Descrição de chapéu China

Japão e Coreia do Sul prometem união em cúpula antecedida por míssil da Coreia do Norte

Inimigos históricos, países do Leste Asiático buscam apresentar frente contra ameaças à região junto aos EUA

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São Paulo

Os líderes do Japão e da Coreia do Sul se comprometeram a superar diferenças históricas e abrir o que o premiê japonês, Fumio Kishida, chamou de "um novo capítulo" em suas relações diplomáticas nesta quinta-feira (16).

O encontro, realizado em Tóquio, foi o primeiro entre governantes dos países vizinhos em 12 anos —até então, eles só se encontravam às margens de outros eventos internacionais.

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, cumprimenta o premiê do Japão, Fumio Kishida, em encontro na residência oficial do primeiro-ministro em Tóquio - Kiyoshi Ota/Reuters

A união dos inimigos de longa data tem um objetivo claro: apresentar, junto aos Estados Unidos, uma frente unida diante das ameaças cada vez mais frequentes da Coreia do Norte e da expansão da presença da China no continente asiático.

Ambos os desafios ganharam exemplos concretos na própria data da cúpula. Às 7h10 (19h10 de quarta-feira no horário de Brasília), horas antes de o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, chegar a Tóquio, Pyongyang disparou um míssil balístico intercontinental na costa japonesa.

Trata-se do terceiro teste de míssil do regime comunista em menos de uma semana —uma provocação também aos exercícios militares conjuntos que EUA e Coreia do Sul realizam desde a segunda-feira, os maiores em cinco anos.

Já a China protagonizou embate com o Japão acerca de ilhas no mar do Leste da China reivindicadas por ambos ao enviar, na véspera do encontro, navios da guarda costeira à área para expulsar "embarcações indesejadas" japonesas. Os dois países se acusam de desrespeitos a sua soberania no episódio.

Yoon e Kishida saíram do encontro com pactos em uma série de frentes. No campo militar, eles se comprometeram a retomar o diálogo bilateral sobre segurança, suspenso desde 2018, e a normalizar o GSOMIA, pacto de compartilhamento de inteligência do qual Seul ameaçou sair em 2019.

Os líderes também concordaram em encerrar uma disputa comercial de quase quatro anos relacionada a materiais de alta tecnologia usados para fabricar telas de smartphones e chips. Em 2019, o Japão havia restringido a exportação de artefatos do tipo para a Coreia do Sul —que reagiu com uma reclamação na OMC (Organização Mundial do Comércio), agora retirada.

Por fim, os governantes asseguraram que vão ressuscitar a tradição de fazer visitas regulares um ao outro. "Não podemos perder tempo com relações tensas", disse Yoon a repórteres após o encontro. "Acredito que devemos encerrar o ciclo vicioso de hostilidade mútua e trabalhar juntos para servir aos interesses comuns de nossos dois países."

Como esperado, a cúpula foi aplaudida pelos EUA e reprovada pela China. "Hoje foi um bom dia para interesses, valores e objetivos compartilhados", escreveu Rahm Emanuel, embaixador americano no Japão, no Twitter. Enquanto isso, o porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, afirmou que Pequim se opõe à "tentativa de certos países de formar círculos excludentes".

Os conflitos entre Seul e Tóquio têm origem na ocupação da península coreana pelo Japão, iniciada em 1910 e encerrada apenas com a derrota dos japoneses na Segunda Guerra Mundial, em 1945. Ao longo do período, cerca de 780 mil sul-coreanos foram forçados a trabalhar em minas, fábricas, e bases militares nipônicas, e 200 mil mulheres e meninas foram obrigadas a se prostituir em bordéis frequentados por militares japoneses.

Yoon fez da restauração dos laços com o Japão uma de suas prioridades desde que assumiu o poder, há um ano. No início do mês, seu governo deu importante passo nesse sentido ao assumir a responsabilidade por indenizar as vítimas de trabalhos forçados sul-coreanas —para o Japão, a questão foi resolvida em um tratado dos anos 1960.

A proposta de Yoon não foi bem recebida internamente. Vítimas e a oposição se indignaram; as primeiras por exigirem ações diretas das empresas japonesas envolvidas, e os opositores por entenderem que a atitude representa uma submissão do país aos interesses de Tóquio.

Pesquisa recente da Gallup Korea mostrou 85% dos sul-coreanos acha que o atual governo do Japão não lamenta o suficiente sua história colonial, enquanto 64% disse que não há pressa para melhorar os laços com Tóquio se o vizinho não mudar seu comportamento.

Com AFP e Reuters 

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