Indicação de embaixador do Brasil na Argentina frustra expectativa por mulher no cargo

Associação das Mulheres Diplomatas fala em decepção e desalento diante da escolha de Julio Bitelli

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São Paulo

O anúncio do embaixador Julio Bitelli como o escolhido para ser o embaixador do Brasil na Argentina gerou frustração entre parte das diplomatas do Itamaraty, que esperavam emplacar uma mulher no cargo.

"Uma frustração, uma decepção", disse à Folha a embaixadora Irene Vida Gala, presidente da Associação das Mulheres Diplomatas Brasileiras. "Como não conseguimos uma chanceler mulher, havia a expectativa de ter embaixadoras nos dois principais postos da diplomacia brasileira, Washington e Buenos Aires."

O embaixador Julio Bitelli durante sessão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, em Brasília
O embaixador Julio Bitelli durante sessão da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, em Brasília - Pedro França/Agência Senado

Maria Luiza Viotti, que foi representante do Brasil na ONU e chefe de gabinete do secretário-geral da ONU, António Guterres, deve ser a embaixadora brasileira nos EUA. Para Buenos Aires estavam cotadas Gisela Padovan, que vai assumir a Secretaria de América Latina e Caribe do Itamaraty, e Eugênia Barthelmess, hoje embaixadora em Singapura e ex-diretora de América do Sul na pasta.

Bitelli é muito respeitado pelos colegas. Foi embaixador na Colômbia e na Tunísia e chefia hoje a representação no Marrocos. Antes, foi chefe de gabinete de Mauro Vieira no primeiro período dele como chanceler (2015-16) e serviu na missão do Brasil junto à ONU e nas embaixadas em Montevidéu, Washington, Buenos Aires e La Paz.

O Itamaraty anunciou nesta terça que o governo da Argentina concedeu o agrément a Bitelli. O documento diplomático indica concordância do governo anfitrião com a nomeação feita pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e é uma formalidade no processo. A nomeação ainda deve passar por apreciação do Senado brasileiro.

"Tínhamos mulheres altamente qualificadas para o cargo. Bitelli está igualmente habilitado a assumir o posto em Buenos Aires, mas não se trata só de competência, é preciso considerar representatividade", diz Gala. "A nomeação de um homem traz desalento, pois nos mantêm na posição de eternas aspirantes."

Depois da vitória de Lula nas eleições se estabeleceu uma pressão de diplomatas mulheres e de setores do PT para a escolha de uma chanceler, algo que seria inédito, mas Vieira acabou sendo o escolhido.

Colocar embaixadoras à frente de representações cruciais para o Brasil iria ao encontro das promessas do chanceler de aumentar o número de mulheres em cargos de liderança. Dentro desse contexto Maria Laura da Rocha foi nomeada secretária-geral do Itamaraty, o segundo cargo mais alto na hierarquia da pasta –a primeira vez que uma mulher ocupa o cargo.

Em entrevista à Folha na semana passada, Vida Gala disse que ficou feliz com o compromisso de aumentar o número de mulheres e pessoas negras em posições de liderança expresso por Vieira em seu discurso de posse. "Nossa expectativa é que já se tenha progredido bastante nesse ponto em seis meses, a tempo para as próximas promoções", disse a diplomata, na ocasião.

Hoje, 23% dos diplomatas são mulheres, mas elas ocupam apenas 12,2% dos postos de chefia no exterior, muitos dos quais em consulados. Vagas estratégicas nas embaixadas e em secretarias importantes da pasta continuam redutos masculinos.

Das 10 secretarias do Itamaraty, função de alto escalão que tradicionalmente é ocupada por homens, 3 terão mulheres à frente —33%. E, segundo a pasta, ainda há várias nomeações para embaixadas a serem divulgadas; os nomes são divulgados no ritmo em que são concedidos agréments.

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