Descrição de chapéu China

Vaticano renova contestado acordo com China sobre nomeação de bispos

Trato, alvo de críticas devido a concessões a Pequim, precisa ser restabelecido a cada dois anos

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Cidade do Vaticano | Reuters

O Vaticano confirmou neste sábado (22) a renovação do contestado acordo com a China em torno da indicação de bispos da Igreja Católica no país asiático. Trata-se da segunda vez que o trato, que segue com caráter provisório, é estendido por mais dois anos —o pacto foi estabelecido em 2018.

Antes, bispos e padres contavam apenas com o endosso da chamada Associação Patriótica Católica Chinesa, que, em última instância, responde às autoridades chinesas, não ao papa.

Wang Yang, membro do comitê do Politburo chinês, durante encontro com novas lideranças da Associação Patriótica Católica Chinesa e bispos da Conferência da Igreja Católica na China, em Pequim
Wang Yang, membro do comitê do Politburo chinês, durante encontro com novas lideranças da Associação Patriótica Católica Chinesa e bispos da Conferência da Igreja Católica na China, em Pequim - Gao Jie - 23.ago.22/Xinhua

O acordo foi uma tentativa de aliviar uma divisão de longa data na porção continental da China entre um rebanho clandestino leal ao Vaticano e a igreja oficial apoiada pelo Estado. Pela primeira vez desde a década de 1950, ambos os lados reconheceram o papa como líder supremo da Igreja Católica.

Críticos, como o cardeal Joseph Zen, 90, ex-arcebispo de Hong Kong, denunciam o movimento como uma traição frente a Pequim. Ele enfrenta um julgamento devido ao uso de uma instituição de caridade em prol de manifestantes pró-democracia, e muitos acusam o Vaticano de não fazer o suficiente para defendê-lo.

O pacto com a China está centrado na cooperação para a nomeação de bispos no país, dando ao papa Francisco a decisão final. Apenas seis novos líderes religiosos foram indicados desde que o acordo foi assinado, o que críticos dizem ser uma prova de que o trato não está produzindo os efeitos desejados.

Eles também denunciam o crescimento de restrições a liberdades religiosas para cristãos e outras minorias no país asiático. Em entrevista à agência de notícias Reuters, em julho, Francisco reconheceu que o acordo "caminha lentamente", mas defendeu a posição de que a Igreja Católica precisa ter uma visão de longo prazo na China e que um diálogo imperfeito é melhor do que não ter nenhum diálogo.

O pontífice comparou os opositores aos que criticaram os papas João 22 e Paulo 6º nos 1960 e 1970 em razão de acordos muitas vezes desconfortáveis estabelecidos com países comunistas do Leste Europeu para manter a igreja viva durante a Segunda Guerra e limitar a perseguição a cristãos nesses locais.

O Vaticano insiste que o trato com a China envolve apenas a estrutura da igreja no país e que não se trata de uma porta de entrada para estabelecer relações diplomáticas totais, o que faria com que as lideranças católicas tivessem de cortar laços com Taiwan, ilha que Pequim considera uma província rebelde.

A renovação do acordo ocorre no momento em que o Partido Comunista Chinês se reúne no congresso realizado a cada cinco anos, a agenda política mais importante na nação asiática. Desta vez, o evento está aprovando emendas que sedimentam o controle do líder Xi Jinping sobre a sigla.

No mês passado, o Vaticano tentou marcar um encontro entre Xi, 69, e o papa Francisco, 85, quando ambos os líderes estavam no Cazaquistão, mas a China recusou o convite.

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