Irã executa mais dois manifestantes envolvidos em protestos contra regime

Grupos de direitos humanos dizem que acusados foram torturados e tiveram confissões extraídas à força

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Teerã | Reuters e AFP

O Irã executou neste sábado (7) mais duas sentenças de morte contra participantes da onda de protestos que se espalha pelo país desde o ano passado. Mohammad Mehdi Karami, 22, e Seyyed Mohammad Hosseini, 39, haviam sido condenados por assassinar um membro da Basij, milícia voluntária afiliada à Guarda Revolucionária iraniana.

Mohammad Mahdi Karami (à esq.) e Seyyed Mohammad Hosseini, executados pela Justiça do Irã por sua participação em protestos, durante seus respectivos julgamentos em Karaj - Reprodução TV Irinn - 5.dez.22/AFP

Com isso, sobe a quatro o número de manifestantes executados pela Justiça. Outros dois acusados receberam pena capital pelo mesmo caso na Suprema Corte iraniana, dois podem apelar da decisão e seis aguardam um novo processo.

A Anistia Internacional afirmou no mês passado que as autoridades iranianas defendem o mesmo destino para ao menos 26 outros envolvidos nos protestos. A organização alega que o Estado negou a todos eles o direito a uma defesa adequada, impedindo-os de contratar advogados, e chama os julgamentos de falsos, "destinados a intimidar os participantes do levante popular que abalou o Irã".

O regime ainda é acusado de ter torturado e extraído à força confissões de ambos os condenados —o que Teerã nega. O advogado de Hosseini, Ali Sharifzadeh Ardakani, afirmou que seu cliente teve as mãos e pés atados e foi espancado até desmaiar, com golpes na cabeça, além de ter recebido choques elétricos em diferentes partes do corpo.

Segundo a rede CNN, Karami era um campeão nacional de caratê, que começou uma greve de fome em protesto pela forma como o julgamento foi conduzido; seu advogado afirmou que ele não recebeu o direito de falar com a família antes da execução.

As execuções receberam amplas críticas no Ocidente. A União Europeia pediu ao Irã que pare de emitir sentenças de morte contra manifestantes e anule as existentes, em comunicado no qual Josep Borrell, chefe da diplomacia do bloco, citou a "violenta repressão" de Teerã contra manifestações civis.

A chancelaria da França classificou as execuções de revoltantes, e o enviado especial dos EUA ao Irã, Robert Malley, disse que elas são fruto de "julgamentos vergonhosos". O ministro britânico das Relações Exteriores, James Cleverly, demandou que o país "acabe imediatamente com a violência contra seu povo".

A Holanda afirmou que convocou o embaixador do Irã em Amsterdã pela segunda vez em um mês para exprimir preocupação com a execução de manifestantes —na diplomacia, a prática é considerada um ato de reprimenda. O chanceler Wopke Hoekstra disse que as ações de Teerã reforçam a necessidade de a UE impor sanções mais severas ao regime teocrático do que aquelas negociadas hoje.

Também neste sábado, o aiataolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, anunciou a nomeação de um novo chefe da polícia nacional após o fim do mandato de Hossein Ashtari, que ocupava o posto desde 2015.

O escolhido foi o general Ahmad-Reza Radan, chefe-adjunto da polícia nacional entre 2008 e 2014. O militar é alvo de sanções da UE e consta em uma lista negra do Tesouro dos Estados Unidos por supostamente ter violado direitos humanos na repressão aos atos contra a controversa reeleição do presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad em 2009.

Radan assume em meio à maior onda de protestos desde a Revolução Islâmica de 1979, que teve como gatilho a morte de Mahsa Amini, 22, ocorrida em setembro sob custódia da polícia moral. A jovem curda foi detida devido ao suposto uso incorreto do hijab, o véu islâmico, obrigatório para mulheres no país. A versão oficial é que ela morreu em decorrência de problemas de saúde prévios, mas familiares e ativistas dizem que ela foi agredida e morta por agentes enquanto estava presa.

Nesta sexta (6), o grupo de direitos humanos Hrana afirmou que 517 manifestantes foram mortos durante os protestos —70 deles menores de idade—, além de 68 membros das forças de segurança. A última menção de uma autoridade do regime sobre vítimas é do fim de novembro, dando conta de 300 mortes somando os dois grupos.

Desde o início das manifestações, as autoridades iranianas acusam forças estrangeiras, incluindo os EUA, de alimentar os protestos. Segundo o Irã, Washington se vale das manifestações para tentar desestabilizar o regime de Ali Khamenei.

A primeira execução relacionada aos atos ocorreu em 8 de dezembro. Mohsen Shekari, 23, foi condenado por esfaquear um membro da Basij com um machete, atear fogo a uma lata de lixo e pôr em risco a segurança pública. A segunda foi realizada dias depois, em Mashad, em um enforcamento público com guindaste. Majid Reza Rahnavard, 23, então detido havia menos de um mês, tinha sido acusado de esfaquear até a morte dois integrantes da mesma milícia e de ferir outras quatro pessoas.

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