Descrição de chapéu China

Novo chefe de Hong Kong cumpre promessa de obedecer à China ao anunciar propostas

John Lee, à frente da linha dura na repressão a dissidentes, diz que segurança nacional é prioridade de sua gestão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Nomeado em maio, o novo chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, afirmou que sua gestão priorizará o aumento da competitividade e a atração de talentos estrangeiros em um momento em que a ilha perde a importância para rivais asiáticos como Singapura. Só a palavra "talento" foi usada quase 60 vezes pelo líder em discurso de quase três horas nesta quarta (19).

Lee reforçou a submissão da ilha à China continental, destacando a necessidade de aumentar a segurança nacional —e repetindo, assim, as palavras de Xi Jinping no Congresso do Partido Comunista Chinês em Pequim no início desta semana.

Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, discursa na sede do governo da ilha - Peter Parks - 19.out.22/AFP

Alguns governos do Ocidente veem um paradoxo entre as duas metas. Eles consideram que o rebaixamento de Hong Kong da posição de hub financeiro número um na Ásia se deve à própria erosão de direitos e liberdades no território, que teria prejudicado o ambiente de negócios e exacerbado a "fuga de cérebros".

Lee foi um dos principais responsáveis pela adoção de uma linha dura à repressão ao movimento pró-democracia na região, tendo atuado como chefe de segurança entre 2017 e 2021.

Com uma limitada experiência de gestão financeira, ele enfrentará vários desafios para retomar o crescimento de Hong Kong —a economia da ilha encolheu 1,3% no segundo trimestre em comparação com o mesmo período de 2021.

A região administrativa foi abandonada por mais de 200 mil honcongueses e estrangeiros nos últimos dois anos, afetados pela restrição das liberdades políticas e pela política estrita de controle da pandemia da China.

Lee anunciou uma série de medidas para voltar a atrair residentes. Uma delas é a emissão de vistos de residência de dois anos para indivíduos com salários anuais de mais de US$ 318 mil ou que tenham se formado em uma das cem melhores universidades do mundo e tenham ao menos três anos de experiência no mercado de trabalho.

"Além de cultivar e reter talentos locais, o governo buscará talentos pelo mundo de maneira proativa", disse o líder.

Ele ainda afirmou que o regime investiria o equivalente a US$ 3,8 bilhões na moeda local em um "fundo de coinvestimento" para atrair empresas, acrescentando que a Bolsa pretende revisar regras de modo a facilitar a entrada de iniciativas de alta tecnologia no ano que vem.

Hong Kong retirou a quarentena obrigatória para todos os visitantes no mês passado, depois de seguir à risca a política de Covid zero chinesa —lockdowns prolongados e o fechamento da fronteira prejudicaram profundamente os setores de turismo e gastronomia. Lee afirmou que continua a negociar com Pequim a retomada do trânsito entre fronteiras.

No que se refere ao mercado imobiliário —um dos problemas mais espinhosos da ilha, que tem um dos metros quadrados mais caros do mundo—, Lee prometeu ceder terrenos para a construção de 72 mil unidades residenciais nos próximos cinco anos. A oferta de moradias populares também aumentará em 50%, com a conversão de mais da metade das localidades semi-industriais subutilizadas da cidade.

O chefe do Executivo não anunciou a flexibilização das medidas de congelamento dos preços de propriedades implementadas ao longo da última década, no entanto. A falta de menção à questão decepcionou o mercado imobiliário, que viu seus preços caírem em cerca de 10% este ano.

Por fim, as leis propostas para aumentar a segurança nacional na ilha buscam controlar ainda mais a internet, regulamentando áreas como cibersegurança, atividades de crowdfunding e controle de informações falsas. Lee não divulgou um cronograma para o cumprimento desses planos.

Devolvida a Pequim 25 anos atrás, após passar um século e meio sob domínio britânico, a cidade tem vivido uma disparada da repressão à dissidência política recentemente. Em 2019, antes dos protestos que paralisaram a região administrativa chinesa, havia apenas 26 pessoas presas por motivos políticos. Hoje, elas são 1.163, de acordo com o Hong Kong Democracy Council (HKDC), entidade formada por expatriados com sede em Washington.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.