Irã determina investigação de massacre que teria deixado 82 mortes em meio a protestos

Segundo Anistia Internacional, policiais atiraram na cabeça e no coração de manifestantes

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São Paulo

O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, ordenou nesta quinta-feira (6) a abertura de investigações sobre um confronto entre policiais e manifestantes que teria deixado dezenas de mortos na cidade de Zahedan, no sudeste do país. O caso ocorreu na última sexta (30), na esteira dos protestos que já duram três semanas em várias cidades da nação muçulmana.

Segundo Teerã, foram 20 mortos, incluindo seis policiais e o chefe regional da inteligência da Guarda Revolucionária —braço militar responsável por, entre outras coisas, conduzir operações no exterior.

Presidente do Irã, Ebrahim Raisi, fala em entrevista televisionada na capital Teerã
Presidente do Irã, Ebrahim Raisi, fala em entrevista televisionada na capital Teerã - Presidência Iraniana -28.set.22/AFP

A Anistia Internacional, porém, disse nesta quinta que 82 pessoas morreram, sendo 16 vítimas de confrontos em outras áreas de Zahedan –centenas ficaram feridas. A organização frisa que algumas pessoas morreram dias após o massacre devido aos baixos estoques de sangue, curativos e suprimentos médicos. Outras ainda estão gravemente internadas.

Segundo o órgão, as forças de segurança dispararam, do telhado de uma delegacia, "munição real e gás lacrimogêneo" contra manifestantes reunidos em frente ao local. "As provas colhidas mostram que a maioria das vítimas foi atingida por balas na cabeça, no coração, no pescoço e no tronco, revelando clara intenção de matar ou ferir gravemente."

A agência de notícias AFP, seguindo a retórica de organizações de direitos humanos, chamou o episódio de "Sexta-Feira Sangrenta" —referência direta a outros massacres, como os "domingos sangrentos" do Império Russo e da Irlanda do Norte e a "sexta sangrenta" da ditadura militar do Brasil. .

A mídia próxima ao regime iraniano descreveu os confrontos como "incidente terrorista", e Teerã acusou o grupo rebelde sunita Jaish al-Adl de estar por trás das mortes. O líder da minoria sunita na província de Sistão-Baluchistão –onde está Zahedan–, porém, rejeitou o envolvimento da organização. Segundo ele, na última sexta, "um grupo de soldados, a pé e em veículos, disparou contra pessoas reunidas ao redor de uma mesquita, matando e ferindo vários jovens".

A província, na fronteira com Paquistão e Afeganistão, é uma região pobre, onde com frequência ocorrem atentados e confrontos entre forças de segurança e grupos armados. A área abriga a minoria baluchi, que adere principalmente ao islamismo sunita, não ao xiismo dominante do Irã.

Militantes e ONGs há muito lamentam que a região sofra discriminação por parte do establishment religioso xiita, com um número desproporcional de baluchis mortos anualmente em confrontos com as autoridades ou condenados e executados. A Anistia estima que em 2021 ao menos 19% de todos os condenados à morte eram baluchis, ainda que a etnia represente menos de 5% da população do país.

O regime indicou em comunicado que o ministro do Interior, Ahmad Vahidi, foi ao local nesta quinta por ordem do presidente para liderar uma investigação sobre as causas da violência ocorrida.

O diretor da ONG Baluch Activists Campaign (BAC), Abdullah Aref, disse à AFP que na sexta os manifestantes foram à delegacia protestar e, no local, gritaram palavras de ordem contra o aiatolá Ali Khamenei. Alguns teriam atirado pedras nos policiais, que responderam com tiros. Segundo o ativista, "muitas pessoas foram mortas por franco-atiradores, incluindo pessoas que não participaram do ato".

A violência em Zahedan ocorre enquanto o Irã enfrenta uma onda de protestos após a morte de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos, ainda em 16 de setembro. Ela sob custódia da polícia em Teerã, após ter sido detida por supostamente não usar o véu islâmico como dita o rígido código de vestimenta do país. A família diz que ela foi espancada, mas as forças de segurança alegam um mal súbito.

Desde então, 154 pessoas morreram em manifestações, segundo a organização Direitos Humanos no Irã.

Com AFP

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