ONU encontra urânio enriquecido no Irã em nível próximo do uso em bombas

Material concentrado em 83,7% se aproxima dos 90% necessários para produção de armamento nuclear

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Viena | Reuters

Um relatório do órgão fiscalizador da ONU para questões nucleares identificou partículas de urânio enriquecido em 83,7% nas instalações de Fordow, no Irã, um nível próximo dos 90% necessários para a fabricação de armamentos atômicos. Os traços do produto foram encontrados após vistoria no final de janeiro, quando os fiscais coletaram amostras no local.

Teerã afirma que "flutuações não intencionais nos níveis de enriquecimento podem ter ocorrido durante o período de transição [para enriquecimento a 60%] ou na troca do cilindro de alimentação".

Reator nuclear em Arak, ao sul de Teerã, em dezembro de 2019
Reator nuclear em Arak, ao sul de Teerã, em dezembro de 2019 - Organização de Energia Atômica do Irã - 23.dez.29/AFP

À época, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) criticou o regime iraniano ao afirmar que centrífugas usadas para enriquecimento do material tinham sido reconfiguradas sem declaração prévia, o que viola determinações do acordo nuclear assinado em 2015. Os traços do urânio enriquecido a 83,7% foram achados justamente no produto desse grupo de centrífugas.

A agência diz que segue em conversas com Teerã para compreender a origem do material encontrado e que irá "aumentar a frequência e a intensidade das verificações" na fábrica de Fordow.

A agência também aponta que o estoque de urânio enriquecido a 60% do Irã aumentou de 25,2 kg para 87,5 kg desde o relatório anterior, medida definida pela terminologia da AIEA como "quantidade aproximada de material nuclear que não exclui a possibilidade de fabricação de dispositivos nucleares explosivos".

Teerã nega qualquer intenção de produzir armamentos atômicos e afirma que os desenvolvimentos nucleares do país têm como objetivo usos civis.

A agência da ONU tem criticado o regime iraniano por produções fora das diretrizes do acordo nuclear, assinado em 2015, mas efetivamente sob impasse desde a saída dos Estados Unidos do pacto, em 2018, durante o governo de Donald Trump.

O movimento americano veio acompanhado da retomada de sanções a Teerã, que, desde então, reforça sua capacidade de enriquecimento de urânio, embora o acordo ainda esteja, em tese, valendo. Tentativas de diálogo e de retomada das negociações entre as partes têm falhado em chegar a consensos, mesmo apoiadas por outros signatários do pacto, como China e membros da União Europeia.

Nesta terça-feira (28), o subsecretário de Defesa americano Colin Kahl afirmou na Câmara dos Deputados que o Irã tem hoje a capacidade de produzir material para eventual uso em bombas em "cerca de 12 dias", ante os 12 meses estimados enquanto o acordo nuclear ainda estava de pé.

O urânio encontrado na natureza é composto basicamente por dois isótopos, U-235 e U-238. O enriquecimento é o processo de aumento da concentração do U-235 em relação ao U-238 —este muito mais comum no urânio encontrado na natureza, mas menos adequado para produção de energia e inútil para fabricação de explosivos atômicos. Por isso, dizer que o produto é enriquecido em 83,7% significa afirmar que há uma concentração de 83,7% de isótopos U-235.

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