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Josep Borrell

Revitalizando a parceria da União Europeia com o Brasil

Nossas relações econômicas não têm correspondido ao seu pleno potencial

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Josep Borrell

Chefe da diplomacia da União Europeia

Em 1º de janeiro de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse como presidente do Brasil. Não pude participar da cerimônia de posse, mas envio os meus melhores votos para o seu terceiro mandato como líder de um dos maiores países do mundo.

Em outubro passado, mais de 124 milhões de brasileiros foram às urnas. A vencedora destas eleições, em circunstâncias difíceis e de polarização, foi a democracia brasileira. Agora, o presidente Lula está enviando uma mensagem clara ao mundo: o Brasil está de volta.

Entre várias pessoas que acenam com as mãos para o alto está o presidente Lula, com terno azul escuro e gravata, durante evento da posse
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acena para apoiadores após receber a faixa presidencial no Palácio do Planalto, em Brasília, Brasil - Ueslei Marcelino/Reuters

Ele pretende curar as feridas da sociedade, defender a democracia, combater a desigualdade e impulsionar a economia, enquanto combate as mudanças climáticas e o desmatamento. Após um período de isolamento e desengajamento, a nova administração regressa ao cenário internacional para atuar como um empenhado agente global e multilateral.

Esses compromissos foram recebidos de maneira muito positiva pelos europeus. No atual contexto geopolítico, caracterizado por ameaças contra a ordem internacional baseada em regras e pela agressão da Rússia contra a Ucrânia, o mundo precisa do Brasil. Com sua poderosa diplomacia, o país pode fazer a diferença, e, agindo em conjunto, União Europeia (UE) e Brasil podem ser uma força para o bem no mundo.

Juntos, UE e Brasil representam quase um quinto do PIB mundial. A UE é o maior investidor e o segundo parceiro comercial do Brasil. Mas as nossas relações econômicas não têm correspondido ao seu pleno potencial. Precisamos revitalizar nossa parceria estratégica. Outros países, como a China em particular, expandem seu papel como parceiro comercial e investidor no Brasil e na América Latina.

Uma área evidente em que devemos unir as nossas forças é a luta contra as mudanças climáticas. O Brasil pode se tornar uma superpotência verde impulsionando os esforços globais para proteger o planeta.

Durante os mandatos anteriores do presidente Lula, a taxa de desmatamento diminuiu significativamente. Para o futuro, sistemas robustos de rastreabilidade podem restaurar a confiança nas nossas cadeias de valor bilaterais. Esses esforços devem seguir juntos com a justiça social e a luta contra a desigualdade: as políticas ambientais devem ser acompanhadas de medidas fortes para uma economia mais justa e inclusiva. Assim, não corremos o risco de deixar comunidades vulneráveis para trás.

O Brasil já é, igualmente, um gigante no domínio das energias renováveis, mas também podemos desenvolver a nossa cooperação nessa área, incluindo o setor do hidrogênio verde.

A UE também está pronta para intensificar a cooperação na transição digital. Partilhamos a mesma compreensão da importância de uma transformação digital centrada no ser humano e do seu enorme potencial para fomentar o desenvolvimento, criando empregos e promovendo a inclusão social. Após a instalação do cabo submarino Bella para conectar os nossos dois continentes, planejamos lançar nos próximos meses uma aliança digital entre a UE e os países da América Latina e do Caribe.

Não tenho dúvidas de que o governo do presidente Lula ajudará o Brasil a regressar para um caminho de crescimento sustentável, o que proporciona uma oportunidade para expandir os nossos laços econômicos. No âmbito da estratégia Global Gateway, estamos prontos para incrementar os investimentos da UE no Brasil nas transições verdes, digitais e justas.

Além disso, devemos unir esforços em áreas como saúde e educação, pesquisa e inovação, direitos humanos e segurança, incluindo a luta contra a mineração ilegal e a proteção dos povos indígenas. Em todas essas áreas temos um enorme potencial de cooperação —não apenas entre Estados, mas também entre autoridades regionais e locais, entre o setor privado e entre nossas sociedades.

Finalmente, é fundamental que façamos avanços decisivos no Acordo de Associação UE-Mercosul. O acordo iria selar uma aliança estratégica entre as duas regiões, que figuram como as mais estreitamente alinhadas do mundo em termos de interesses e valores. De ambos os lados do Atlântico, buscamos melhorar nossa resiliência econômica, reduzindo as dependências excessivas.

Entretanto, ambos sabemos que autonomia não significa isolamento. Pelo contrário, requer mais cooperação com parceiros econômicos e políticos fiáveis. Os países do Mercosul empenham-se para desenvolver sua própria capacidade produtiva, acrescentando valor aos recursos naturais por meio da inovação e da tecnologia, ao mesmo tempo que aderem a elevados padrões sociais e ambientais. Estamos prontos para acompanhar o Brasil e os outros países do Mercosul neste caminho.

Reunindo dois dos maiores blocos comerciais do mundo —com uma população combinada de mais de 700 milhões de habitantes—, o Acordo UE-Mercosul geraria oportunidades reais para as empresas de ambos os lados, apoiando a criação de empregos de alta qualidade na Europa e na América Latina.

Reconhecendo uma assimetria econômica nas nossas situações, o acordo especifica que o comércio seria aberto progressivamente, proporcionando, assim, tempo aos setores relevantes para modernizarem-se e se tornarem competitivos. Um compromisso comum de luta contra as mudanças climáticas e com políticas ambientais mais fortes nos torna mais próximos a superar as preocupações remanescentes.

O ano de 2023 deve marcar também a revitalização da cooperação entre UE e América Latina e o Caribe por meio da cúpula UE-Celac. A nossa agenda comum é clara: para conter as tensões geopolíticas, ter sucesso nas transições globais digitais, verdes e justas e construir a ordem multilateral do futuro, precisamos aprofundar a cooperação UE-Brasil e finalizar o acordo UE-Mercosul.

Arregacemos as mangas e comecemos a trabalhar em conjunto.

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