Modelo do Iêmen é condenada a 5 anos de prisão por 'atos indecentes'

Organizações denunciam que acusações são falsas e representam ofensa aos direitos das mulheres

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São Paulo

Uma modelo do Iêmen que posava para fotos sem cobrir os cabelos foi condenada a cinco anos de prisão por fornicação (relação sexual entre pessoas não casadas), prostituição e uso de drogas. ONGs denunciam que as acusações são falsas e representam uma ofensa aos direitos das mulheres.

Intisar al-Hamadi, 21, foi detida na capital Sanaa em fevereiro de 2021, quando se deslocava para uma sessão de fotos. A sentença foi confirmada no domingo (12), em um tribunal localizado numa região controlada por rebeldes ultraconservadores houthis, que impõem um código de vestimenta às mulheres.

A modelo e atriz Intisar al-Hammadi, em foto postada em sua página do Facebook
A modelo e atriz Intisar al-Hammadi, em foto postada em sua página do Facebook - Reprodução/Facebook/AFP

Khaled al-Kamal, advogado da modelo, disse que irá recorrer da sentença e que a mulher foi condenada devido à sua profissão. Ele contou que Intisar estava otimista e acreditava que a decisão seria favorável a ela. "Ao ouvir a sentença, ela ficou chocada. Logo começou a chorar e gritar", disse.

Em 2021, dias após Intisar ser detida, o advogado afirmou que ela foi presa por estar no carro com um homem acusado de tráfico de drogas. Ele disse ainda que o telefone dela foi confiscado e que suas fotos como modelo foram tratadas como um ato indecente.

A pessoas que a visitaram na prisão ela contou ter sido forçada a assinar uma confissão de prostituição e posse de drogas enquanto estava vendada no interrogatório. Disse ainda que autoridades prometeram libertá-la caso ajudasse a capturar inimigos seduzindo-os com "sexo, álcool e drogas", o que recusou.

A modelo contou ainda ter sido ameaçada com um "teste de virgindade forçado", mas que as autoridades desistiram do método depois de críticas feitas pela ONG Anistia Internacional.

Testes de virgindade forçados são reconhecidos internacionalmente como uma violação de direitos humanos e uma forma cruel e degradante de violência de gênero. A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que esses testes não têm validade científica e que profissionais de saúde nunca devem aplicá-los.

A modelo posava para fotógrafos locais, muitas vezes sem o véu islâmico, e publicava as imagens nas redes sociais, nas quais tinha milhares de seguidores. Segundo a Anistia Internacional, a mulher está sendo punida por "desafiar as normas da sociedade profundamente patriarcal" do Iêmen. Já a ONG Human Rights Watch (HRW) denunciou que o caso está cheio de irregularidades e abusos.

Filha de pai iemenita e mãe etíope, Intisar trabalhou como modelo por quatro anos e atuou em duas séries de TV do Iêmen em 2020. Seus parentes disseram à HRW que ela sustentava sozinha a família de quatro pessoas, incluindo seu pai, que é cego, e seu irmão, que tem deficiência física.

Em 2021, a modelo tentou o suicídio em sua cela e foi hospitalizada em condição grave. Segundo o Centro do Golfo para Direitos Humanos, ela tentou se matar após saber que seria transferida para a "ala da prostituição". "Isso levou a uma deterioração de seu estado psicológico", disse a organização à época.

Os houthis não se manifestaram publicamente sobre o caso. Em guerra desde 2014 contra as forças pró-goverrno, apoiadas pela Arábia Saudita, controlam boa parte do território do país, em especial no norte.

Com AFP

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