Biden chama ataques de ultrajantes, e líderes condenam ataque à democracia

Francês Macron oferece apoio incondicional e argentino Fernández fala em tentativa de golpe

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São Paulo

Líderes mundiais condenaram o ataque à democracia empreendido neste domingo (8) por golpistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que culminou na invasão a diferentes pontos da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Em mensagens no Twitter, alguns, como o francês Emmanuel Macron, escreveram em português.

Muitos deles também ofereceram ajuda, de diferentes maneiras, ao Brasil, reforçando o apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem vários já haviam feito questão de cumprimentar rapidamente pela vitória eleitoral, em outubro, de forma a afastar a possibilidade de uma tentativa de golpe.

O presidente americano, Joe Biden, em visita à fronteira com o México, inicialmente disse a jornalistas que tinha ficado sabendo da situação no Brasil —disparada durante seu deslocamento entre Washington e Texas— e a chamou de ultrajante.

Pouco depois, em tuíte, disse condenar o que chamou de "ataque à democracia e à transferência pacífica de poder no Brasil". Ele manifestou o apoio dos EUA às instituições democráticas do país e disse que "a vontade da população do Brasil não pode ser minada".

Um homem agita a bandeira do Brasil enquanto apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro durante invasão do Congresso Nacional em Brasília
Um homem agita a bandeira do Brasil enquanto apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro durante invasão do Congresso Nacional em Brasília - Adriano Machado/Reuters

Assessores do democrata já tinham feito declarações de repúdio à ação golpista de bolsonaristas. Jake Sullivan, assessor de segurança nacional, afirmou que o apoio americano "às instituições brasileiras é inabalável" e que confiava que a "democracia brasileira não será estremecida pela violência".

O secretário de Estado, Antony Blinken, afirmou que "usar violência para atacar instituições democráticas é sempre inaceitável".

Antes de Biden, o primeiro líder de peso a se manifestar foi Gabriel Boric, presidente chileno. "O governo brasileiro tem todo o nosso apoio diante desse covarde e vil ataque à democracia", disse, no Twitter. Nesta semana, em entrevista à Folha, Boric reforçou sua ligação com Lula.

Outro aliado do petista, o argentino Alberto Fernández, escreveu mensagens manifestando apoio ao petista e mencionando uma "tentativa de golpe de Estado" no Brasil. "Quem tentar desrespeitar a vontade da maioria ameaça a democracia e merece não só a resposta legal adequada, mas também a condenação da comunidade internacional", disse.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, também classificou o episódio de tentativa de golpe em mensagem que condenava a invasão.

O colombiano Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda do país, também usou as redes sociais para dizer que uma reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos) seria urgente diante da situação. "Toda minha solidariedade a Lula e ao povo do Brasil. O fascismo decide atacar. A direita não conseguiu manter o pacto de não violência", completou.

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, chamou os atos de "ações de natureza fascista". Ele escreveu: "Condenamos o ataque às instituições em Brasília, uma ação condenável e um ataque direto à democracia".

O líder do regime de Cuba, Miguel Díaz-Canel, comparou as cenas de "vandalismo, destruição e violência" dos bolsonaristas à promovida por apoiadores de Donald Trump em Washington, dois anos atrás. Segundo eles, os atos visavam "gerar caos e desrespeitar a vontade popular". O paraguaio Mario Abdo Benítez reforçou que "o caminho deve ser sempre o respeito às instituições, à democracia e à liberdade, não a violência".

Luis Lacalle Pou e Luis Arce, no Uruguai e na Bolívia, também se manifestaram. O português António Guterres, secretário-geral da ONU, ressaltou que o Brasil é um grande país democrático e que confia que "o desejo da população e as instituições" serão respeitados.

Ignacio Ybáñez, embaixador da União Europeia no Brasil, afirmou que estava "seguindo com grande preocupação os atos antidemocráticos e as ações violentas na Praça dos Três Poderes". Já a Embaixada dos EUA emitiu um alerta a cidadãos americanos em Brasília para evitar a região invadida.

Na Europa, o francês Macron afirmou que "instituições democráticas devem ser respeitadas" e que "Lula pode contar com o apoio incondicional da França".

O governo de Portugal, liderado pelo primeiro-ministro António Costa (Partido Socialista), repudiou os atos antidemocráticos. Em nota divulgada pelo ministério dos Negócios Estrangeiros, o governo luso afirmou que "condena as ações de violência e desordem em Brasília" e reiterou seu "apoio inequívoco às autoridades brasileiras na reposição da ordem e da legalidade".

"O governo transmite a sua inteira solidariedade à Presidência do Brasil, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal, cujos edifícios foram violados nas manifestações antidemocráticas", diz o texto. O chefe de Estado, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, também condenou o episódio, ao se manifestar ao vivo, por chamada telefônica, durante o telejornal da emissora SIC, uma das líderes de audiência do país.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, também ofereceu apoio a Lula e "às instituições eleitas livre e democraticamente pelo povo brasileiro".

O vice-primeiro-ministro da Itália, Antonio Tajani, disse, também no Twitter, que acompanha com preocupação a situação no Brasil e que "qualquer ato de violência contra as instituições democráticas deve ser veementemente condenado". A mensagem foi compartilhada na rede social pela ultradireitista Giorgia Meloni, primeira-ministra —que recebeu críticas por não enviar representantes à posse de Lula.

Depois, ela própria escreveu uma mensagem, dizendo que as cenas no Brasil "não podem nos deixar indiferentes". Meloni disse que a situação é "inaceitável e incompatível com qualquer forma de dissidência democrática", pedindo o retorno à normalidade urgente.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, mencionou sua "condenação completa ao atentado às instituições democráticas do Brasil". Umaro Sissoco Embaló, presidente da Guiné-Bissau, condenou "o uso da violência contra a Presidência, o Congresso e a Suprema Corte", fazendo um apelo ao respeito à democracia e à instituições.

Voltando aos EUA, congressistas críticos a Bolsonaro repudiaram os ataques em Brasília. Integrante da comissão parlamentar que investigou a invasão do Capitólio, o deputado Jamie Raskin afirmou que países democráticos devem agir rapidamente e comparou a situação ao ocorrido nos EUA: "Esses fascistas que têm como modelo os manifestantes de 6 de Janeiro [seguidores] de Trump devem terminar no mesmo lugar: a prisão".

Os golpistas invadiram áreas do Congresso Nacional, do Planalto e do STF, espalharam atos de vandalismo e depredação e entraram em confronto com a PM.

Os atos guardam semelhanças com evento acontecido nos EUA que, coincidentemente, completou dois anos nesta semana. Ocorrida em 6 de janeiro de 2021, a invasão ao Capitólio foi insuflada por um discurso do então presidente Donald Trump em Washington, levando manifestantes a invadirem o prédio do Legislativo americano, em uma tentativa de impedir a certificação da vitória de Joe Biden em 2020 —o republicano e seus seguidores sustentam até hoje o discurso mentiroso de que o pleito foi fraudado.

O maior ataque recente à democracia americana foi classificado por muitos como uma tentativa de golpe de Estado e se tornou alvo de uma série de investigações, do Departamento de Justiça, do FBI e do próprio Congresso. O ataque resultou na morte de cinco pessoas, entre os quais um policial.

Desde então, a polícia federal americana prendeu mais de 950 pessoas —a investigação é considerada a maior da história do órgão—, tendo aberto processos contra 940, segundo o Programa sobre Extremismo, grupo da Universidade George Washington. Mais da metade dos réus, 482, confessou a culpa, e outros 44 foram assim considerados pela Justiça.

Já a ação promovida por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro neste domingo ocorre uma semana após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente não estava em Brasília no momento dos ataques —ele tinha viajado a São Paulo e visitava Araraquara, para acompanhar vítimas das chuvas.

Colaboraram Giuliana Miranda, de Lisboa, e Thiago Amâncio, de Washington

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