Descrição de chapéu União Europeia

Itália elege anti-LGBT para presidir Câmara e fã de Mussolini para chefiar Senado

Lorenzo Fontana disse considerar Vladimir Putin 'luz brilhante'; Ignazio La Russa é expoente da ultradireita

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Roma | Reuters e AFP

Um político pró-Rússia e anti-LGBTQIA+ foi eleito presidente da Câmara dos Deputados da Itália nesta sexta-feira (14), um dia depois de um fã de Mussolini se tornar presidente do Senado.

A escolha dos nomes para comandar o Parlamento sinaliza um perfil mais radical para o virtual governo de Giorgia Meloni, apesar de sua tentativa de passar uma imagem de moderada durante a campanha.

Eleito para chefiar a Câmara com 222 votos de um total de 400, Lorenzo Fontana é filiado à Liga, partido de ultradireita integrante da coligação que elegeu Meloni. Figura controversa na Itália, o político de 42 anos é conhecido por posições socialmente conservadoras e eurocéticas. "Precisamos recuperar um pouco do orgulho de quem somos", disse ele ao Parlamento nesta sexta.

Lorenzo Fontana no Parlamento italiano, após ser eleito presidente da Câmara - Alberto Pizzoli - 14.out.22/AFP

Católico e radicalmente contra o aborto, Fontana já ocupou o cargo de ministro da Família, entre 2018 e 2019. Durante o mandato, afirmou que famílias gays não existem e que todas as crianças devem ter um pai e uma mãe, defendendo que filhos de casais homoafetivos nascidos no exterior não fossem reconhecidos na Itália. Ele também afirmou que o casamento gay e a imigração em massa ameaçavam as tradições italianas.

Fontana já pediu a revogação de uma lei antifascista e antirracista instaurada em 1993 que torna crime propagar ideias baseadas em superioridade ou ódio racial e étnico.

Ele também admira Vladimir Putin, a quem disse considerar "uma luz brilhante até para nós no Ocidente". Após a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, pediu repetidas vezes o fim das sanções impostas pela União Europeia contra Moscou. Anos mais tarde, em referência ao presidente russo, disse ter ficado "favoravelmente impressionado pelo grande despertar religioso cristão visto em seu país".

Já o presidente do Senado, Ignazio La Russa, eleito nesta quinta-feira (13) com 116 votos de um total de 200, é expoente histórico da ultradireita italiana e cofundador do partido Irmãos da Itália, junto com Giorgia Meloni.

Ignazio La Russa fala para o Senado após ser eleito presidente da casa, em Roma - Andreas Solaro - 13.out.22/AFP

La Russa, 75, foi ministro da Defesa do governo de Silvio Berlusconi (2008-2011) e era vice-presidente do Senado desde 2018.

Sua ligação com Benito Mussolini vem de família, dado que seu pai foi secretário do partido fascista do ditador. La Russa —cujo nome do meio é Benito— iniciou sua carreira política na ala jovem do Movimento Social Italiano, partido fundado em 1946 por admiradores do líder fascista. Em um vídeo de 2018, ele mostra a repórteres bustos, fotos, medalhas e miniestátuas de Mussolini que guarda em casa.

A título de simbolismos, a sessão que elegeu o novo chefe do Senado foi inicialmente presidida pela parlamentar mais velha da legislatura, Liliana Segre, 92, uma sobrevivente do Holocausto, que fez críticas ao fascismo que matou sua família.

Ao tomar posse, La Russa agradeceu aos votos que recebeu, inclusive dos senadores que não fazem parte da maioria da direita na casa, e disse que não se deve temer mudar a Constituição —seu partido pretende mudar o sistema político do país do parlamentarismo para o presidencialismo.

Meloni deve ser nomeada primeira-ministra antes do final do mês, pela coalizão de partidos conservadores que venceu o pleito de setembro —seu Irmãos da Itália, a Liga de Matteo Salvini e o Força, Itália, do ex-premiê Berlusconi.

Montar um governo, contudo, está se mostrando mais difícil do que o esperado, com Berlusconi particularmente furioso pela recusa de Meloni em satisfazer seus pedidos de cargos importantes no gabinete.

O estado de humor do político ficou claro em uma foto de um bilhete escrito por ele no Parlamento, na quinta. "Giorgia Meloni, seu comportamento 1) arrogante, 2) dominador, 3) arrogante, 4) ofensivo. Sem vontade de mudar, ela é alguém com quem você não pode se dar bem", dizia a nota, cuja imagem se espalhou nas redes sociais.

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