Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Guerra, termo vetado por Putin, é palavra do ano para o chanceler da Rússia

Em entrevista anual, Lavrov repete narrativa geral do Kremlin sobre conflito na Ucrânia

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São Paulo

Em uma longa entrevista coletiva em que repetiu a narrativa geral do Kremlin acerca da Guerra da Ucrânia e do conflito com o Ocidente liderado pelos Estados Unidos, o chanceler russo, Serguei Lavrov, chamou a atenção por um detalhe semântico de sua fala nesta quarta-feira (18).

Questionado por jornalistas no tradicional evento em Moscou em que faz um balanço do ano anterior sobre quais seriam as palavras que definiram 2022 para ele, o decano da diplomacia mundial disse que "guerra" foi a mais trágica e "vitória", a mais encorajadora.

O chanceler russo, Serguei Lavrov, durante entrevista coletiva para fazer um balanço do ano anterior
O chanceler russo, Serguei Lavrov, durante entrevista coletiva para fazer um balanço do ano anterior - Iuri Kadobnov/AFP

Em 26 de fevereiro do ano passado, dois dias após o início do conflito, o governo russo determinou à mídia do país que o uso de "guerra" ou "invasão" estava vetado, em favor do anódino "operação militar especial". Em 4 de março, duas leis criminalizaram críticas à ação de Vladimir Putin ou às Forças Armadas, levando ao fechamento de dezenas de veículos independentes e à possibilidade de infratores pegarem 15 anos de cadeia.

A leitura do diploma legal é discricionária. Aliados do governo já usaram o termo em noticiário de TV e não foram punidos. Apesar de o Kremlin só usar o termo oficial, o próprio Putin escorregou em um discurso no final de 2022 e usou a palavra "guerra", mas a fala pensada de Lavrov mostra os limites da estratégia.

No mais, o discurso do chanceler repisou temas tocados por ele semanalmente. Culpou os EUA por levarem o Ocidente a forçar o conflito com os ucranianos, disse que a relação entre Moscou e Washington "não será como antes" e rejeitou um plano de paz sem a participação ocidental como "sem sentido".

De forma que era certo que atrairia polêmica, voltou a usar paralelos da situação atual com a luta contra o nazismo. Lavrov afirmou que o Ocidente se comporta como "Napoleão e Hitler", em referência ao imperador francês e ao ditador alemão que invadiram a Rússia, e que visa solucionar a "questão russa" com a guerra.

"Questão judaica" era o eufemismo dos altos escalões nazistas para lidar com o extermínio da população judia da Europa na Segunda Guerra (1939-45). No ano passado, Lavrov irritou o governo de Israel, o Estado judeu viabilizado pela tragédia do Holocausto, por ter dito que "Hitler tinha sangue judeu".

Tel Aviv, que tem boas relações com Moscou, apoia Kiev. Os EUA, por meio do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, chamaram os comentários do chanceler de ofensivos; o Canadá convocou o embaixador russo, um gesto de reprimenda diplomática, dizendo que a fala foi antissemita.

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