Desafios de Lula substituem otimismo inicial com o governo na imprensa estrangeira

Textos publicados na 2ª semana de março mostram dificuldades políticas, econômicas e ambientais no Brasil

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Daniel Buarque Fabiana Mariutti
São Paulo | Interesse Nacional

Após uma primeira reação positiva da imprensa estrangeira a respeito da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência e a posse do seu governo, no final de 2022 e no começo deste ano, a percepção externa começa a dar sinais de atenção sobre problemas enfrentados pela nova administração do Brasil, no poder há dois meses.

Em um período de baixa visibilidade, não houve apenas um assunto que concentrasse a atenção da imprensa internacional. Reportagens publicadas na última semana, porém, indicam a persistência de dificuldades políticas, ambientais e econômicas no Brasil, assim como desafios a serem enfrentados pelo governo.

Lula durante reunião em que anunciou reajuste no repasse para o Programa Nacional de Alimentação Escolar - Gabriela Biló - 10.mar.2023/Folhapress

No total, na segunda semana de março foram registrados 37 textos com menção ao Brasil nos sete veículos analisados —volume bem abaixo da média semanal do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil), que é quase o dobro da última coleta. A maioria dos textos teve tom neutro (57%), enquanto o volume de menções positivas foi de 17% e o percentual dos textos com tom negativo foi de 27%.

Um dos principais destaques sobre o Brasil na imprensa internacional foi uma reportagem com um balanço dos primeiros dois meses do novo governo no jornal francês Le Monde, registrando "os difíceis primeiros passos de Lula". "À frente de um país abalado, o presidente de esquerda manteve uma agenda intensa e se beneficiou de uma forma de união consagrada (...) mas também suscitou decepções e críticas iniciais", afirma o texto.

De forma semelhante, a questão ambiental continua tendo forte influência sobre a percepção externa do Brasil. No lugar do otimismo gerado pela vitória de Lula, aparecem sinais de cobrança por ações do governo. Um deles foi uma reportagem no jornal britânico The Guardian sobre a alta do desmatamento no país.

"O desmatamento na Floresta Amazônica brasileira aumentou em fevereiro para o nível mais alto já registrado para o mês, destacando a escala do desafio enfrentado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta desfazer a destruição ambiental causada pelo ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro", diz a reportagem.

O mesmo jornal e o português Público também deram espaço para denúncias sobre o desmatamento no Brasil a partir da demanda por produtos de colágeno no resto do mundo. Uma investigação "descobriu que gado criado em fazendas que causam desmatamento foi processado em matadouros que atendem cadeias internacionais de suprimento de colágeno", diz o jornal inglês.

Desafios ambientais tiveram atenção também no New York Times, que publicou uma resenha do livro da jornalista Eliane Brum sobre a Amazônia, incluindo críticas ao governo atual. "Sob o presidente Jair Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia aumentou cerca de 60%. Seu sucessor de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu, quando assumiu o poder em janeiro, reverter essa devastação; mas, como observa Brum, foi ele quem deu sinal verde a Belo Monte durante seu governo anterior, ‘prova eloquente de que toda tonalidade ideológica vê a Amazônia como um corpo a ser dominado e explorado’", diz.

Como contraponto levemente mais positivo, o jornal espanhol El País publicou duas reportagens sobre questões importantes para a projeção da diplomacia ambiental brasileira. Uma delas apresenta um relatório sobre projetos para ampliar a oferta de energia eólica e solar, e que o Brasil será o líder da região". E publicou também um perfil elogioso de Txai Suruí, a "ativista ambiental brasileira mais conhecida no mundo".

Outro texto relevante aborda os movimentos políticos de Lula em prol da igualdade da mulher brasileira ao mencionar a liderança da Ministra da Mulher, Cida Gonçalves e os outros 10 ministérios liderados por mulheres, pela primeira vez na história do Brasil.

Desde o início de abril de 2022, o iii-Brasil coletou e analisou em média 71 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.

Ao longo do levantamento das últimas 48 semanas, o iii-Brasil registrou em média 49% de reportagens de tom neutro, 34% de menções com tom negativo e 16% de textos positivos sobre o país.

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