Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Zelenski diz que Ucrânia quer paz, lista condições na ONU e pede punição a Rússia

Em fala à Assembleia-Geral ucraniano critica países que se mantêm neutros e defende envio de armas a Kiev

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São Paulo

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pediu paz em um pronunciamento exibido na Assembleia-Geral da ONU nesta quarta-feira (21), e disse que todos os países sabem "quem é o único que quer guerra", sem nomear diretamente o líder russo, Vladimir Putin.

"A Europa quer paz. O mundo quer paz. Há apenas uma entidade entre todos os Estados-membros da ONU que diria agora, se pudesse interromper meu discurso, que está feliz com esta guerra", acrescentou. "Mas não vamos deixá-la prevalecer sobre nós, mesmo sendo o maior Estado do mundo [em território]."

Em uma fala de cerca de 25 minutos gravada e transmitida por vídeo, Zelenski expôs em inglês o que disse serem cinco condições inegociáveis para a paz: punição pela agressão russa, proteção da vida, restauração da segurança da Ucrânia, integridade territorial do país e garantias de segurança.

O ucraniano Volodimir Zelenski discursa por vídeo à Assembleia-Geral da ONU, em Nova York - Spencer Platt - 21.set.22/Getty Images/AFP

"Foi cometido um crime contra a Ucrânia e exigimos uma punição justa", afirmou, descrevendo que "a Rússia provocou, com sua guerra ilegal", a morte e a destruição. O líder defendeu as sanções ocidentais contra o agressor e pediu a criação de um tribunal especial da ONU para punir a Rússia —que, segundo ele, ainda deveria ser privada de seu direito de veto no Conselho de Segurança da organização.

Zelenski criticou ainda a postura russa em diferentes negociações ao longo dos quase sete meses de conflito. "Vocês provavelmente ouviram coisas da Rússia sobre as conversas, como se eles estivessem prontos para elas. Eles falam em negociar, mas anunciam mobilizações militares. Falam sobre negociar, mas anunciam pseudorreferendos". Foram as únicas citações mais diretas em relação ao pronunciamento de Vladimir Putin feito horas antes.

O ucraniano listou algumas das crises causadas pela guerra, dentre as quais o aumento do preço da energia e a escassez global de alimentos, além da ameaça de um desastre nuclear na usina de Zaporíjia, hoje dominada por soldados russos. Nesse contexto, apelou aos países que estabeleçam um teto de preço para o petróleo e o gás russos, produtos cuja exportação é apontada como fonte de renda para financiar a guerra. "Limitar preços é proteger o mundo", disse. "Mas o mundo vai aceitar? Ou vai ficar com medo?"

O líder ucraniano aproveitou para reforçar os pedidos para que o Ocidente mantenha o fornecimento de dinheiro e armamento para a Ucrânia —a ajuda dos EUA sozinha equivale a três vezes o orçamento militar de Kiev—, lembrando de Izium e Butcha.

Nas duas cidades a Ucrânia alegou a descoberta de centenas de corpos em valas comuns, alguns com marcas de tortura, segundo ele. "A Rússia quer passar o inverno [do hemisfério Norte] no território ocupado e preparar uma nova ofensiva: novas Butchas, novas Iziums."

Sem citar quais, Zelenski criticou nações que adotaram uma posição de neutralidade em relação à guerra, dizendo que ela revela, na verdade, indiferença e que serve aos países que só querem proteger seus próprios interesses. Em julho, à TV Globo, o ucraniano fez crítica parecida ao brasileiro Jair Bolsonaro (PL), que diz manter essa postura tendo em vista o comércio de fertilizantes e combustível de Moscou.

A menção ao Brasil no discurso veio, porém, em uma defesa de maior participação de países da América Latina, da Europa Central e do leste e da Ásia nas decisões da ONU. "A Rússia é um membro permanente do Conselho de Segurança. Por algum motivo, nem o Brasil nem a China nem a Turquia nem a Índia nem a Alemanha ou a Ucrânia o são."

Por fim, Zelenski criticou os países que apoiaram a Rússia no voto contrário ao pedido de transmissão de sua fala: Belarus, Cuba, Coreia do Norte, Eritreia, Nicarágua e Síria. "Só sete. Cento e um [países que votaram para permitir sua participação] e sete."

O discurso foi aplaudido de pé por cerca de 40 segundos pelos presentes na sala da Assembleia-Geral, que incluíam a primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska. O vídeo foi veiculado horas depois de Vladimir Putin afirmar que decretaria a mobilização de até 300 mil reservistas para a guerra e estaria disposto a usar armas nucleares.

O próprio Zelenski já havia se pronunciado sobre o assunto mais cedo, quando disse não acreditar que o mundo permitiria que a Rússia use esse tipo de armamento no conflito.

Outros líderes demonstraram alarme diante das ameaças de Putin. Em discurso incisivo na ONU, o americano Joe Biden condenou a linha de ação do russo, afirmando que "uma guerra nuclear não pode ser vencida, e não deve jamais ser lutada". O francês Emmanuel Macron disse que a decisão só "vai aumentar o isolamento" de Moscou. E o papa Francisco chamou a possibilidade de a Guerra da Ucrânia envolver armas nucleares de "uma loucura".

No outro eixo geopolítico, a China pediu um cessar-fogo e diálogo entre as nações em conflito. Na semana passada, o chinês Xi Jinping se encontrou com Putin no Uzbequistão. Ele tem evitado apoiar abertamente a Rússia na guerra, embora faça críticas frequentes ao Ocidente.

O pronunciamento de Putin se dá em um momento em que a Rússia acumula reveses na Ucrânia, tendo perdido a região de Kharkiv. Apesar de afirmar expressamente na transmissão que sua mensagem não era um blefe, muitos analistas encararam a fala sobretudo como uma forma de escalar a guerra.

O discurso do presidente russo foi seguido por tumulto interno. A busca por voos para sair da Rússia cresceu e o líder da oposição, Alexei Navalni, exortou protestos —que terminaram com a prisão de mais de 1.400 pessoas.

Com Reuters

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