Irã executa ex-vice-ministro da Defesa acusado de conluio com Reino Unido

Alireza Akbari tinha cidadanias iraniana e britânica; líderes ocidentais repudiam pena de morte

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Dubai e Londres | Reuters

O Irã executou o ex-vice-ministro da Defesa Alireza Akbari sob a acusação de espionagem para o Reino Unido, anunciou a Justiça do país do Oriente Médio neste sábado (13). Ele tinha cidadania iraniana e britânica e estava preso desde 2019.

A execução intensifica ainda mais as tensões entre o Irã e as potências ocidentais. Após Akbari, 61, ser condenado à morte pela Suprema Corte do país, o Reino Unido disse nesta semana que a sentença tinha motivações políticas e pediu sua libertação imediata.

Alireza Akbari, ex-vice-ministro da Defesa do Irã concede entrevista em Teerã
Alireza Akbari, ex-vice-ministro da Defesa do Irã concede entrevista em Teerã - West Asia News Agency via Reuters

Pedidos em vão: neste sábado, a agência de notícias do Judiciário iraniano Mizan relatou a execução sem detalhar quando ela ocorreu.

Na quinta (12), a mídia estatal iraniana, que retratou Akbari como um superespião, transmitiu um vídeo que supostamente provava seu envolvimento no assassinato do principal cientista nuclear do Irã, Mohsen Fakhrizadeh. Ele foi morto em 2020 em um ataque atribuído a Israel.

No vídeo, Akbari não confessou o envolvimento, mas disse que um agente britânico pediu informações sobre Fakhrizadeh. A mídia estatal do Irã costuma transmitir as confissões dos suspeitos quando sentenças são atribuídas a motivações políticas. A agência de notícias Reuters não conseguiu checar a autenticidade do vídeo.

Em um áudio transmitido pela BBC persa, por sua vez, Akbari disse que fez confissões falsas após ser torturado. "Com mais de 3.500 horas de tortura, drogas psicodélicas e métodos de pressão fisiológica e psicológica, eles tiraram minha vontade. Eles me levaram à beira da loucura e me forçaram a fazer falsas confissões pela força das armas e das ameaças de morte", afirmou.

Akbari era um aliado próximo de Ali Shamkhani, atual secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã e ministro da Defesa entre 1997 e 2005. Neste período, Akbari atuou como vice-chefe da pasta. Além disso, ele lutou durante a guerra Irã-Iraque, na década de 1980, como membro da Guarda Revolucionária.

"Ele era um dos agentes mais importantes do serviço de inteligência no Irã e teve acesso a centros sensíveis do país", afirmou o Ministério do Interior do Irã. "Akbari forneceu informações ao serviço de espionagem do inimigo conscientemente."

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, condenou a execução neste sábado e a chamou de "um ato insensível e covarde realizado por um regime bárbaro". Ele ainda disse estar horrorizado e acusou Teerã de desrespeitar os direitos humanos e seu próprio povo.

Já o secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly, disse em um comunicado que seu país contestaria a execução e anunciou, mais tarde, sanções ao procurador-geral do Irã. As declarações do Reino Unido sobre o caso não abordam as acusações de espionagem.

Por outro lado, o Ministério das Relações Exteriores do Irã convocou o embaixador britânico no sábado devido ao que chamou de "intromissão de Londres no reino da segurança nacional do Irã", informou a agência de notícias estatal Irna.

Teerã não reconhece Akbari como cidadão britânico e critica o que considera uma interferência das potências ocidentais em assuntos internos —especialmente após a onda de protestos contra o regime que se espalhou no país no ano passado.

Os atos começaram após a morte, em setembro, de uma jovem curda sob custódia da polícia. Mahsa Amini foi detida devido ao suposto uso incorreto do hijab; centenas de manifestantes que participaram dos protestos foram detidos pelas autoridades iranianas e, alguns deles, também condenados à morte.

A embaixadora dos Estados Unidos em Londres, Jane Hartley, chamou a execução anunciada neste sábado de terrível e repugnante. A Anistia Internacional disse que a execução mostrou novamente o "ataque abominável ao direito à vida" das autoridades iranianas e mencionou as supostas torturas as quais Akbari teria sofrido.

Já o Ministério das Relações Exteriores da França convocou o encarregado de negócios do Irã e expressou sua indignação com o caso, disse em um comunicado. O presidente francês, Emmanuel Macron, por sua vez, afirmou que a execução é um caso desprezível e bárbaro.

O regime liderado pelo aiatolá Ali Khamenei tem aumentado a repressão a estrangeiros nos últimos meses. O regime alega que os atos são estimulados por agentes internacionais e que a dura repressão contra eles visa a preservar a soberania nacional. Na terça-feira (10), a Justiça do Irã condenou Olivier Vandecasteele, um cidadão belga de 41 anos, a 40 anos de prisão e 74 chibatadas por espionagem e outros delitos. De acordo com a BBC, ele trabalhou no país por seis anos prestando serviços para o Conselho de Refugiados da Noruega e outras organizações humanitárias.

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