Onda recente de execuções na Arábia Saudita desperta críticas da ONU

Após 5 meses de moratória, 24 pessoas foram executadas em outubro e novembro

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Dubai | AFP

Zeinab Abo al Jeir vive em "terror extremo": seu irmão Hussein, condenado à morte na Arábia Saudita, pode ser o próximo de uma onda de execuções que se multiplicou nas últimas semanas no reino do Golfo.

Depois de cinco meses sem aplicar a sentença de morte, as autoridades sauditas executaram 24 pessoas desde o início de outubro, a maioria nas últimas duas semanas, de acordo com uma contagem da agência de notícias AFP baseada em informações da mídia estatal.

O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, em evento na Tailândia neste mês - Athit Perawongmetha - 18.nov.22/AFP

Os dados incluem 16 condenados por casos ligados a drogas, encerrando uma moratória de quase dois anos para a pena de morte para esses crimes. Nesta terça-feira (22), a ONU chamou de lamentável a onda de execuções, dizendo que ela é incompatível com os padrões internacionais.

Na Arábia Saudita, as execuções geralmente se dão por decapitação, mas pessoas punidas por crimes considerados mais graves podem ser crucificadas, como aconteceu em 2019.

O jordaniano Hussein Abo al Jeir está no corredor da morte desde 2015. A incerteza sobre seu destino deixa a família sob pressão psicológica, segundo a irmã Zeinab. "Não conseguimos contato. Sempre esperamos alguma comunicação dele; às vezes, por seis meses ou mais", disse ela à AFP no Canadá, onde mora.

Exceto nos casos de condenados por assassinato, em que as famílias das vítimas são informadas com antecedência, as autoridades costumam anunciar as execuções depois de realizadas, explica Duaa Dhainy, pesquisadora da Organização Euro-Saudita para os Direitos Humanos, com sede na Alemanha.

De acordo com a ativista, os familiares muitas vezes ficam sabendo das execuções por meio da mídia estatal, que nem sempre menciona os nomes dos presos. "Elas não podem nem se despedir de seus entes queridos."

'Injusto'

Husein Abo al Jeir, 57, foi preso em 2014 na fronteira entre a Jordânia e a Arábia Saudita, onde trabalhava como motorista particular em Tabuk.

Segundo sua irmã e a ONG Reprieve, sediada no Reino Unido, ele foi torturado por 12 dias, sem acesso a um advogado, antes de assinar um documento admitindo estar envolvido com o tráfico de drogas. A AFP não conseguiu verificar essas alegações de forma independente, e as autoridades sauditas não responderam às perguntas da agência de notícias.

Especialistas da ONU avaliam que se trata de uma detenção arbitrária sem base legal.

Na semana passada, Hussein entrou em contato com um parente na Jordânia para anunciar que havia sido transferido para uma área da penitenciária de Tabuk reservada a prisioneiros em iminência de execução.

"Ele está com muito medo, muito triste. E garante que foi vítima de uma injustiça", diz Zeinab. "Ele aguarda o momento da morte, de ser decapitado com um sabre, após um processo absolutamente injusto."

Ao todo, houve 144 execuções na Arábia Saudita neste ano, de acordo com a contagem da AFP, mais do que o dobro de todo ano passado. Em março, em um único dia, 81 pessoas acusadas de um caso de terrorismo foram executadas.

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