Mais de cem padres suspeitos de terem abusado de menores de idade em Portugal continuam em funções eclesiásticas no país, segundo Pedro Stretch, pedopsiquiatra responsável pela comissão que investigou a questão ao longo de 2022 e publicou relatório final nesta segunda-feira (13).
A comissão afirma que está preparando uma lista de padres acusados em relatos colhidos durante a investigação e que irá enviar os nomes à Igreja Católica e à Promotoria portuguesa.
"Há um número aproximado [de padres acusados ainda ativamente trabalhando] e são claramente mais do que cem", afirmou Stretch a uma rede de TV, reforçando que os religiosos acusados deveriam ser retirados de seus postos ou ao menos banidos de interagir com crianças e adolescentes durante as investigações.
O bispo José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal de Portugal, disse que seguiria o que o papa Francisco afirmou sobre abusadores de menores não terem funções se provado o abuso, mas que não conduziria uma "caça às bruxas" contra religiosos. Segundo Ornelas, os bispos portugueses se reunirão no próximo dia 3 para discutir "mecanismos mais efetivos e apropriados" para prevenir abusos no futuro.
O relatório final da comissão concluiu que 4.815 crianças foram abusadas por membros da Igreja Católica desde 1950 em Portugal, algo que Stretch afirmou representar um número "absolutamente mínimo" dos episódios e "apenas a ponta do iceberg" da dimensão real dos abusos.
Com pico entre os anos 1960 e 1990, os casos ocorreram em diversos tipos de instituições e locais ligados à igreja: seminários, sacristias, colégios internos, confessionários, grupos de escoteiros e casas de acolhimento. Cerca de 96% do abusadores são do sexo masculino, e 77%, padres —há registros colhidos pela comissão em todos os distritos do país.
Em relação aos jovens que foram alvo dos abusos, a idade média deles é de 11,2 anos e, em 52,7% dos casos, são meninos. Em 57,2% dos episódios, os menores foram abusados mais de uma vez, e 27,5% relataram que os crimes perduraram por mais de um ano. A maior parte dos episódios já prescreveu, mas 25 casos que ainda estão dentro dos prazos legais foram enviados ao Ministério Público.
O primeiro-ministro português, António Costa, disse que as revelações "chocaram a sociedade" e que autoridades do governo e o ministro da Justiça entrariam em contato com os membros da comissão.
Já o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que a igreja precisa ser responsabilizada. Em outubro passado, Sousa foi criticado por se referir a então cerca de 400 queixas obtidas pela comissão como um número de casos que não lhe parecia "particularmente elevado".
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