Hu Jintao, 79, ex-líder da China e antecessor de Xi Jinping, foi retirado de forma inesperada da cerimônia de encerramento do Congresso do Partido Comunista, realizada neste sábado (22).
Ele estava sentado à esquerda do atual líder do país asiático quando foi levado para fora do principal auditório do Grande Salão do Povo, em Pequim, por dois seguranças. Vídeo da agência de notícias AFP mostra um deles tentando levantar Hu de sua cadeira, atraindo olhares das autoridades em volta.
Hu resiste a deixar o local, enquanto os auxiliares tentam escoltá-lo. Em certo momento, ele tenta pegar documentos que parecem pertencer a Xi, que segura a pasta com os papéis. Hu ainda tenta se sentar outra vez, sem sucesso, e, na saída, troca palavras com Xi e encosta no ombro do atual premiê, Li Keqiang.
O registro do caso, inusual, dada a organização meticulosa de eventos do tipo na China, foi amplamente compartilhado em redes sociais, mas censurado nas plataformas do país, fortemente controladas. Até mesmo o nome de Hu sumiu das buscas de redes sociais.
A cobertura da cerimônia realizada pela mídia estatal não incluiu a cena, que ocorreu no momento em que jornalistas, entre os quais de veículos internacionais, entravam no auditório. As autoridades chinesas não deram explicações para o episódio nem responderam a questionamentos da AFP.
Depois, a agência estatal Xinhua disse que "Hu insistiu em participar da sessão de encerramento apesar do fato de ter demorado a se recuperar recentemente". "Como não se sentiu bem durante a sessão, sua equipe, para preservar sua saúde, o acompanhou a uma sala para descansar. Agora ele está bem melhor."
Para o analista britânico Alex White, que viveu na China, "seja deliberado ou não, seja porque ele não estava bem, o efeito é o mesmo". "Total humilhação para a última geração de líderes antes de Xi."
Para o jornalista Bill Bishop, responsável pela newsletter Sinocism, referência na cobertura ocidental de China, a retirada de Hu é "um símbolo perfeito da dizimação absoluta da Liga da Juventude Comunista por Xi", referência à facção da qual o líder que liderou o país de 2003 a 2013 faz parte.
Ele pondera, no entanto, que a emissora estatal CCTV, ao reportar o congresso, exibiu imagens de Hu no evento antes de ser escoltado. "Se Hu tivesse sido expurgado, como especulam, duvido que a CCTV o mostrasse assim na reportagem." Bishop ainda ressalta que Hu Haifeng, filho do ex-líder e secretário do partido na cidade de Lishui, na província de Zhejiang, estava na plateia como delegado.
"Se ele não tiver problemas políticos no futuro próximo será uma indicação de que seu pai tem algum tipo de problema de saúde e não foi expurgado."
O congresso, que ocorre a cada cinco anos, foi concluído com emendas à Constituição do partido que consolidam o status central de Xi e sedimentam seu pensamento político na organização.
Neste sábado, o anúncio da lista de membros que farão parte do Comitê Central do Partido Comunista nos próximos cinco anos revelou que Li Keqiang, 67, atual premiê, e outros três integrantes da elite do Comitê Permanente —Wang Yang, 67, Han Zheng, 68, e Li Zhanshu, 72— ficarão de fora da composição da cúpula.
Já havia a expectativa de que Han Zheng e Li Zhanshu se aposentassem devido às regras de idade, algo que não atingia Li Keqiang nem Wang Yang, que chegou a ser especulado para se tornar o próximo premiê.
Também foram excluídos da lista Yi Gang, 64, chefe do Banco Central chinês, Guo Shuqing, 66, presidente do órgão regulador dos setores bancário e de seguros, e o vice-premiê Liu He, 70. O Comitê Central se reunirá a portas fechadas neste domingo para sua primeira sessão plenária, durante a qual votará as composições do próximo Politburo, formado por 25 membros, e do Comitê Permanente.
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