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Veteranos da Guerra das Malvinas relembram conflito 40 anos depois em retorno às ilhas

Reino Unido envia ex-combatentes e familiares de soldados mortos para visitar memoriais e o Cemitério Argentino

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Stanley (ilhas Falklands/Malvinas)

O britânico Gary Platts, 59, tinha 19 anos quando desembarcou nas ilhas Falkland para combater as forças argentinas que haviam ocupado o arquipélago na última grande guerra na América do Sul, em 1982.

No início de novembro, voltou pela primeira vez ao local, como parte de uma comitiva de ex-combatentes e familiares de soldados mortos organizada pelo governo britânico para relembrar os 40 anos do conflito.

"Ironicamente, na medida em que você se distancia dos eventos difíceis, o sentimento de perda cresce", disse ele, logo após participar de uma missa e uma procissão em homenagem às vítimas no último dia 13.

O britânico Gary Platts, 59, veterano da guerra entre Argentina e Reino Unido pelo controle das ilhas Falklands, em Stanley
O britânico Gary Platts, 59, veterano da guerra entre Argentina e Reino Unido pelo controle das ilhas Falklands, em Stanley - Eduardo Anizelli/Folhapress

"Tive três casamentos, três filhos, quatro netos, uma vida completa. Mas meus amigos não tiveram mais 40 anos de vida, não tiveram filhos nem as perdas e os amores que são comuns na vida. É muito difícil."

Platts foi um dos soldados que desembarcaram no primeiro dia de operações na baía de San Carlos, ponto escolhido pelos britânicos para iniciar a ofensiva terrestre. Ficou em combate durante todo o período do conflito e perdeu três amigos. O desembarque, em 21 de maio, deu início a uma ação que levou à rendição argentina em 14 de junho. Os britânicos perderam 255 homens na guerra. Do outro lado, 649 mortos.

Ao relembrar aqueles dias, Platts concorda com a percepção de que as forças adversárias eram mal treinadas e mal equipadas, uma visão compartilhada por comandantes argentinos, como o general Martín Bauza, autor de livro sobre o tema. "Conheci muitos prisioneiros. Pensava que eu era jovem, mas eles eram ainda mais", afirma. "Não podemos culpar os soldados, porque militares profissionais são militares profissionais, mas aqueles jovens… Não tenho palavras para descrever o quanto lamento por eles."

As condições climáticas da ilha, com temperaturas médias abaixo dos 10°C no inverno, agravadas por fortes ventos, foram desafiadoras, diz ele. "Sobreviver a dias de frio, umidade e vento é uma luta."

Ele reforça as justificativas para a reação à invasão argentina, ao dizer que o chefe da Junta Militar da ditadura do país à época, o tenente-general Leopoldo Galtieri, "não estava lutando a boa luta". Jeremy Larken, 83, que comandava o navio de assalto Fearless no desembarque das tropas, faz coro: "Sentimo-nos obrigados a proteger essas ilhas, porque acreditamos que elas devem pertencer a quem vive nelas".

Durante a guerra, o principal revés britânico foi o bombardeio ao navio Sir Gallahad, em 8 de junho de 1982, quando 48 soldados morreram. Com 20 anos à época, John Lamb estava a bordo da embarcação. "O navio pegou fogo, e as pessoas escaparam pulando com colete salva-vidas. Fui resgatado em um helicóptero", lembra. "Embora eu estivesse com dores, estava em melhor situação que muitos outros."

Lamb, como outros veteranos levados às ilhas Falkland em novembro, visitou memoriais próximos aos campos de batalha e o Cemitério Argentino, onde estão enterrados 237 soldados mortos na guerra.

Com seis anos quando a guerra começou, o piloto de helicóptero Tom Chater, morador de Stanley, diz que a primeira lembrança que tem são pessoas entrando desesperadas em sua casa. Depois, dos aviões que passaram a voar sobre a cidade, do barulho das bombas e de ter visto um helicóptero ser derrubado. "Às vezes queria ter nascido mais cedo, para ter mais memórias do conflito. Às vezes acho que é melhor não."

Os jornalistas Nicola Pamplona e Eduardo Anizelli viajaram a convite da embaixada do Reino Unido no Brasil

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