Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Papa Francisco critica uso político da religião e investe contra Guerra da Ucrânia

Pontífice discursa em encontro de líderes religiosos mundiais no Cazaquistão marcado pela ausência de patriarca Cirilo

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nursultan | AFP

Em visita ao Cazaquistão, o papa Francisco fez nesta quarta-feira (14) um discurso contra a instrumentalização da religião para fins violentos e contra o fundamentalismo religioso. O líder católico, que chegou na véspera ao país da Ásia Central, foi aplaudido de pé por delegações de mais de 50 países.

"Não justifiquemos nunca a violência, nem permitamos que o sagrado seja instrumentalizado pelo que é profano", pediu o pontífice de 85 anos. Ele defendeu, ainda, a liberdade religiosa, que descreveu como um direito "fundamental, primário e inalienável".

Papa Francisco discursa na abertura do 7º Encontro de Líderes Religiosos, no Palácio da Paz e da Reconciliação, em Nursultan - Filippo Monteforte - 14.set.22/AFP

Como era esperado, o argentino também incluiu, ainda que de maneira sutil, a Guerra da Ucrânia em seu discurso. "Nestes dias marcados pelo flagelo da guerra, faz-se necessário um empurrão, e precisamos que isso venha de nós, irmãos e irmãs."

A uma plateia que contava, entre outros, com o imã da mesquita Al Azhar, principal instituição islâmica sunita, com sede no Egito, Francisco disse que o fundamentalismo corrói todos os credos.

"Libertemo-nos das concepções redutivas que ofendem o nome de Deus por meio dos extremismos e dos fundamentalismos, e o profanam por meio do ódio, do fanatismo e do terrorismo."

Criado em 2003, o encontro de líderes das religiões está em sua sétima edição e ocorre a cada três anos. Foi marcado, porém, pela ausência do líder da Igreja Ortodoxa russa, o patriarca Cirilo, aliado de Vladimir Putin e uma das vozes que defendem a invasão do território ucraniano. Tentativas de um encontro com Francisco, até aqui, foram frustradas.

A instituição russa, porém, enviou o arcebispo Antoni Volokolamsk, número dois da Igreja Ortodoxa e responsável por assuntos ligados a relações exteriores. Após uma conversa de cerca de 15 minutos com o para, ele disse a jornalistas que uma reunião entre os líderes religiosos era uma possibilidade, caso seja "bem preparada".

Volokolamsk afirmou considerar o encontro necessário, em moldes semelhantes ao realizado em Havana, capital de Cuba, em 2016, mas teceu críticas ao cancelamento de uma reunião entre os líderes prevista para ocorrer em junho, em Jerusalém. À época, Francisco suspendeu a viagem após ser aconselhado por diplomatas do Vaticano.

"Estávamos preparados para esse encontro quando ele foi cancelado pela Santa Sé. Esse tipo de atitude não ajuda na unidade dos cristãos."

A guerra no Leste Europeu foi o estopim para rusgas públicas entre as instituições. Francisco chegou a afirmar que o patriarca Cirilo não deveria se tornar um "coroinha de Putin" e disse ter pedido a ele que abandonasse a linguagem da política e priorizasse a de Deus.

Nesta quarta, voltou a se opor ao uso da fé pelo poder institucional. "O sagrado nunca deve ser um suporte para o poder, nem o poder um suporte para o sagrado", disse Francisco às mais de cem delegações.

O líder católico também defendeu o combate à desigualdade e à injustiça –tarefa que, argumentou, é fundamental para colocar fim a "vírus ainda piores que o da Covid", como o ódio, a violência e o terrorismo. Vocal em discursos sobre a emergência climática, ele disse que líderes religiosos devem estar na linha de frente dos alertas sobre os perigos da crise do clima.

Sede do encontro, o Cazaquistão, que assistiu à efervescência de protestos sociais no início deste ano, tem uma população majoritariamente muçulmana (70%), com parcela considerável de cristãos ortodoxos (26%). Católicos são cerca de apenas 125 mil entre os 19 milhões de habitantes do país.

Com Reuters

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