Protestos no Irã chegam a escolas e interrompem aulas

Em registros nas redes sociais, alunas mostram dedo do meio para líderes islâmicos e pedem 'morte ao ditador'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Os protestos pelos direitos das mulheres no Irã, disparados após a morte da jovem Mahsa Amini, chegaram às salas de aula do país. Fotos e vídeos de manifestações realizadas em instituições de ensino circularam nas redes sociais nesta terça-feira (4).

Em uma delas, ao menos seis garotas sem véu mostram o dedo do meio para o retrato dos dois líderes supremos que conduziram o regime desde a Revolução –o aiatolá Khomeini, morto em 1989, e o atual aiatolá Ali Khamenei. A legislação iraniana obriga o uso do hijab, o véu islâmico, por mulheres com 9 anos ou mais.

Estudantes iranianas mostram dedo do meio para retrato de líderes do país, aiatolá Khomeini, morto em 1989, e o atual aiatolá, Ali Khamenei
Estudantes iranianas mostram dedo do meio para retrato de líderes do país, aiatolá Khomeini, morto em 1989, e o atual aiatolá, Ali Khamenei - @SlavaUk30722777 no Twitter

Outros registros publicados no Twitter mostram dezenas de meninas confrontando autoridades do país e protestando no pátio de uma escola, com gritos de "não queremos uma República Islâmica" e "morte ao ditador". Uma das manifestações teria ocorrido na cidade de Karaj, de 1,6 milhão de pessoas, mas a localização de todas não pôde ser verificada de forma independente.

Desde o início dos protestos, em geral liderados por mulheres, um grito de origem curda se tornou palavra de ordem: "Mulheres, vida e liberdade". Disparados pela morte da curda Mahsa Amini, 22, sob a custódia da polícia moral do Irã por supostamente não usar o hijab em Teerã, os atos são a maior demonstração de oposição ao regime em anos, com muitos pedindo o fim do regime em vigor desde 1979.

O número de vítimas na repressão às manifestações é incerto. Enquanto na semana passada a TV estatal havia confirmado a morte de 41 pessoas, incluindo membros das forças de segurança, a contagem mais atualizada da ONG Direitos Humanos do Irã é de 133 óbitos. Cerca de 1.500 pessoas já teriam sido presas.

Segundo o jornal britânico The Guardian, estudantes protestaram na segunda (3) contra as prisões em massa em Teerã. Um dia antes, centenas de alunos de uma universidade da capital foram presos. De acordo com a agência de notícias local Mehr, a polícia usou gás lacrimogêneo e armas de paintball com balas de aço não letais para conter os cerca de 200 universitários. Muitos foram feridos, segundo imagens e vídeos divulgados nas redes sociais.

"A Universidade Sharif se tornou uma prisão e a prisão de Evin se tornou uma universidade", gritaram. A instituição suspendeu as aulas desde então.

A repressão coordenada pelo regime iraniano, segundo o Guardian, também foi criticada por um jornal alinhado a Teerã. Em editorial, o periódico Jomhuri Eslami defendeu que "nem inimigos estrangeiros nem a oposição doméstica podem levar as cidades a um estado de revolta sem um fundo de descontentamento". Segundo a publicação, "a negação desse fato não ajudará [o regime]".

A posição contesta os argumentos de Khamenei, que em discurso na segunda-feira alegou que os atos têm por trás forças estrangeiras que visam desestabilizar o Irã. Grandes potências ocidentais anunciaram nos últimos dias a expansão da série de sanções contra o país.

Nesta terça, o governo francês disse que a União Europeia estuda congelar os ativos de autoridades iranianas envolvidas na repressão aos manifestantes e proibir suas viagens para o continente. Desde 2013, nenhum iraniano é adicionado à lista de sanções do bloco –na esteira das negociações para um acordo nuclear.

Ao Parlamento francês, a ministra de Relações Exteriores Catherine Colonna disse que as novas medidas poderiam atingir autoridades que enviam seus filhos para viver em países ocidentais. Diplomatas afirmam que as medidas devem ser ratrificadas em uma reunião da UE em 17 de outubro.

Na segunda, o Canadá também anunciou novas sanções contra o Irã, que se baseiam nas já existentes. O governo listou como alvo 25 indivíduos e nove entidades, incluindo funcionários da Guarda Revolucionária, dos ministérios de Inteligência e Segurança e da polícia moral. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse em comunicado estar "seriamente preocupado" com os relatos da intensificação da repressão e prometeu uma resposta rápida.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.