Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia retoma ataques contra sistema energético da Ucrânia

Moscou prossegue campanha para degradar infraestrutura do vizinho antes do inverno

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Rússia fez um amplo ataque com mísseis de cruzeiro e balísticos contra a infraestrutura energética da Ucrânia nesta segunda (31), dando continuidade à sua tática de pressionar o vizinho com blecautes e falta de água enquanto o inverno do Hemisfério Norte se aproxima.

Segundo o governo ucraniano, houve explosões relatadas em pelo menos dez cidades. A Força Aérea relatou ter interceptado 44 de 50 projéteis, mas a conta não fecha com o número de alvos atingidos —principalmente centrais ligadas a hidrelétricas e centros de distribuição de energia. Algumas regiões estão sem luz.

Fumaça sobe após ataque com míssil na periferia de Kiev, capital da Ucrânia, nesta segunda (31)
Fumaça sobe após ataque com míssil na periferia de Kiev, capital da Ucrânia, nesta segunda (31) - Vladislav Sodel/Reuters

Na capital, Kiev, uma grande explosão foi filmada. Moradores se esconderam no metrô da cidade durante a ação, ocorrida no começo da manhã, a hora do rush (madrugada no Brasil). O governador da região homônima, Oleskii Kuleba, afirmou haver ao menos um morto.

Os mísseis de cruzeiro foram lançados de bombardeiros estratégicos Tu-160 e Tu-95 voando em espaço aéreo russo sobre o mar Cáspio e a região de Rostov.

Nesta nova fase da guerra, o governo de Vladimir Putin tem buscado degradar a rede energética do vizinho, como tática de desmoralizar suas forças e dificultar a montagem de novas contraofensivas: o sucesso da retomada de Kharkiv e as ameaças contra linhas russas em Kherson e Donetsk deram lugar ao longo deste mês a uma disputa mais estática.

A tentativa de estabilização da frente nas quatro regiões que Putin anexou em setembro foi acompanhada pela mobilização de 300 mil reservistas, completada na sexta (28). Segundo o Ministério da Defesa russo, 80 mil já foram enviados para a Ucrânia. Não há como verificar isso de forma independente nem avaliar o grau de treinamento desses soldados.

Seja como for, autoridades em Moscou ouvidas pela Folha na semana passada afirmam que os reforços já se fizeram sentir e que a destruição da infraestrutura ucraniana é apenas o começo de uma guerra mais brutal. Com efeito, Putin disse na tarde desta segunda que os novos ataques não são "tudo o que podemos fazer".

A nova tática foi implementada a partir da cereja do bolo das más notícias de setembro e outubro, o ataque contra a ponte que liga a Crimeia ao território continental russo, obra de 2018 que coroou a anexação promovida por Putin quatro anos antes como reação à destituição do governo aliado da Rússia em Kiev.

"Não foi eu quem deu um golpe em 2014", disse o presidente na quinta (27), em encontro com analistas internacionais, deixando claras a visão dos fatos e a linha do tempo que ele usa para descrever os eventos que levaram à invasão.

Neste fim de semana, a tensão mais ampla do conflito foi elevada com o ataque a navios da Frota do Mar Negro em sua base crimeia, em Sebastopol.

Ao menos um caça-minas foi danificado, mas imagens quase de videogame de um drone marítimo se aproximando de uma fragata sugerem que a nau-capitânia local, a Almirante Makarov, pode ter sido atingida. Seu antecessor no posto de navio principal da frota, o cruzador Moskva, foi afundado perto da costa ucraniana em abril.

A Rússia acusou diretamente o Reino Unido de montar a ação e fez uma alegação ainda mais grave: Londres estaria por trás das explosões que danificaram 3 dos 4 ramos do sistema de gasodutos russo-alemão Nord Stream.

Os britânicos negaram, mas a retaliação imediatada de Moscou foi suspender o acordo de escoamento de grãos ucranianos a partir de seus portos remanescentes no mar Negro. Os russos inclusive sugeriram que drones possam ter sido lançados de navios civis da iniciativa, que já logrou enviar 8 milhões de toneladas de produtos ao exterior.

Até aqui, contudo, não foi retomado um bloqueio naval. Nesta segunda, 12 cargueiros deixaram a Ucrânia pelo corredor marítimo e, até aqui, não tiveram problemas. Isso sugere uma porta aberta para negociação, elevando as demandas, até porque o acordo atual mediado pela Turquia e pela ONU expiraria em 19 de novembro.

Putin nesta segunda reforçou que Moscou não cancelou o acordo, só o suspendeu.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.