Democrata se reelege ao Senado na Geórgia e dá a partido de Biden maioria de 51 assentos

Raphael Warnock garante respiro maior a presidente na Casa em segunda metade do mandato

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Washington

O senador democrata Raphael Warnock foi reeleito nesta terça-feira (6) pelo estado da Geórgia, no sul dos EUA, ao derrotar o republicano Herschel Walker, ex-astro do futebol americano.

A vitória em segundo turno, um rescaldo das eleições de meio de mandato, é um importante respiro para o presidente dos EUA, Joe Biden, cujo partido terá uma cadeira a mais no Senado a partir do ano que vem.

A eleição opôs dois candidatos negros e foi acirrada desde o começo; em quase toda a apuração, eles apareciam com margens mínimas de diferença. Com 99% dos votos computados, Warnock tem 51,4%, e Walker, 48,6%. A Geórgia é o único estado americano que prevê segundo turno na eleição legislativa, caso os candidatos não alcancem 50% dos votos na primeira rodada, realizada neste ano em 8 de novembro.

O senador Raphael Warnock, reeleito na Geórgia nesta terça-feira - Win Mcnamee/Getty Images/AFP

Foi uma eleição acompanhada de perto por todo o país, porque, com o resultado, o Partido Democrata terá 51 dos 100 assentos do Senado a partir de 3 de janeiro —um a mais do que a legenda tem hoje, considerando dois nomes independentes que sempre votam com a sigla.

Até aqui, a legenda tinha maioria mínima para aprovar projetos, fazendo com que qualquer dissidência na base travasse propostas do governo. Com a vitória de Warnock, Biden terá capacidade maior para driblar esse obstáculo, o que será importante também para confirmar nomeações a cargos no Judiciário e no Departamento de Estado, responsável pela diplomacia, que precisam passar por escrutínio da Casa.

Por fim, a maioria será essencial num momento em que Biden perdeu o controle da Câmara, em que os republicanos prometem complicar as pautas do democrata.

Warnock é pastor na Igreja Batista Ebenézer, a mesma em que pregou Martin Luther King Jr., líder da luta pelos direitos civis da população negra em Atlanta. Ele chegou ao Senado em 2020, em uma eleição especial para substituir um parlamentar republicano que decidiu se aposentar.

A base democrata se concentra sobretudo em Atlanta e em outras regiões mais urbanas, enquanto republicanos têm forte apelo nas amplas zonas rurais do estado.

O derrotado Walker vem do futebol americano e não tinha experiência política. Ele teve a candidatura impulsionada pelo ex-presidente Donald Trump e enfrentou uma série de controvérsias na campanha. Ele, que se dizia contrário ao direito ao aborto em qualquer situação, foi acusado por duas ex-namoradas de ter incentivado e pagado para que elas interrompessem gestações no passado. Um de seus filhos, influencer conservador com mais de 500 mil seguidores no Instagram, acusou-o de violência doméstica.

Em outros casos mais anedóticos, afirmou que não sabia o que eram pronomes e assumiu que morava no Texas até o começo da campanha. Em sua plataforma, advogava ainda pela defesa do conceito conservador de família tradicional, aumento no controle das fronteiras e no financiamento das polícias.

A derrota é mais um de uma série de golpes contra Trump. O ex-presidente sofre desgaste por ter endossado candidatos extremistas nas midterms, que afastaram o eleitor moderado. Nesta terça, o político teve outro revés, ao ver duas de suas empresas condenadas por fraude fiscal em Nova York.

Trump não fez campanha para Walker no segundo turno —o impopular Biden tampouco foi ao estado na reta final da campanha. Assim, o candidato republicano ganhou o reforço do governador reeleito, Brian Kemp, que, moderado, havia se afastado do ex-jogador no primeiro turno. Do lado de Warnock, a ajuda mais poderosa veio do ex-presidente Barack Obama. Com mais de US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões) gastos na campanha pelos candidatos, esta foi a eleição mais cara das midterms.

A vitória democrata também consolida o movimento da ativista Stacey Abrams. Depois de perder a eleição para o governo em 2018 —como aconteceu de novo neste ano—, ela iniciou um amplo esforço para aumentar o acesso de minorias ao voto no estado, registrando milhares de eleitores negros.

A iniciativa foi vista como essencial para a vitória de Biden e mudou o panorama do estado, que só votou em republicanos para presidente de 1996 a 2016. Em 2012, nem sequer houve boca de urna por lá, já que a Geórgia não era considerada suficientemente competitiva para que o investimento valesse a pena.

Fazer da Geórgia um estado-pêndulo novamente —ou seja, sem preferência clara por democratas ou republicanos— neutraliza locais que em geral pendem mais para os republicanos, como Flórida e Ohio. O estado tem 16 votos no sistema de Colégio Eleitoral, o oitavo mais relevante.

A apuração desta terça foi mais acelerada do que o previsto, dada a margem apertada que mostravam as pesquisas, sem apontar um vencedor claro, e contrastam fortemente com o caos de dois anos atrás.

Foi na Geórgia que Trump fez um dos gestos mais claros para tentar roubar a eleição de 2020, ao telefonar para o secretário de Estado local, responsável pelo controle do pleito, e pedir expressamente: "Tudo o que quero é isso: encontrar 11.780 votos, um a mais do que temos [de diferença]".

Biden venceu Trump por 11.779 votos e conquistou todos os 16 votos do Colégio Eleitoral do estado. Trump processou a Geórgia alegando que 15 mil eleitores votaram de maneira irregular. A Justiça afirma que as alegações eram falsas, que Trump sabia disso e mesmo assim decidiu mantê-las.

Por isso, neste ano as autoridades lançaram mão de iniciativas para agilizar a contagem, na tentativa de evitar teorias da conspiração. Uma lei aprovada em 2021 autorizou condados a abrir votos que chegam via correio antes do dia da eleição, e um terço deles começou a contagem antes que as urnas se fechassem.

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