Descrição de chapéu União Europeia

Líder supremo do Irã refaz acusações contra EUA e Israel por protestos no país

Ali Khamenei fala pela 1ª vez sobre caso Mahsa Amini; Europa planeja reforçar sanções devido a repressão

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Dubai | Reuters e AFP

Seis nações da União Europeia (UE) planejam impor 16 novas sanções do bloco ao Irã por sua violenta repressão aos protestos pelos direitos das mulheres ocorridos no país desde meados de setembro. A notícia foi publicada pela revista Der Spiegel nesta segunda-feira (3), a partir de informações de uma fonte do Ministério das Relações Exteriores alemão.

Mulheres protestam contra a morte de Mahsa Amini em frente ao escritório da ONU em Erbil, capital da região autônoma do Curdistão no Iraque - Safin Hamed - 24.set.22/AFP

Além da Alemanha, os outros países que defendem as sanções são França, Itália, Espanha, Dinamarca e República Tcheca. As medidas propostas têm como alvo pessoas e instituições diretamente responsáveis pelo combate às manifestações e serão apresentadas em uma reunião da UE prevista para 17 de outubro —quando devem ser aprovadas de forma unânime, ainda segundo a revista.

Em postagem no Twitter nesta segunda, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, afirmou que a repressão do Irã à onda de insatisfação popular expressa o medo que o regime tem "da educação e do poder da liberdade".

"É difícil lidar com o fato de que nossas opções de política externa são limitadas", escreveu ela. "Mas podemos amplificar essas vozes, criar conscientização pública, fazer acusações e aplicar sanções. E isso estamos fazendo."

Além do bloco europeu, o Canadá anunciou nesta segunda novas sanções contra o Irã, que se baseiam nas já existentes. O governo do primeiro-ministro Justin Trudeau listou como alvo 25 indivíduos e nove entidades, incluindo funcionários da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC), os ministérios de Inteligência e Segurança e a polícia moral.

"A perseguição sistemática e contínua das mulheres iranianas deve parar", disse a chanceler canadense, Melanie Joly. "O Canadá aplaude a coragem e as ações dos iranianos e os apoiará enquanto lutam por seus direitos e dignidade."

Alguns especialistas afirmam, no entanto, que sanções têm impacto limitado e não são suficientes para promover reformas significativas.

Também nesta segunda, o presidente americano, Joe Biden, disse em comunicado estar "gravemente preocupado" com os relatos da intensificação da repressão e prometeu uma resposta rápida. "Os EUA vão impor mais custos aos perpetradores de violência contra manifestantes pacíficos. Continuaremos responsabilizando as autoridades iranianas e apoiando os direitos dos iranianos de protestar livremente."

Em outra frente, o Reino Unido afirmou ter convocado o encarregado de negócios iraniano —principal diplomata do regime no país— para tratar da repressão aos protestos.

Iniciados com a morte de Mahsa Amini, 22, sob a custódia da polícia moral do Irã por supostamente não usar hijab, o véu islâmico, os protestos são a maior demonstração de oposição ao regime em anos, com muitos dos manifestantes pedindo o fim da teocracia em vigor no país desde 1979.

O governo, por sua vez, alega que os atos são planejados por forças estrangeiras para desestabilizar o Irã. As acusações foram repetidas pelo líder supremo do regime, o aiatolá Ali Khamenei, nesta segunda, em seu primeiro pronunciamento sobre os protestos.

À mídia estatal, ele afirmou que a onda não foi idealizada por "iranianos comuns" e sim pelos arqui-inimigos do país, EUA e Israel, e que as forças de segurança são injustiçadas. "Aqueles que atacam a polícia estão deixando os cidadãos do Irã vulneráveis a bandidos, ladrões e aproveitadores", disse.

O aiatolá ainda descreveu a morte de Amini como um "incidente amargo", que "partiu profundamente" o seu coração.

O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, em evento em Teerã - Khamenei.IR - 21.set.22 / AFP

O número de vítimas nas manifestações até agora é incerto. Enquanto na semana passada a TV estatal havia confirmado a morte de 41 pessoas, incluindo membros das forças de segurança, a contagem mais atualizada da ONG Direitos Humanos do Irã é de 133 óbitos.

No domingo, houve mais um episódio de repressão, com a prisão de dezenas de estudantes que protestavam contra a morte de Amini em uma universidade proeminente de Teerã.

Segundo a agência de notícias Mehr, os cerca de 200 universitários reunidos no local foram combatidos pela polícia com gás lacrimogêneo e armas de paintball ou carregadas com balas de aço não letais. Muitos foram feridos, segundo imagens e vídeos divulgados nas redes sociais.

Estudantes protestam contra a morte de Mahsa Amini sob custódia da polícia moral do Irã em frente a uma universidade em Teerã - UGC - 1º.out.22/AFP

Amini, jovem da cidade curda de Saqez, foi presa neste mês pela polícia moral em Teerã por supostamente não usar adequadamente o véu islâmico —os agentes são responsáveis por aplicar normas do rígido código de vestimenta da República Islâmica para mulheres.

Policiais alegaram que Amini sofreu um ataque cardíaco após ser detida e negam que ela tenha sido agredida. Ativistas afirmam, no entanto, que a abordagem policial em casos do tipo tem sido violenta, muitas vezes com espancamentos, e integrantes da própria família da jovem acusam as autoridades de mentirem, impedindo-os de ler o relatório de autópsia ou ver o seu corpo após a morte.

No Irã, após a Revolução de 1979, que abriu espaço para um regime teocrático, a lei passou a afirmar que mulheres são obrigadas a cobrir seus cabelos com o véu e usar roupas largas para encobrir o formato de seus corpos. Aquelas que descumprem a norma enfrentam repreensões públicas, multas e mesmo a prisão.

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