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Xi pode moldar mudança profunda no Partido Comunista com eleição de aliados

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Igor Patrick

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Xi Jinping pode consolidar uma mudança profunda no Partido Comunista e eleger aliados para quase metade do Comitê Central, informou o South China Morning Post citando fontes envolvidas nas negociações. Segundo o jornal, quatro das sete vagas no Comitê Permanente do Politburo também devem passar para oficiais próximos ao líder chinês.

  • O Comitê Central do PC Chinês reúne cerca 400 membros, considerados a elite política da legenda. É, em teoria, o órgão decisório mais importante na hierarquia do partido, responsável por regulamentar políticas enviadas pelo executivo e escolher membros do Politburo (e seu respectivo Comitê Permanente), órgãos encarregados da tomada de decisão;

  • O significado simbólico do Comitê, porém, é tão importante quanto suas funções práticas. Por reunir membros influentes, ele acaba funcionando como vitrine da liderança chinesa e indica quem tem chance de ascender a cargos de maior relevância.

Líder chinês, Xi Jinping chega para a sessão de abertura do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês em Pequim - Noel Celis - 16.out.22/AFP

Como líder nacional, Xi ocupará uma das cadeiras do Comitê Permanente do Politburo. O South China Morning Post indica que o secretário-geral do partido em Xangai, Li Qiang (leia mais na seção "fique de olho"), o conselheiro político de Xi, Ding Xuexiang, e os secretários-gerais das províncias de Guangzhou e Chongqing, Li Xi e Chin Miner, são os favoritos à promoção.

Nesse cenário, permaneceriam no posto o primeiro-secretário do Secretariado do Partido, Wang Huning (considerado o maior ideólogo da sigla atualmente), e o vice-premiê Wang Yang (caso não seja de fato promovido a primeiro-ministro).

Por que importa: O desenho de um Comitê Central e de um Comitê Permanente do Politburo renovados com figuras próximas a Xi garantem governabilidade quase sem oposição ao líder chinês, mas cria impasses.

Nenhum dos nomes mencionados parece ter o perfil de herdeiro político de Xi, o que em teoria abriria caminho para mais um mandato em 2028, mas também colocaria a sucessão do país em suspensão. Se morrer no cargo, Xi deixaria para trás uma intensa disputa pelo poder. Se escolher alguém agora, corre o risco de ser ignorado em prol do seu óbvio sucessor. Não será escolha fácil, mas ao menos seu legado parece preservado se as previsões se confirmarem.

O que também importa

Imagens de um protesto promovido por cidadãos de Hong Kong em frente ao consulado da China em Manchester, no Reino Unido, viralizaram na internet após denúncias de brutalidade por parte dos seguranças da instalação. O caso foi registrado no domingo (16).

Os manifestantes seguravam um cartaz mostrando Xi usando uma coroa e bermuda, representado satiricamente como um imperador. O vídeo mostra o momento em que os seguranças saem do consulado e tentam puxar um dos manifestantes pela grade, enquanto funcionários tentam rasgar o cartaz.

Funcionários do consulado da China em Manchester caminham para retirar faixa de protesto contra Xi Jinping - Matthew Leung - 16.out.22/The Chaser News/AFP

O manifestante disse à BBC que foi arrastado para dentro do consulado e espancado. O governo britânico classificou o incidente como "extremamente preocupante" e disse procurar "esclarecimentos urgentes sobre o incidente".

O porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, disse à imprensa que apresentou explicações ao Reino Unido, descrevendo o ocorrido como "assédio malicioso perpetrado por foras da lei". A polícia de Manchester abriu uma investigação para apurar o caso.

Recém escolhido líder do Executivo em Hong Kong, John Lee Ka-chiu (ou Li Jiachāo na versão chinesa) tomou posse na quarta (19) com um discurso de duas horas e meia trazendo os planos dele para a cidade.

Lee prometeu reformas nas leis fiscais e imigratórias, na tentativa de atrair jovens talentos e profissionais capacitados. Quem se formou em uma das cem melhores universidades do mundo agora poderá solicitar um visto de trabalho de dois anos, além de receber reembolsos de alguns impostos residenciais.

Ele também anunciou que Hong Kong vai estabelecer um fundo de HK$ 30 bilhões (R$ 19,9 bilhões) para coinvestimento em empresas estrangeiras interessadas em instalar filiais na cidade. Serão beneficiados empreendimentos nas áreas de inteligência artificial, ciência de dados, manufatura avançada e tecnologia em saúde.

Hong Kong luta para recuperar competitividade e se restabelecer como principal hub econômico asiático. A cidade recuperou duas posições no Índice de Competitividade Global em 2022, mas segue atrás de Singapura no ranking promovido anualmente pelo Fórum Econômico Mundial.

Fique de olho

Contrariando previsões iniciais, o secretário-geral do Partido Comunista em Xangai, Li Qiang, assumiu a dianteira e é agora o favorito ao posto de primeiro-ministro da China, informa a imprensa local. Li é bastante próximo de Xi Jinping, mas tinha perdido força internamente após a gestão desastrosa da pandemia no início deste ano.

A disputa, porém, permanece aberta com três outros fortes candidatos ao cargo:

  • Chefe do departamento de propaganda do PC Chinês, Huang Kunming é outro grande nome na lista dos protegidos de Xi Jinping. Ele trabalhou com o atual líder chinês quando Xi era governador na província de Fujian, se mudando com ele para Zheziang quando Xi foi promovido a secretário do Comitê do Partido por lá;

  • Presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Wang Yang é visto como o moderado no meio do caminho. Fiel a Xi e próximo do atual premiê, Li Keqiang, Wang é considerado um oficial mais experiente. Contra ele pesa a idade (67 anos), e a imprensa especula que ele pode caminhar para a aposentadoria;

  • Seguindo a tradição, o vice-premiê Hu Chunhua seria a escolha óbvia. Protegido do ex-líder chinês Hu Jintao e do próprio Li Keqiang, Hu é ligado à Juventude Comunista, uma das facções mais poderosas dentro do partido. Com a consolidação do poder de Xi, porém, é provável que acabe ficando fora do páreo.

Por que importa: Os sete novos membros do Comitê Permanente do Politburo —coração da hierarquia política chinesa— só serão conhecidos ao final do congresso, marcado para domingo (23). O novo premiê estará na lista e pode representar o melhor termômetro de como foram as discussões internas dentro do PC Chinês e quais serão suas prioridades nos próximos cinco anos.

Se confirmar o favoritismo e ocupar o cargo de premiê, Li Qiang indicará um poder interno de Xi muito mais ostensivo do que se previa. Em toda a história, apenas Zhou Enlai (um dos fundadores da China comunista) e Hua Guofeng (herdeiro de Mao Tse-tung) conseguiram a promoção para primeiro-ministro sem servirem como vice-premiê antes. Quebrar esta regra indicaria quão influente Xi se tornou.

Para ir a fundo

  • Xi Jinping abriu o Congresso Nacional do Partido com um discurso de quase uma hora e meia. Para quem não conseguiu acompanhar (ou não entendeu), preparei um guia no blog na Folha explicando os principais pontos abordados por ele. (paywall poroso, em português)
  • O Instituto Confúcio da Unesp e a Associação Brasileira das Empresas Chinesas estão promovendo uma feira de recrutamento para quem quer trabalhar para companhias do país. O evento é presencial e acontece em São Paulo no próximo dia 6. Inscrições aqui.(gratuito)
  • O South China Morning Post publicou uma reportagem analisando quais serão as consequências dos resultados nas eleições brasileiras para as relações com a China. (paywall poroso, em inglês)
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