Descrição de chapéu China

China estreita laços com Turquia enquanto diplomata derrapa com gafe

Postagem de diplomata ofuscou os esforços de Pequim em prestar assistência à Turquia e à Síria

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Igor Patrick
Washington

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O apoio chinês à Turquia e à Síria após o terremoto responsável pela morte de ao menos 41 mil pessoas foi divulgado massivamente nas redes sociais do país. Medidas como a ajuda financeira para recuperar a região e o envio de uma equipe de resgate especializada em desastres humanitários ganharam destaque.

  • Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, anunciou a doação de ¥ 30 milhões (cerca de R$ 22,85 milhões) para ajuda humanitária à Síria. Cerca de 20 toneladas de suprimentos e equipamentos médicos e de resgate também já foram transferidos à região afetada;
  • O jornal estatal Global Times aventou a possibilidade de que empresas públicas como a PowerChina —presente na Turquia desde os anos 1990— possam atuar na reconstrução da infraestrutura danificada pelo temor.

As ajudas foram recebidas com gratidão pelo embaixador turco na China, Emin Önen. Acabaram, porém, manchadas por uma publicação no Twitter de uma diplomata chinesa.

A cônsul-geral em Belfast, Zhang Meifang, publicou um vídeo mostrando a ponte suspensa 1915 Canakkale, na Turquia, que resistiu ao terremoto. Segundo ela, tratava-se de uma contrução chinesa.

O vídeo atingiu mais de 1 milhão de visualizações até que usuários notaram um detalhe: a ponte foi construída por uma empresa sul-coreana com o apoio técnico de equipes da Dinamarca, da Noruega, da Alemanha, da Suíça e da Turquia. A chinesa Sichuan Road teve apenas participação lateral na construção.

Zhang deletou o vídeo, e o consulado-geral chinês não se manifestou.

Por que importa: a China tem grande expertise na construção de ferrovias, estradas e pontes. Aliada da Turquia em vários projetos de infraestrutura, é parceira natural para a reconstrução das áreas atingidas pelo terremoto no dia 6 de fevereiro.

Envios de ajuda humanitária e transferências em dinheiro devem ajudar na relação, mas o anseio de diplomatas mostra pouca coordenação estratégica midiática, levando a situações embaraçosas como essa.

Avião com ajuda humanitária chega a Aleppo, na Síria - 14.fev.23/AFP

Pare para ver

'Irmãs', da pintora Hung Liu, morta em 2021 e uma das artistas sino-americanas mais influentes da história - Hung Liu

O que também importa

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a entidade segue na busca pela origem da Covid-19. A fala aconteceu após a revista Nature revelar que a OMS iniciou a segunda fase das investigações, com análise de coletas feitas na China. O assunto tem potencial de irritar Pequim, que considera a investigação politicamente enviesada e destinada a culpar o país pela pandemia.

O vice-premiê chinês, Hu Chunhua, foi nomeado membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Ele chegou a ser considerado um potencial sucessor de Xi Jinping, mas as mudanças promovidas pelo líder chinês o deixaram fora do Politburo, importante órgão legislativo na hierarquia comunista. Com a nova nomeação, Hu está praticamente descartado da alta liderança do país.

Os governos provinciais na China devem recrutar mais de 190 mil funcionários públicos em 2023. Representa um aumento de 16% na comparação com 2022. Segundo o South China Morning Post, a prioridade é de recém-formados em cursos universitários, parcela da população que sofreu para se empregar durante os quase três anos da política de Covid zero. Em dezembro, o desemprego entre jovens de 16 a 24 anos chegou a 16,7%, ante 5,5% na população urbana em geral.

Aposentados tomaram as ruas de Wuhan na quarta (15) para protestar contra reformas na apólice pública de seguro médico. Os manifestantes se reuniram em um parque da cidade para reclamar das mudanças nas regras que diminuíram os subsídios pagos mensalmente a aposentados após as custosas políticas de controle da pandemia que drenaram cofres públicos nos governos locais.

Manifestantes protestam contra cortes no seguro de saúde recebido por aposentados em frente ao parque Zhongshan, em Wuhan, na China - 15.fev.23/via Reuters

Fique de olho

Em um esforço para reparar rusgas diplomáticas, Xi Jinping recebeu na terça (14) o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, para uma reunião presencial. Foi a primeira visita de um líder iraniano em duas décadas.

  • O Irã se queixa da ação de Pequim na região. Em dezembro, Raisi reclamou ao vice-premiê Hu Chunhua da aproximação promovida por Xi com a Arábia Saudita, um inimigo antigo do país;
  • No início do ano, foi a vez de o Ministério das Finanças iraniano cobrar os chineses pelos investimentos de US$ 400 bilhões prometidos ao país.

Por que importa: embora tenha relevância estratégica para a China no Oriente Médio, o Irã vive há décadas sufocado por sanções americanas e europeias. Tem, portanto, pouca margem de manobra na relação com os chineses. É pouco provável que as reclamações quanto à aproximação de Pequim com sauditas ressoem com Xi.

O líder chinês, Xi Jinping (à esq.), e o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, no Grande Salão do Povo, em Pequim - Yan Yan/Xinhua

Para ir a fundo

  • O Instituto Confúcio da Unesp está com matrículas abertas para cursos de mandarim em vários níveis, do básico ao avançado. As aulas acontecem presencialmente e online. Inscrições e informações adicionais aqui. (pago).
  • O Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras vai ministrar um curso de introdução à cultura chinesa em parceria com a Universidade Federal Fluminense e a Universidade Normal de Hebei. Com carga horária de 22 horas, as aulas começam em março e oferecerá certificado. Informações aqui.

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