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Mais de cem padres suspeitos de abuso seguem com funções na Igreja Católica de Portugal

Relatório apontou 4.815 menores de idade abusados por religiosos no país desde 1950

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Lisboa | Reuters

Mais de cem padres suspeitos de terem abusado de menores de idade em Portugal continuam em funções eclesiásticas no país, segundo Pedro Stretch, pedopsiquiatra responsável pela comissão que investigou a questão ao longo de 2022 e publicou relatório final nesta segunda-feira (13).

A comissão afirma que está preparando uma lista de padres acusados em relatos colhidos durante a investigação e que irá enviar os nomes à Igreja Católica e à Promotoria portuguesa.

José Ornelas (no centro, com anel no dedo), presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, durante entrevista coletiva
José Ornelas (no centro, com anel no dedo), presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, durante entrevista coletiva - Patricia de Melo Moreira - 13.fev.23/AFP

"Há um número aproximado [de padres acusados ainda ativamente trabalhando] e são claramente mais do que cem", afirmou Stretch a uma rede de TV, reforçando que os religiosos acusados deveriam ser retirados de seus postos ou ao menos banidos de interagir com crianças e adolescentes durante as investigações.

O bispo José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal de Portugal, disse que seguiria o que o papa Francisco afirmou sobre abusadores de menores não terem funções se provado o abuso, mas que não conduziria uma "caça às bruxas" contra religiosos. Segundo Ornelas, os bispos portugueses se reunirão no próximo dia 3 para discutir "mecanismos mais efetivos e apropriados" para prevenir abusos no futuro.

O relatório final da comissão concluiu que 4.815 crianças foram abusadas por membros da Igreja Católica desde 1950 em Portugal, algo que Stretch afirmou representar um número "absolutamente mínimo" dos episódios e "apenas a ponta do iceberg" da dimensão real dos abusos.

Com pico entre os anos 1960 e 1990, os casos ocorreram em diversos tipos de instituições e locais ligados à igreja: seminários, sacristias, colégios internos, confessionários, grupos de escoteiros e casas de acolhimento. Cerca de 96% do abusadores são do sexo masculino, e 77%, padres —há registros colhidos pela comissão em todos os distritos do país.

Em relação aos jovens que foram alvo dos abusos, a idade média deles é de 11,2 anos e, em 52,7% dos casos, são meninos. Em 57,2% dos episódios, os menores foram abusados mais de uma vez, e 27,5% relataram que os crimes perduraram por mais de um ano. A maior parte dos episódios já prescreveu, mas 25 casos que ainda estão dentro dos prazos legais foram enviados ao Ministério Público.

O primeiro-ministro português, António Costa, disse que as revelações "chocaram a sociedade" e que autoridades do governo e o ministro da Justiça entrariam em contato com os membros da comissão.

Já o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que a igreja precisa ser responsabilizada. Em outubro passado, Sousa foi criticado por se referir a então cerca de 400 queixas obtidas pela comissão como um número de casos que não lhe parecia "particularmente elevado".

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