Ativistas acusam Irã de apreender corpos de manifestantes e enterrá-los em segredo

Tática, segundo organizações, visa impedir que funerais públicos alimentem as manifestações contra o regime islâmico

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Belo Horizonte

Ativistas de direitos humanos acusam o regime islâmico do Irã de preparar funerais secretos de pessoas mortas durante os massivos protestos no país nas últimas semanas.

"Ontem à noite, depois que as forças da Guarda Revolucionária Islâmica atacaram o Hospital Shahid Gholi Pur, em Bukan, eles apreenderam o corpo de Shahryar Mohammadi e o enterraram secretamente", disse o grupo Hengaw, com sede na Noruega, em um comunicado neste sábado (19).

"Essas forças abriram fogo contra sua família [de Mohammadi] e feriram pelo menos cinco pessoas", acrescentou a organização, conhecida por exibir abusos do regime em áreas curdas.

Iranianos acompanham funeral de mortos em um ataque a tiros em Izeh, na província de Cuzistão
Iranianos acompanham funeral de mortos em um ataque a tiros em Izeh, na província de Cuzistão - Alireza Mohammadi - 18.nov.22/AFP

Os enterros secretos de manifestantes mortos, segundo os ativistas, acontecem para evitar que seus funerais alimentem ainda mais os protestos. As manifestações já são o maior movimento contra o regime desde 1979, ano da Revolução Islâmica.

Na segunda (14), por exemplo, ainda conforme o Hengaw, um homem de 44 anos foi enterrado secretamente pelo regime dias após ser morto por golpes de cassetetes dos soldados iranianos.

De acordo com um relatório obtido pela organização, o funeral de Hamid Goli aconteceria em um cemitério na cidade de Sanandaj na tarde de segunda. O regime, porém, apreendeu o corpo da vítima e agendou o enterro para a noite do mesmo dia, autorizando apenas alguns familiares a acompanhar a cerimônia.

Goli teria morrido em 27 de outubro de hemorragia cerebral. De acordo com seu atestado de óbito, ele fraturou o crânio e sofreu hemorragia após ser atingido na cabeça por um objeto duro. Uma fotografia divulgada pelo Hengaw mostra a cabeça do homem com fraturas e marcas de espancamento.

Segundo a ONG Ativistas de Direitos Humanos no Irã (HRAI, na sigla em inglês), 402 pessoas já morreram durante os protestos, iniciados após a morte de Mahsa Amini em setembro. Entre as vítimas, segundo a organização, estão 58 crianças e adolescentes. Outras 16.800 pessoas foram presas, sendo algumas condenadas à morte.

Já a mídia estatal informa apenas que 46 membros das forças de segurança do país morreram durante as manifestações.

Neste sábado, milhares de iranianos protestaram em cerca de 20 faculdades da capital Teerã e em outras importantes cidades do país, incluindo Isfahan, Tabriz e Shiraz. Apenas neste sábado, ativistas registraram a morte de ao menos três manifestantes no noroeste do país –eles teriam sido alvo de disparos de armas de fogo das forças de segurança.

O regime islâmico agora teme que as manifestações ganhem o apoio de sindicatos e de outras organizações trabalhistas. Foi justamente uma combinação de protestos em massa e greves de comerciantes e trabalhadores da indústria petrolífera que contribuíram para a Revolução Islâmica no Irã em 1979.

Neste sábado, o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, alertou que o Ocidente pode tentar mobilizar trabalhadores. "Até esta hora, graças a Deus, os inimigos foram derrotados. Mas eles têm um novo truque a cada dia, e com a derrota de hoje, eles podem atingir diferentes classes, como a de trabalhadores e de mulheres", disse ele a uma emissora estatal de televisão.

Até agora, as poucas greves que aderiram aos protestos foram limitadas e exigiram apenas mudanças relacionadas a salários e condições de trabalho, não necessariamente o fim das leis islâmicas no país.

Como forma de conter o movimento, a Justiça do Irã condenou, recentemente, cinco manifestantes à morte e disse que vai levar a julgamento mais de 2.000 pessoas indiciadas por distúrbios.

Com Reuters e AFP

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