Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

Zelenski critica Zelenski por estender Guerra da Ucrânia

Aposentado com mesmo nome do presidente ucraniano culpa xará por prolongamento do conflito que destruiu seu vilarejo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Daphne Rousseau
Donetsk (Ucrânia) | AFP

Volodimir Zelenski, morador de um vilarejo na região de Donetsk, criticou nesta quinta-feira (27) a condução do conflito com a Rússia encabeçada por seu homônimo, o presidente da Ucrânia. Para Zelenski, militar aposentado —que apesar do nome, não tem parentesco conhecido com o mandatário—, seu xará é responsável por estender o conflito.

Volodimir Zelenski, militar aposentado, 64, caminha no quintal de sua casa, no leste da Ucrânia - Dimitar Dilkoff - 26.out.22/AFP

O aposentado lembra o entusiasmo que sentiu na hora de votar em Zelenski, mas, depois de alguns anos no poder, diz não ver mudanças que acreditou que o ex-comandante traria. Sobretudo, afirma sentir-se decepcionado porque o presidente se recusa, segundo ele, a pôr fim à guerra.

"Ele disse que só negociaria com o próximo presidente da Rússia. Mas, se Putin permanecer no poder por mais dez anos, teremos dez anos de guerra? O povo não suporta mais", afirmou.

No fim de abril, quando os soldados russos bateram em sua porta num pequeno vilarejo ocupado do leste da Ucrânia para verificar a identidade dos sobreviventes, Volodimir Zelenski, o aposentado, temeu o que poderia acontecer.

O soldado russo que checou seu passaporte caiu na gargalhada: "É isso pessoal, a guerra acabou, podemos ir para casa! Nós pegamos o presidente!", exclamou, de acordo com o relato do xará do líder.

Ele então prendeu a respiração quando o soldado quis levar seu documento como uma recordação. "Eu disse a ele: 'Mas que recordação? Não posso viver sem meu passaporte!", contou, ao explicar que conseguiu fazer com que eles o devolvessem.

Nascido em 1958 em Bakhmut, cidade do leste da Ucrânia, quando o país ainda fazia parte da União Soviética, de uma mãe trabalhadora das minas de carvão e um pai operário, o aposentado ucraniano foi motorista do Exército soviético e trabalhador da construção civil. Passou os últimos oito meses de guerra e bombardeios escondido em um porão. "Tinha parado de fumar e, obviamente, voltei a fazê-lo", lamentou.

Em sua pequena casa com papel de parede floral, mas mergulhada na escuridão e no frio, o vento gerado por uma explosão sacode a lona de plástico que cobre a janela. Seu vilarejo, libertado em 30 de setembro pelas forças ucranianas, agora é alvo da artilharia russa.

Valentina Zelenska, sua esposa, havia deixado o local no começo da guerra, mas o marido não quis abandonar a casa —o sonho de toda uma vida que ele terminou de quitar em 2003, com varanda, churrasqueira e o tanque onde ele costumava pescar carpas.

No álbum de família, ele mostra uma foto de si mesmo quando jovem, vestido com uniforme militar. "Não acho que sou parecido com o presidente em nada", afirmou.

"Vocês se parecem, sim!", exclamou Valentina, sentada em um banquinho do outro lado da sala. O casal deveria comemorar 22 anos de casamento, mas, no vilarejo arrasado pelos combates, não havia mais flores.

Zelenska afirma que tanto o nome quanto o sobrenome de seu marido são bastante comuns na Ucrânia, assim como na Rússia, mas ela não conhece outro homônimo além do presidente eleito em 2019.

Assim como muitos moradores de sua geração no Donbass ucraniano, o Zelenski aposentado considera a Ucrânia sua pátria. No entanto, o ex-soldado soviético não esconde certa nostalgia pelo regime socialista, que ele afirma ter trazido paz e prosperidade para sua geração.

"Os presidentes passam e nós, as pessoas comuns, ficamos", disse.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.