Papa Francisco critica machismo e diz que mulheres na liderança melhoraram o Vaticano

Pontífice respondia sobre o papel das lideranças femininas nos protestos do Irã

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São Paulo

Ao se despedir da viagem de três dias ao Bahrein, no Oriente Médio, o papa Francisco afirmou neste domingo (6) que as mulheres em cargos de liderança contribuíram para que o Vaticano melhorasse e provaram que podem ter desempenho superior aos dos homens nas mesmas posições.

"Percebi que toda vez que uma mulher recebe um cargo [de responsabilidade] no Vaticano, as coisas melhoram", disse o pontífice a bordo do avião papal. "As mulheres são um presente. Deus não criou o homem e depois lhe deu um cachorrinho para brincar. Ele criou o homem e a mulher".

Cercado de fiéis, papa Francisco deixa catedral em Awali, ao Sul da capital do Bahrein
Cercado de fiéis, papa Francisco deixa catedral em Awali, ao Sul da capital do Bahrein - Marco Bertorello - 4.nov.22/AFP

A declaração soa como uma crítica ao machismo na região. O pontífice foi questionado sobre o papel das mulheres na vanguarda dos protestos no Irã, mas ele preferiu não comentar diretamente as manifestações que eclodiram após a morte, em setembro, de uma jovem curda de 22 anos, três dias após ela ser presa pela polícia moral por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, da forma correta.

O pontífice também classificou de "ato criminoso" a mutilação genital feminina. A prática é legalizada em cerca de 30 países muçulmanos da Ásia e do Norte da África, segundo as Nações Unidas.

Em relação ao Vaticano, o papa Francisco afirmou que "as coisas mudaram para melhor" após as nomeações de mulheres para cargos gerenciais. Ele fez menções elogiosas à irmã Raffaella Petrini, alçada ao posto de vice-governadora da Cidade do Vaticano no mês passado e responsável pela gestão de aproximadamente 2.000 funcionários.

Francisco também comentou o impacto de cinco mulheres que ele nomeou para um departamento que supervisiona as finanças do Vaticano.

"Isso é uma revolução porque as mulheres sabem como encontrar o caminho certo", disse o pontífice, acrescentando que "havia muito machismo" na Igreja Católica e na sociedade em geral.

Líder da Igreja Católica e chefe de Estado do Vaticano, o papa também nomeou mulheres para os cargos de vice-ministra das Relações Exteriores, diretora dos Museus do Vaticano, vice-chefe da Sala de Imprensa do Vaticano, bem como quatro conselheiras do Sínodo dos Bispos, que prepara grandes reuniões.

Com posicionamentos considerados progressistas, Francisco tem reiterado nos últimos meses pedidos pela igualdade de gênero. No ano passado, ele ajudou a criar o sínodo da sinodalidade (maneira de ser e de agir da Igreja), o maior movimento de consulta democrática da história da Igreja, marcada por séculos de hierarquia rígida, conservadorismo e pouca transparência.

Espera-se que o movimento ajude o Vaticano a acelerar a maior participação feminina na tomada de decisões e a intensificar o acolhimento a grupos ainda marginalizados pelo catolicismo tradicional —de homossexuais a divorciados em segunda união.

Ao final das discussões, contudo, as decisões seguem como sempre: respeitando a hierarquia tradicional —apesar do caráter democrático da consulta pública, caberá ao papa a palavra final sobre os temas propostos.

Francisco ainda defendeu uma maior coordenação entre países da Europa para lidar com a crise de refugiados. "A União Europeia precisa adotar uma política de colaboração e ajuda. Não pode deixar que Chipre, Grécia, Itália e Espanha fiquem responsáveis por todos os imigrantes que chegam a suas praias", afirmou.

No Bahrein, o pontífice também condenou a pena de morte e defendeu a liberdade religiosa. O país árabe, um emirado sunita desde o século 18, é acusado de perseguir xiitas e de violar os direitos humanos de presos, o que o rei Hamad bin Isa Al Khalif nega. Foi a segunda viagem de um papa à Península Arábica —a primeira, também feita por Francisco, foi em 2019, aos Emirados Árabes Unidos.

Ao menos dez manifestantes que protestavam contra a pena de morte foram detidos no sábado (5) antes de o papa Francisco celebrar uma missa diante de 30 mil pessoas no Estádio Nacional do Bahrein.

Neste domingo, o papa ainda rezou pela "Ucrânia martirizada" e pediu pelo fim da guerra após mais de oito meses de conflito. Antes, Francisco pediu a autoridades religiosas do Bahrein que ajudem a trazer o mundo de volta da "beira do precipício" e que se oponham a uma nova corrida armamentista que, segundo o pontífice, está redesenhando as esferas de influência formadas no período da Guerra Fria.

Francisco também comentou temas delicados à Igreja Católica. Ele disse que "trabalha da melhor maneira possível" contra a pedofilia dentro da instituição e lamentou que ainda haja quem "não veja as coisas com clareza".

"Algumas coisas estavam escondidas. Antes do escândalo de Boston, [as pessoas envolvidas] eram transferidas", disse o papa, referindo-se às revelações que abalaram a Igreja Católica nos Estados Unidos no início dos anos 2000. "Agora, tudo está claro e estamos avançando nessa questão."

Com Reuters e AFP

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