O Vaticano confirmou neste sábado (22) a renovação do contestado acordo com a China em torno da indicação de bispos da Igreja Católica no país asiático. Trata-se da segunda vez que o trato, que segue com caráter provisório, é estendido por mais dois anos —o pacto foi estabelecido em 2018.
Antes, bispos e padres contavam apenas com o endosso da chamada Associação Patriótica Católica Chinesa, que, em última instância, responde às autoridades chinesas, não ao papa.
O acordo foi uma tentativa de aliviar uma divisão de longa data na porção continental da China entre um rebanho clandestino leal ao Vaticano e a igreja oficial apoiada pelo Estado. Pela primeira vez desde a década de 1950, ambos os lados reconheceram o papa como líder supremo da Igreja Católica.
Críticos, como o cardeal Joseph Zen, 90, ex-arcebispo de Hong Kong, denunciam o movimento como uma traição frente a Pequim. Ele enfrenta um julgamento devido ao uso de uma instituição de caridade em prol de manifestantes pró-democracia, e muitos acusam o Vaticano de não fazer o suficiente para defendê-lo.
O pacto com a China está centrado na cooperação para a nomeação de bispos no país, dando ao papa Francisco a decisão final. Apenas seis novos líderes religiosos foram indicados desde que o acordo foi assinado, o que críticos dizem ser uma prova de que o trato não está produzindo os efeitos desejados.
Eles também denunciam o crescimento de restrições a liberdades religiosas para cristãos e outras minorias no país asiático. Em entrevista à agência de notícias Reuters, em julho, Francisco reconheceu que o acordo "caminha lentamente", mas defendeu a posição de que a Igreja Católica precisa ter uma visão de longo prazo na China e que um diálogo imperfeito é melhor do que não ter nenhum diálogo.
O pontífice comparou os opositores aos que criticaram os papas João 22 e Paulo 6º nos 1960 e 1970 em razão de acordos muitas vezes desconfortáveis estabelecidos com países comunistas do Leste Europeu para manter a igreja viva durante a Segunda Guerra e limitar a perseguição a cristãos nesses locais.
O Vaticano insiste que o trato com a China envolve apenas a estrutura da igreja no país e que não se trata de uma porta de entrada para estabelecer relações diplomáticas totais, o que faria com que as lideranças católicas tivessem de cortar laços com Taiwan, ilha que Pequim considera uma província rebelde.
A renovação do acordo ocorre no momento em que o Partido Comunista Chinês se reúne no congresso realizado a cada cinco anos, a agenda política mais importante na nação asiática. Desta vez, o evento está aprovando emendas que sedimentam o controle do líder Xi Jinping sobre a sigla.
No mês passado, o Vaticano tentou marcar um encontro entre Xi, 69, e o papa Francisco, 85, quando ambos os líderes estavam no Cazaquistão, mas a China recusou o convite.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.