continuar sentindo dores no joelho ao longo da viagem, causadas por uma osteoartrite que afeta um ligamento do joelho. O religioso de 85 anos usava bengala ao cumprimentar os jornalistas no voo para Nursultan e, ao conversar com a imprensa na volta à Roma, falou sentado.

Seus problemas de saúde vêm incitando especulações sobre uma possível renúncia, uma opção que ele admite estar em seu horizonte.

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