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Protestos contra filho de ditador no Chade deixam 50 mortos e agravam crise

População foi às ruas exigir transição democrática depois de adiamento das eleições

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Ndjamena | Reuters

Ao menos 50 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas após manifestações em defesa da democracia na capital do Chade, Ndjamena, nesta quinta-feira (20). Os dados foram divulgados pelas autoridades, e relatos de agências de notícias falam em mais de 60 óbitos.

Os manifestantes foram às ruas pedir uma transição mais veloz para um regime democrático depois que a junta militar que governa o país anunciou, na semana passada, o adiamento das eleições gerais para 2024 —o pleito a princípio aconteceria nesta quinta.

Protesto contra o regime em Ndjamena, capital do Chade - Juda Allahondoum - 20.out.22/Le Visionnaire/Reuters

A violência começou quando os manifestantes incendiaram a sede do partido do atual primeiro-ministro e líder de uma administração interina recém-anunciado, Saleh Kebzabo, e ergueram barricadas nas ruas. A polícia então lançou bombas de gás lacrimogêneo e atirou balas de borracha para dissipar os atos espalhados pela cidade.

O regime afirma que as forças de segurança agiram em autodefesa. "O que houve foi um levante popular armado para tomar o poder pela via da força, e aqueles responsáveis por essa violência enfrentarão a Justiça", afirmou o premiê em pronunciamento à imprensa, acrescentando que os manifestantes portavam armas de fogo e são considerados rebeldes.

Kebzabo assumiu o posto de primeiro-ministro na semana passada, liderando com isso um dito "governo de unidade nacional" que teria como objetivo liderar o Chade pelos próximos dois anos. Ele é um inimigo histórico do ditador Idriss Déby —que, morto em 2021, foi sucedido por seu filho, Mahamat Idriss Déby.

Déby pai comandava o país do centro-norte africano desde um golpe de Estado em 1990, que tirou do poder outro ditador, Hissène Habré.

Em abril do ano passado, o político venceu a sexta eleição consecutiva, amplamente contestada pela oposição e por grupos que lançaram uma ofensiva militar após acusações de uma escalada autoritária. Na sequência do pleito, o ditador foi para a guerra lutar contra os rebeldes e morreu no campo de batalha dias depois.

Pela Constituição, quem deveria sucedê-lo nesses casos é o chefe da Assembleia Nacional, mas não foi o que aconteceu. Um grupo de 15 generais criou um Conselho Militar de Transição, que dissolveu o Congresso e colocou Déby filho para liderar a nação por 18 meses, quando prometeu convocar eleições.

O processo foi visto como um golpe, já que as regras de sucessão não foram respeitadas. Se parte do país já manifestava insatisfação com o pai, a nomeação do filho para liderar o Chade sem novas eleições inflamou os protestos, que foram reprimidos de forma violenta e deixaram mortos e centenas de pessoas presas. A ofensiva dos rebeldes se mantinha em campo até maio, quando foi derrotada pela junta militar.

A tomada de poder foi apoiada por aliados do país como a França, da qual o Chade foi colônia até 1960. O ministro das Relações Exteriores francês à época, Jean-Yves Le Drian, afirmou que havia "razões de segurança excepcionais que precisavam ser garantidas para estabilizar o país".

A violência dos policiais vista nos atos desta quinta foi condenada pelo país europeu, no entanto.

O regime tenta dar um ar de normalidade ao país assolado por miséria e fome. Em setembro, nomeou uma nova Assembleia Nacional —que não foi eleita, mas escolhida pela junta. Dois meses depois, anistiou 296 pessoas que haviam sido acusadas durante os protestos por crimes de opinião, terrorismo e dano à integridade do Estado.

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