Meloni diz que fará governo pró-Europa e pró-Otan na Itália

Provável primeira-ministra manda recado a Silvio Berlusconi, depois de aliado defender Vladimir Putin em áudios

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Roma | Reuters

Na expectativa de ser confirmada como primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni deu nesta quarta-feira (19) um recado aos partidos que compõem a coalizão de ultradireita que deve liderar o governo —o Força, Itália, de Silvio Berlusconi, e a Liga, de Matteo Salvini.

A administração, segundo ela, será pró-Otan, aliança militar ocidental, e pró-Europa e qualquer partido que discorde dessa linha de política externa não deve se juntar à nova gestão, cuja posse é esperada para a próxima semana.

"A Itália conosco no governo nunca será o elo fraco no Ocidente", disse Meloni, líder e fundadora do partido Irmãos da Itália. "Em uma coisa eu fui, sou e sempre serei clara. Pretendo liderar um governo com uma linha de política externa clara e inequívoca. Quem não concorda com essa pedra fundamental não pode fazer parte do governo."

Giorgia Meloni durante encontro com parlamentares de seu partido Irmãos da Itália, em Roma - Guglielmo Mangiapane -10.out.22/Reuters

O recado vem após Berlusconi, amigo de longa data do presidente russo Vladimir Putin, reiterar em áudios sua simpatia pelo político e acusar o ucraniano Volodimir Zelenski de também provocar a guerra no Leste Europeu.

Meloni tem defendido a Ucrânia desde a invasão da Rússia, em fevereiro, e apoia as sanções ocidentais contra Moscou.

Em um áudio vazado nesta terça (18), Berlusconi revelou a parlamentares do Força, Itália que voltou a ter contato com Putin, com quem trocou "cartas gentis" e presentes. Em uma segunda gravação, divulgada pela agência de notícias LaPresse, o ex-premiê afirmou que Kiev melou um acordo de paz de 2014, projetado para encerrar a luta separatista de russófonos na região do Donbass.

Repetindo acusações de Putin negadas pela Ucrânia, Berlusconi disse que Zelenski piorou muito a situação quando chegou ao poder, em 2019. Horas depois da divulgação do primeiro áudio, o Força, Itália afirmou que a visão do político sobre a guerra estava "alinhada com a posição da Europa e dos EUA".

Opositores, porém, aproveitaram as gravações para acusar Berlusconi de minar a credibilidade de Meloni. "Os comentários são muito graves e incompatíveis com as posições italianas e europeias", disse Enrico Letta, líder do Partido Democrata, de centro-esquerda.

Os próximos dias serão de formalidades necessárias para a oficialização do novo governo. De acordo com a Constituição, o presidente Sergio Mattarella deve consultar os principais líderes de partidos antes de convidar os vencedores das eleições para formar uma administração —ele deve se encontrar com as siglas que estarão na oposição na quinta (20) e com as que devem compor o governo na sexta (21).

O novo gabinete deve ser empossado entre sábado (22) e segunda (24), segundo o líder da Liga, Matteo Salvini, e começar oficialmente a governar em 26 de outubro, depois de ganhar um voto de confiança obrigatório do Parlamento.

Como o Irmãos da Itália, de Meloni, conquistou o maior número de assentos na votação de 25 de setembro, ela vai liderar o novo governo. Contudo, mesmo com a maioria consistente nas eleições, montar um gabinete tem se mostrado mais difícil do que o esperado, com Berlusconi particularmente furioso com a recusa de Meloni em satisfazer suas demandas sobre cargos-chave.

O novo governo, que substitui o liderado pelo primeiro-ministro Mario Draghi, terá de lidar com o aumento da inflação e as preocupações com os altos custos da energia no inverno.

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