Argentina investiga suposta rede mafiosa após alta no turismo de gestantes russas

Número saltou em meio à Guerra da Ucrânia, e país afirma que passaporte está sendo oferecido em troca de quantia volumosa

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São Paulo

A chegada de centenas de mulheres grávidas da Rússia nos últimos meses levou a Argentina a abrir uma investigação sobre o caso, anunciou o órgão responsável por migrações no país.

O movimento levantou a suspeita de que grupos mafiosos estejam lucrando ao oferecer, em troca de dinheiro, um pacote de "turismo de parto" que teria o passaporte argentino como principal benefício.

Mural em Buenos Aires em que se lê "não à guerra", em referência ao conflito entre Ucrânia e Rússia, em março de 2022
Mural em Buenos Aires em que se lê 'não à guerra', em referência ao conflito entre Ucrânia e Rússia - Juan Mabromata - 5.mar.22/AFP

"Com muito trabalho, nós, argentinos, temos um dos passaportes mais seguros do mundo, que permite ingressar sem visto em 173 países", disse Florencia Carignano, chefe da Diretoria Nacional de Migrações, no Twitter. "Esse é um privilégio que temos de cuidar e uma responsabilidade nossa com essas nações."

Segundo Carignano, após observar o aumento na entrada de cidadãs russas nos últimos meses, a Argentina iniciou uma investigação e entrevistou 350 mulheres, com gravidezes em estágios avançados. A diretora diz que o movimento é marcado por pessoas que não desejam permanecer no país. No mesmo post, ela compartilhou uma imagem do site RuArgentina, que seria o responsável pelos pacotes.

O site russo se define como uma "rede de portais" que conta com notícias sobre a Argentina em russo, vídeos do fundador, Kiril Makoveev, pacotes de turismo e de turismo de nascimentos no país.

A página sobre os pacotes relativos ao parto lista entre as vantagens de ter filhos no país sul-americano medicamentos de alta qualidade; entrada sem necessidade de visto; cidadania argentina para o filho; residência "permanente imediatamente" e "direito de obter a cidadania argentina de forma simplificada" para os pais, o que garantiria acesso a "170 países sem visto".

De acordo com o site do governo argentino, familiares de nativos ou naturalizados podem entrar com pedido de residência temporária de dois anos ou permanente e não há pré-requisitos além do parentesco comprovado, além de outros documentos corriqueiros, como passaporte e comprovante de residência.

O RuArgentina também lista pacotes de serviços pagos em Tether, uma "stablecoin" (criptomoeda lastreada em ativos tradicionais, como o dólar), que vão de 100 USDT (cerca de R$ 518) para consultas por telefone até 15 mil USDT (R$ 77,6 mil) para um modelo de "primeira classe", com consultas ilimitadas, assistência de transporte aéreo, curso de espanhol e assistência para moradia e documentação.

O site russo ainda cita supostos hospitais parceiros, que dariam desconto de 50% no valor dos procedimentos. Segundo as autoridades, as gestantes russas chegam à Argentina com o pacote completo, que inclui contratos de aluguel temporários, obtêm o passaporte para os filhos e deixam o país.

"Estamos felizes que elas venham fazer sua vida na Argentina, mas o problema é que chegam, têm os filhos, registram eles como argentinos, vão embora e não voltam mais. Estão usando nosso passaporte", afirmou Carignano a uma rede de televisão local.

Autoridades locais estimam que mais de 10 mil russas gestantes viajaram à Argentina desde o início da guerra, há quase um ano, e 70% delas teriam ficado apenas por meses no país, segundo o jornal El País.

Em um único voo na semana passada, foram identificadas 33 russas, afirmou Carignano. "A quantidade é realmente grande por dia. Em um voo da Ethiopian [Airlines, companhia aérea da Etiópia], entraram 33 russas com gestações entre 32 e 33 semanas", disse ela.

Apesar dos números e da investigação argentina, o fenômeno não é único do país. O conflito europeu também impulsionou a vinda de russas e ucranianas para o Brasil em busca de cidadania para seus filhos.

No caso da Rússia, alvo de sanções e isolada pelo Ocidente após a invasão do vizinho, o parto em países como Argentina e Brasil dá ao recém-nascido a nacionalidade da nação sul-americana em que nasceu, o que garante acesso a dezenas de países que dificultam a entrada de russos.

Com Reuters

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