Em 1º de janeiro de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse como presidente do Brasil. Não pude participar da cerimônia de posse, mas envio os meus melhores votos para o seu terceiro mandato como líder de um dos maiores países do mundo.
Em outubro passado, mais de 124 milhões de brasileiros foram às urnas. A vencedora destas eleições, em circunstâncias difíceis e de polarização, foi a democracia brasileira. Agora, o presidente Lula está enviando uma mensagem clara ao mundo: o Brasil está de volta.
Ele pretende curar as feridas da sociedade, defender a democracia, combater a desigualdade e impulsionar a economia, enquanto combate as mudanças climáticas e o desmatamento. Após um período de isolamento e desengajamento, a nova administração regressa ao cenário internacional para atuar como um empenhado agente global e multilateral.
Esses compromissos foram recebidos de maneira muito positiva pelos europeus. No atual contexto geopolítico, caracterizado por ameaças contra a ordem internacional baseada em regras e pela agressão da Rússia contra a Ucrânia, o mundo precisa do Brasil. Com sua poderosa diplomacia, o país pode fazer a diferença, e, agindo em conjunto, União Europeia (UE) e Brasil podem ser uma força para o bem no mundo.
Juntos, UE e Brasil representam quase um quinto do PIB mundial. A UE é o maior investidor e o segundo parceiro comercial do Brasil. Mas as nossas relações econômicas não têm correspondido ao seu pleno potencial. Precisamos revitalizar nossa parceria estratégica. Outros países, como a China em particular, expandem seu papel como parceiro comercial e investidor no Brasil e na América Latina.
Uma área evidente em que devemos unir as nossas forças é a luta contra as mudanças climáticas. O Brasil pode se tornar uma superpotência verde impulsionando os esforços globais para proteger o planeta.
Durante os mandatos anteriores do presidente Lula, a taxa de desmatamento diminuiu significativamente. Para o futuro, sistemas robustos de rastreabilidade podem restaurar a confiança nas nossas cadeias de valor bilaterais. Esses esforços devem seguir juntos com a justiça social e a luta contra a desigualdade: as políticas ambientais devem ser acompanhadas de medidas fortes para uma economia mais justa e inclusiva. Assim, não corremos o risco de deixar comunidades vulneráveis para trás.
O Brasil já é, igualmente, um gigante no domínio das energias renováveis, mas também podemos desenvolver a nossa cooperação nessa área, incluindo o setor do hidrogênio verde.
A UE também está pronta para intensificar a cooperação na transição digital. Partilhamos a mesma compreensão da importância de uma transformação digital centrada no ser humano e do seu enorme potencial para fomentar o desenvolvimento, criando empregos e promovendo a inclusão social. Após a instalação do cabo submarino Bella para conectar os nossos dois continentes, planejamos lançar nos próximos meses uma aliança digital entre a UE e os países da América Latina e do Caribe.
Não tenho dúvidas de que o governo do presidente Lula ajudará o Brasil a regressar para um caminho de crescimento sustentável, o que proporciona uma oportunidade para expandir os nossos laços econômicos. No âmbito da estratégia Global Gateway, estamos prontos para incrementar os investimentos da UE no Brasil nas transições verdes, digitais e justas.
Além disso, devemos unir esforços em áreas como saúde e educação, pesquisa e inovação, direitos humanos e segurança, incluindo a luta contra a mineração ilegal e a proteção dos povos indígenas. Em todas essas áreas temos um enorme potencial de cooperação —não apenas entre Estados, mas também entre autoridades regionais e locais, entre o setor privado e entre nossas sociedades.
Finalmente, é fundamental que façamos avanços decisivos no Acordo de Associação UE-Mercosul. O acordo iria selar uma aliança estratégica entre as duas regiões, que figuram como as mais estreitamente alinhadas do mundo em termos de interesses e valores. De ambos os lados do Atlântico, buscamos melhorar nossa resiliência econômica, reduzindo as dependências excessivas.
Entretanto, ambos sabemos que autonomia não significa isolamento. Pelo contrário, requer mais cooperação com parceiros econômicos e políticos fiáveis. Os países do Mercosul empenham-se para desenvolver sua própria capacidade produtiva, acrescentando valor aos recursos naturais por meio da inovação e da tecnologia, ao mesmo tempo que aderem a elevados padrões sociais e ambientais. Estamos prontos para acompanhar o Brasil e os outros países do Mercosul neste caminho.
Reunindo dois dos maiores blocos comerciais do mundo —com uma população combinada de mais de 700 milhões de habitantes—, o Acordo UE-Mercosul geraria oportunidades reais para as empresas de ambos os lados, apoiando a criação de empregos de alta qualidade na Europa e na América Latina.
Reconhecendo uma assimetria econômica nas nossas situações, o acordo especifica que o comércio seria aberto progressivamente, proporcionando, assim, tempo aos setores relevantes para modernizarem-se e se tornarem competitivos. Um compromisso comum de luta contra as mudanças climáticas e com políticas ambientais mais fortes nos torna mais próximos a superar as preocupações remanescentes.
O ano de 2023 deve marcar também a revitalização da cooperação entre UE e América Latina e o Caribe por meio da cúpula UE-Celac. A nossa agenda comum é clara: para conter as tensões geopolíticas, ter sucesso nas transições globais digitais, verdes e justas e construir a ordem multilateral do futuro, precisamos aprofundar a cooperação UE-Brasil e finalizar o acordo UE-Mercosul.
Arregacemos as mangas e comecemos a trabalhar em conjunto.
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