Descrição de chapéu Rússia

Papa Francisco viaja ao Cazaquistão com roteiro marcado por desencontros

Pontífice queria reunião com Xi Jinping e patriarca Cirilo, mas agendas, prática e ideológica, não coincidem

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São Paulo

Quando o papa Francisco anunciou a viagem ao Cazaquistão para a qual embarcou nesta terça-feira (13), seu intuito parecia claro —vocal em suas críticas à Guerra da Ucrânia, mas impedido de visitar Kiev em razão de suas dores no joelho, ele ao menos espalharia sua mensagem de paz perto daquelas fronteiras.

O papa Francisco e o presidente do Cazaquistão, Kassim-Jomart Tokaiev, participam de uma reunião com autoridades locais em Nursultan - Pavel Mikheyev - 13.set.22/Reuters

Mas um interlocutor central para o seu plano não estará no local para ouvi-lo. O chefe da Igreja Ortodoxa Russa, o patriarca Cirilo 1º, cancelou no mês passado sua visita ao país. O religioso, amigo de Vladimir Putin, é a favor do que o Kremlin chama de "operação militar especial".

Cirilo vê na sua luta contra o Ocidente uma batalha entre o bem e o mal em que cabe a Moscou, que seria dona por direito do território ucraniano, proteger seu povo dos que tentam pervertê-lo —papel de vilão atribuído a Volodimir Zelenski.

Os líderes de dois dos principais ramos do cristianismo se encontraram pela primeira vez há seis anos, na primeira reunião do tipo desde o cisma de 1054, e não voltaram a se ver desde então. Havia uma expectativa de uma nova assembleia da dupla em Jerusalém em junho, mas Francisco disse, em entrevista à imprensa argentina, que diplomatas do Vaticano desaconselharam a ideia.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o patriarca Cirilo durante evento em Moscou, em 2021 - Mikhail Metzel/Sputnik - 20.nov.21/via Reuters

A ausência de Cirilo pesa na visita de Francisco, a segunda de um pontífice à nação na Ásia Central —a primeira, de João Paulo 2º, se deu dias depois do atentado de 11 de Setembro, em 2001.

Francisco passa três dias em Nursultan, a futurista capital cazaque, para participar do Congresso dos Líderes das religiões mundiais e tradicionais. Além de discursar e se reunir com outros religiosos, ele ainda celebra na quarta uma missa para os católicos do país, que representam menos de 1% da população —70% dos 19 milhões de cazaques são muçulmanos sunitas e 26%, cristãos ortodoxos.

O primeiro pronunciamento do papa, na noite desta terça (13), foi sobre a Guerra da Ucrânia. Em sua fala, ele chamou o conflito de "trágico e sem sentido" e ressaltou a necessidade de as nações diminuírem a retórica de Guerra Fria. Apesar de aliado de Putin, o presidente Kassim-Jomart Tokaiev, presente no encontro, já insinuou que espera que a maciça comunidade russa no norte de seu território não reacenda ambições imperialistas russas.

Um segundo desencontro também vem sendo apontado por analistas como uma oportunidade desperdiçada. Por coincidência, Francisco estará no Cazaquistão ao mesmo tempo que o líder chinês, Xi Jinping —o dirigente comunista faz sua primeira viagem ao exterior dede o fechamento das fronteiras em decorrência da Covid. A segunda parada de Xi é o Uzbequistão, onde deve se encontrar com Putin, reforçando a relação dos dois líderes.

Questionado por jornalistas que o acompanhavam no voo a Nursultan sobre a pretensão de encontrar Xi, o pontífice disse que estaria disposto a ir à China a qualquer momento, mas que não tinha nenhuma novidade sobre o assunto para oferecer.

Ele tem tentado melhorar as relações com Pequim, abaladas desde a Revolução Comunista em 1949, que obrigou os católicos a seguirem a Associação Patriótica, com sua "igreja católica chinesa", enquanto a parcela tradicionalmente leal ao Vaticano foi forçada a se reunir de maneira informal ou clandestina.

A viagem acontece em um momento delicado para Francisco, cujos problemas de saúde vêm incitando especulações sobre uma possível renúncia —opção que ele admite estar em seu horizonte.

Aos 85 anos, o pontífice sofre com uma osteoartrite que afeta um ligamento do joelho direito. As dores o fizeram cancelar vários compromissos recentes e usar com frequência uma cadeira de rodas —nesta terça pela primeira vez ele usou o equipamento para sair do avião e entrar no terminal.

Durante o voo do Vaticano a Nursultan, o papa argentino se apoiou em uma bengala para ir cumprimentar os jornalistas e aparentou sentir dor ao voltar a seu lugar, de acordo o relato dos repórteres.

Com Reuters

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