Empresa de Trump é considerada culpada de esquema de fraude em NY

Júri em Manhattan chegou a veredicto nesta terça-feira; valor de multa por condenação ainda não foi fixado

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Washington

Empresas do ex-presidente dos EUA Donald Trump promoveram por 15 anos um esquema criminoso de fraudes fiscais e falsificação de registros, afirmou em julgamento nesta terça-feira (6) um tribunal de Nova York. O veredicto é mais um revés para o republicano, que quer voltar a disputar a Casa Branca daqui a dois anos.

Foram condenadas na decisão duas empresas do político —Trump Corporation e Trump Payroll Corporation—, sob o guarda-chuva das Organizações Trump, que administra propriedades como hotéis e campos de golfe. Elas estão sujeitas a multas de até US$ 1,6 milhão (R$ 8,4 milhões), cujo valor será definido no próximo dia 13.

Segundo a sentença, as firmas não registravam bonificações e presentes para seus executivos, o que alterava o valor de impostos devidos. A holding do ex-presidente nega irregularidades e afirma que vai recorrer da sentença.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump em evento de campanha do Partido Republicano na Carolina do Norte - Jonathan Drake - 5.jun.21/Reuters

Em nota, Trump afirmou que está desapontado com a decisão, que chamou de "a continuação da maior caça às bruxas política da história do país", usando maiúsculas. Ainda que a multa não inviabilize a operação da empresa, a condenação pode afetar sua credibilidade.

O político em si não era réu no caso, mas foi citado uma série de vezes durante o processo. "Toda essa narrativa de que Donald Trump é um feliz ignorante [quanto ao esquema de fraudes] simplesmente não é verdade", disse o procurador Joshua Steinglass ao júri que analisou o caso.

O veredicto se dá num momento em que o ex-presidente, que recentemente se lançou pré-candidato à Presidência para as eleições de 2024, está sob escrutínio cada vez maior de promotores federais e estaduais em diferentes casos. O cerco da Justiça aumenta a pressão interna que ele sofre no Partido Republicano depois do resultado da legenda, considerado abaixo das expectativas, nas midterms.

Trump é alvo de investigações federais por ter levado documentos ultrassecretos para sua residência na Flóirida depois de deixar a Presidência e por envolvimento na invasão do Capitólio por uma turba de apoiadores, em 6 de janeiro de 2021.

"É um caso de ganância e trapaça. De documentos fraudados para evitar o pagamento de impostos", disse o promotor do caso decidido nesta terça, Alvin Bragg, que estava presente no tribunal. "Empresas montaram um esquema que premiava executivos de alto escalão com regalias e compensações luxuosas, enquanto ocultavam intencionalmente os benefícios das autoridades fiscais para evitar o pagamento de impostos."

Segundo ele, o veredicto representa a responsabilização das companhias do ex-presidente por um "esquema criminoso de longa data".

Allen Weisselberg, 75, ex-diretor financeiro das Organizações Trump e amigo do político há décadas, foi uma testemunha-chave na ação. Ele confessou em depoimento que deixou de declarar US$ 1,76 milhão (R$ 9,2 milhões) por benefícios como aluguel de carros de luxo e um apartamento em área nobre e ainda afirmou que deu bonificações a si e a outros executivos dentro do esquema fraudulento. Quando questionado por advogados da empresa, porém, argumentou que o fez por conta própria.

Weisselberg foi condenado por 15 crimes e pode pegar cinco meses de prisão. Ele disse que depois que Trump chegou à Casa Branca o esquema foi interrompido.

O depoimento de Weisselberg também complicou o ex-presidente ao dizer que o próprio Trump assinou cheques de bonificação e pagou mensalidades de escolas particulares para seus netos.

Na nota que emitiu após a divulgação do veredicto, o ex-presidente criticou os promotores que examinaram "milhões de páginas de documentos ao longo de muitos anos, em detrimento dos assassinatos recordes e outros crimes violentos que ocorrem em Nova York".

Segundo ele, Weisselberg admitiu que cometeu fraude fiscal e repetiu, assim como outras testemunhas, que Trump e sua família não sabiam nada sobre suas ações.

As Organizações Trump enfrentam também outro processo de fraude, independente do que foi julgado nesta terça, movido pela procuradora-geral de NY, Letitia James. No processo também estão envolvidos o ex-presidente e seus filhos. O caso envolve irregularidades em declarações anuais da situação financeira do político, que teria distorcido repetidas vezes o valor de suas propriedades a fim de conseguir benefícios financeiros.

Na prática, os valores dos imóveis teriam sido alterados para obter empréstimos bancários ou reduzir impostos a serem pagos. De acordo com a procuradora, as cifras distorcidas foram apresentadas a credores, seguradoras e à Receita Federal.

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