Zelenski critica neutralidade de Bolsonaro na Guerra da Ucrânia

Presidente diz à TV Globo que conflito da Rússia é contra povo de seu país

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São Paulo

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, fez uma crítica direta ao brasileiro Jair Bolsonaro (PL), com quem teve uma conversa por telefone nesta segunda-feira (18). Ele reclamou da postura de neutralidade que o chefe do Planalto vem defendendo em declarações desde o início da guerra no Leste Europeu.

"Não apoio a posição dele de neutralidade. Não acredito que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra no mundo", disse Zelenski à TV Globo. Bolsonaro já afirmou em mais de uma ocasião que mantém essa posição, tendo em vista principalmente a alta dependência de fertilizantes da Rússia.

O presidente Volodimir Zelenski em entrevista coletiva em Kiev - Valentin Oguirenko - 11.jul.22/Reuters

Apesar das falas do presidente, em fóruns internacionais como a ONU o Brasil se posicionou de forma crítica a Moscou, condenando a ação do Kremlin em resoluções da Assembleia-Geral e do Conselho de Segurança —o país se absteve na votação que suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos.

"Vamos pensar na Segunda Guerra. Muitos líderes ficaram neutros no começo", disse Zelenski. "Isso permitiu que os fascistas engolissem metade da Europa e se expandissem mais e mais, capturando toda a Europa. Isso aconteceu devido à neutralidade. Ninguém pode ficar no meio do caminho."

O ucraniano, que destacou que a entrevista foi a primeira dele a um veículo da América Latina desde o começo do conflito, em 24 de fevereiro, relatou que disse a Bolsonaro ser grato pelo telefonema que tiveram, mas que precisava de uma posição de apoio do Brasil. "Disse: 'Se alguém amanhã atacar vocês, não ficaremos neutros'. Independentemente do histórico da nossa relação anterior com esse país que venha a capturar sua terra, matar seu povo, estuprar suas mulheres, torturar suas crianças", afirmou.

"Conto com seu povo. Não há diferença entre nossos valores, só há distância em quilômetros."

Segundo Zelenski, ao optar pela neutralidade Bolsonaro contribui para que o russo Vladimir Putin "pense que não está sozinho". Ele criticou o fato de a postura do líder brasileiro estar ligada a questões de comércio. "Outras coisas, relações comerciais, são secundárias. É preciso respeito pelo povo", finalizou.

Além da questão dos fertilizantes, neste fim de semana Bolsonaro afirmou que negociações com a Rússia para fornecimento de diesel ao Brasil por um preço "mais barato" estão bastante avançadas. Seria uma tentativa de afastar o risco de desabastecimento e conter a alta nos preços dos combustíveis.

Questionado sobre qual teria sido a resposta de Bolsonaro às suas declarações, Zelenski disse que o brasileiro afirmou apoiar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia e entender a dor do que está acontecendo com o país europeu, mas que reiterou a posição de neutralidade.

Ele ainda comparou a situação atual à de 2008, quando Moscou anexou a Crimeia. "Ninguém pode dizer 'vou ser mediador'. Mediador de quê? Na guerra? Entre quem? Não é uma guerra entre Ucrânia e Rússia, é da Rússia contra o povo ucraniano. Um país invadiu nosso território há oito anos, e nessa época havia muitas pessoas que queriam ser mediadoras e permaneceram neutras [...] Isso permitiu que a Rússia fizesse essa segunda onda de invasão."

O governo brasileiro não se pronunciou sobre o telefonema nem sobre as declarações do ucraniano à Globo. No Twitter, Zelenski havia dito ter conversado com Bolsonaro sobre a importância das negociações para destravar a exportação de grãos, dado informações sobre a situação no front e reiterado um pedido de apoio "para que nossos parceiros se juntem às sanções contra o agressor".

Foi a primeira vez que ambos os líderes se falaram desde o começo da guerra —Bolsonaro esteve com Putin em Moscou dias antes da invasão e teve ao menos um telefonema com o russo. O líder brasileiro e o Itamaraty já fizeram críticas à estratégia de sanções adotada pelo Ocidente para isolar o Kremlin.

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