Premiê de Israel defende solução de dois Estados e ataca Irã na ONU

Teor do discurso divide governo, com membros à direita afirmando que Lapid não os representa

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São Paulo

O primeiro-ministro israelense, Yair Lapid, defendeu a criação de um Estado palestino em seu pronunciamento na Assembleia-Geral da ONU nesta quinta (22). Foi a primeira vez em anos que um representante do país advogou pela chamada solução de dois Estados no púlpito da entidade, ecoando palavras do presidente americano Joe Biden sobre o assunto no dia anterior.

"Um acordo com os palestinos baseado na ideia de dois Estados para dois povos é o certo. A paz não é um meio-termo, e sim a decisão mais corajosa que podemos tomar", disse o premiê, acrescentando que qualquer negociação teria como pré-requisito um pacto de não beligerância por parte da futura nação palestina.

O primeiro-ministro israelense, Yair Lapid, caminha até o púlpito para discursar na Assembleia-Geral na sede da ONU, em Nova York - Mike Segar - 22.set.22/Reuters

O teor do discurso, antecipado pelo jornal Times of Israel na véspera, foi apoiado por alguns aliados à esquerda do premiê, mas irritou ministros à direita da instável coalizão que hoje governa o país —que tem marcada para novembro a quinta eleição em quatro anos. A reação reforça a fragilidade da declaração, cuja viabilidade na prática hoje é altamente improvável.

A ministra do Interior, Ayelet Shaked, afirmou em uma rede social que Lapid fala por si mesmo, não pelo governo, e que ele não tem legitimidade para representar o país quando as questões em jogo podem prejudicá-lo.

O ex-primeiro-ministro Naftali Bennett, por sua vez, escreveu que não há "lógica para se aventar a ideia de um Estado palestino" hoje. "É preciso dizer com todas as letras: não há espaço para outro país entre o Mediterrâneo e o rio Jordão. Não só por causa de nosso direito à terra, mas também pois praticamente não há possibilidade de uma negociação diplomática com os palestinos."

Lapid é um progressista de centro que dividia com Bennett uma ampla coalizão, pela qual cada um lideraria a gestão por certo período. Ele cumpre uma espécie de mandato-tampão até as eleições que podem trazer Binyamin Netanyahu de volta ao poder. O mais duradouro premiê do país, que deixou o posto em junho de 2021 depois de 12 anos, se opõe à criação de um Estado palestino.

Do outro lado, líderes da causa palestina reagiram com ceticismo. Membro da Organização para a Libertação da Palestina, Wasel Abu Youssef afirmou à agência de notícias Reuters que as palavras do israelense no organismo multilateral "não significam nada".

O atual premiê também usou o espaço na ONU para atacar um inimigo histórico de Israel, o Irã. Ele disse que o país persa faz de tudo para pôr as mãos em uma bomba atômica e que a usará caso seja bem-sucedido nesses planos.

Teerã voltou recentemente a negociar um pacto nuclear com os EUA e a União Europeia, mas as tratativas estão estancadas há meses, com acusações de lado a lado —o pacto anterior, de 2015, foi abandonado pela gestão de Donald Trump em Washington. O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, negou que a tecnologia nuclear empreendida no país tenha quaisquer iniciativas não pacíficas em seu discurso na Assembleia-Geral no dia anterior.

Lapid ainda citou o caso de Mahsa Amini, cuja morte sob a custódia da polícia moral vem causando uma onda de protestos pelo país, e o recente ataque a faca ao escritor Salman Rushdie, perseguido pelo regime.

"O Irã odeia judeus, mulheres, gays, o Ocidente. Eles odeiam e matam muçulmanos que pensam diferentes deles", afirmou o israelense. "Seu ódio é um modo de vida, e é uma forma de preservar seu sistema de opressão."

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