Descrição de chapéu ataque à democracia

Ação de golpistas em Brasília tem semelhanças e diferenças com invasão do Capitólio nos EUA

Há 2 anos, manifestantes entraram no Congresso americano para tentar impedir certificação de vitória de Joe Biden

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São Paulo

A ação de apoiadores golpistas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que culminou com a invasão de áreas do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do prédio do Supremo Tribunal Federal neste domingo (8), em Brasília, guarda semelhanças —mas também diferenças— com um evento ocorrido nos Estados Unidos que, coincidentemente, completou dois anos nesta semana.

Em 6 de janeiro de 2021, insuflados pelo então presidente Donald Trump, manifestantes invadiram o prédio do Legislativo americano, em uma tentativa de impedir a certificação da vitória de Joe Biden na eleição de 2020 —o republicano e seus seguidores sustentam até hoje o discurso mentiroso de que o pleito foi fraudado.

Apoiadores de Donald Trump em invasão do Congresso americano, em 2021 - Leah Millis - 6.jan.21/Reuters

O maior ataque recente à democracia americana foi classificado por muitos como uma tentativa de golpe de Estado e se tornou alvo de uma série de investigações —do Departamento de Justiça, do FBI e do próprio Congresso. A invasão resultou na morte de cinco pessoas e mais de uma centena de policiais feridos.

Desde então, a polícia federal americana prendeu mais de 950 pessoas —a investigação é considerada a maior da história do órgão—, tendo aberto processos contra 940, segundo o Programa sobre Extremismo, grupo da Universidade George Washington. Mais da metade dos réus, 482, confessou a culpa, e outros 44 foram assim considerados pela Justiça.

A sentença mais longa até aqui foi dada a um ex-militar e policial aposentado de Nova York, Thomas Webster, 56, condenado em setembro a pouco mais de dez anos de prisão —por, entre outras coisas, ter agredido um policial com o mastro de uma bandeira e tê-lo enforcado ao tentar retirar seu capacete e a máscara de gás. A agressão foi registrada pela câmera corporal do agente e por outros manifestantes.

No 6 de Janeiro, a estratégia era convencer parlamentares a invalidar parte dos resultados da eleição. O então presidente considerou que poderia reverter a derrota caso conseguisse que congressistas mudassem os números de alguns locais —manobra inviável na Câmara— e pressionou seu vice, Mike Pence, que comandaria a sessão, a recusar dados enviados pelos estados.

Pence desfez as esperanças de seu chefe antes do meio-dia, dizendo em carta que o vice-presidente não tinha poderes para isso. "A Presidência pertence ao povo americano e a ele apenas", escreveu.

Logo depois, Trump, que havia convocado seus apoiadores para um comício, começou a discursar. Milhares de pessoas o esperavam no centro de Washington, formando rios de vermelho —a cor dos republicanos—, que se misturavam com bandeiras americanas.

O então presidente criticou seu vice, dizendo que ele não teve "a coragem de fazer o que deveria ter sido feito para proteger nosso país e nossa Constituição". E, sem pedir explicitamente que invadissem o Congresso, exortou seus apoiadores a lutar.

"Nós vamos marchar até o Capitólio. E nós vamos aplaudir nossos corajosos senadores, deputados e deputadas", discursou o republicano. "Eu sei que todos aqui vão em breve marchar para o Capitólio para que suas vozes sejam ouvidas de uma maneira pacífica e patriótica", completou.

Nas horas seguintes, seus seguidores, portando bandeiras e usando roupas com seu nome, atacaram o Capitólio em um turbilhão caótico e apavorante que exigiu que a sessão fosse interrompida. Jornalistas foram trancados em um porão e congressistas, em seus gabinetes, enquanto pessoas fantasiadas de vikings confrontavam assessores.

Além das faixas da campanha presidencial de Trump e de bandeiras dos EUA, muitos dos manifestantes carregavam símbolos de grupos de extrema direita, como o Qanon e o movimento supremacista branco.

A polícia só conseguiu controlar a situação depois do reforço da Guarda Nacional, por volta das 17h30 daquele dia —cerca de três horas depois do início da invasão. A sessão do Legislativo que certificaria a vitória de Joe Biden foi retomada à noite.

O atual presidente fez críticas duras aos envolvidos na invasão no final da tarde. "Nossa democracia está sob ataque. Isso não é um protesto. É uma insurreição. Estou chocado e triste. É um momento sombrio. A América é muito melhor do que o que vimos hoje", afirmou.

Minutos depois da fala de Biden, Trump divulgou um discurso pedindo que os ativistas fossem para casa —ele ainda mantinha, porém, a narrativa falsa de que a eleição foi roubada. O republicano se manteve calado durante todo o desenrolar dos acontecimentos, apesar dos apelos para que fizesse algo.

No mês passado, o comitê da Câmara dos Representantes que investigava o episódio pediu o indiciamento do ex-presidente por quatro crimes relacionados à recusa em aceitar o resultado da eleição presidencial: obstrução de procedimento oficial; conspiração para fraudar os Estados Unidos; conspiração para fazer uma declaração falsa; e incitação, assistência ou ajuda à insurreição.

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