Violência se agrava na Cisjordânia um dia após Israel e Palestina prometerem paz

Colonos israelenses reagem a assassinato de conterrâneos com incêndio em cidade palestina

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A espiral de violência que assola a Cisjordânia desde o início do ano deu mostras de estar longe do fim nesta segunda-feira (27), um dia depois de Israel e Palestina se comprometerem a trabalhar juntos para dar um basta à situação em um encontro na vizinha Jordânia.

Huwara, cidade no norte do território ocupado, amanheceu em chamas depois que um grupo de colonos israelenses invadiu a área na noite de domingo. O ato foi uma represália ao assassinato de dois israelenses horas antes, no que o governo de Binyamin Netanyahuo mais à direita a ocupar o poder na história do país— tachou de um ato de terrorismo.

Carros danificados por incêndio causado por colonos de Israel na cidade palestina de Hawara, perto de Nablus, na Cisjordânia - Ayman Nobani/Xinhua

O incêndio desta segunda atingiu cerca de 30 residências e cem veículos, de acordo com um funcionário da prefeitura, e deixou mais de 350 moradores feridos. "Queimaram tudo o que encontraram pela frente. Nem as árvores escaparam", afirmou o morador Kamal Odeh à agência de notícias AFP. Em uma cidade próxima, Zaatara, um colono israelense ainda matou a tiros um palestino de 37 anos.

Israel pediu calma aos colonos —o incidente acontece em meio a uma escalada das tensões com os palestinos que já tirou a vida de 75 pessoas, entre militantes, soldados e civis. Destas, 63 são palestinos, e 11, israelenses. Uma mulher ucraniana também estava entre os mortos.

"Peço que não façam justiça por conta própria e que deixem as forças de segurança cumprirem sua missão", afirmou Netanyahu. O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, fez coro ao premiê em uma visita a Huwara, pedindo calma e classificando de intolerável a ação violenta de cidadãos israelenses.

Organizações israelenses de defesa dos direitos humanos acusaram o governo de Bibi, como o premiê é conhecido, de ter apoiado um pogrom —o termo designa ataques contra judeus no Leste Europeu comuns nos séculos 19 e 20. Já Mahmoud Abbas, líder da Autoridade Palestina, afirmou que Tel Aviv havia dado respaldo a "atos terroristas cometidos pelos colonos".

Horas depois, um grupo de palestinos abriu fogo contra carros que passavam em uma rodovia próxima à cidade de Jericó. Um homem identificado como cidadão americano-israelense foi morto.

Gallant ordenou que as forças de Israel estejam prontas para enfrentar quaisquer ameaças. O Exército também afirmou ter enviado dois batalhões extras à área para evitar novos ataques e prevenir tumultos. A polícia disse que prendeu duas pessoas.

Vários dos ministros do gabinete de Netanyahu são colonos na Cisjordânia, e a expansão dos assentamentos tinha sido uma de suas promessas de campanha. No encontro na Jordânia no domingo, seu governo havia se comprometido a suspender temporariamente essa expansão, em uma tentativa de diminuir as tensões, mas recuou diante da pressão dos demais integrantes da coalizão.

Ocupada por Israel desde 1967 e marcada pela instabilidade, a Cisjordânia tem sido alvo mais frequente de incursões do Exército israelense desde o ano passado. Três milhões de palestinos moram na região, que também abriga ainda mais de 475 mil israelenses.

O acirramento das tensões entre Israel e Palestina acontece ainda num momento em que o governo Netanyahu enfrenta protestos desencadeados por um projeto que ameaça a autonomia do Judiciário do país. No sábado (25), mais de 100 mil pessoas foram às ruas para protestar contra a proposta.

Com AFP e Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.