Descrição de chapéu América Latina

Macri anuncia que não será candidato na Argentina e complica xadrez eleitoral

Oposicionista critica governo de Alberto Fernández e diz que 'há um grande número de novos líderes'

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São Paulo

O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri anunciou em suas redes sociais na tarde deste domingo (26) que não será candidato às eleições deste ano. A decisão, afirmou ele em um vídeo, foi tomada após uma reflexão que vem fazendo havia várias semanas.

Havia a expectativa de que Macri, principal nome da oposição, que governou o país entre 2015 e 2019, concorresse em outubro.

"Quero ratificar a decisão de que não serei candidato nas próximas eleições. Há um grande número de novos líderes. Espero que não nos deixem ser pisoteados pelo populismo", disse ele.

No vídeo, ele também critica o atual presidente, Alberto Fernández, afirmando que o país está "à deriva, sem liderança" e isolado do resto do mundo. "Nunca mais teremos um fantoche como presidente", adendou, fazendo coro às críticas de que quem tem maior destaque no governo é, na verdade, a vice-presidente Cristina Kirchner.

Macri, 64, é um bilionário chefe de uma poderosa holding familiar e ex-presidente do popular clube de futebol Boca Juniors. Ao fracassar em sua tentativa de reeleição em 2019 contra Fernández —que lidera uma aliança de peronistas de centro-esquerda e centro-direita—, deixou pendente a maior dívida contraída pela Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), de cerca de US$ 44,5 bilhões.

Mauricio Macri em comício em frente à Casa Rosada, em Buenos Aires - Alejandro Pagni - 7.dez.209/AFP

A queda na candidatura de Macri abre ainda mais incertezas sobre o pleito argentino, em especial em sua coalizão, a Juntos por el Cambio.

O primeiro turno da eleição presidencial está marcado para 22 de outubro, e um eventual segundo turno ocorreria em 19 de novembro. Antes disso, porém, há as primárias argentinas, em agosto, quando nomes com menor apoio popular são eliminados.

Os nomes que tentarão chegar à Casa Rosada ainda são incertos. Até aqui, pelo governismo, Alberto Fernández pode tentar a reeleição, e também se mostram relevantes os nomes do embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli —que, aliás, disputou contra Macri em 2015 e perdeu—, e de Sergio Massa, o ministro da Economia.

Kirchner, 70, havia dito em dezembro que não será "candidata a nada" depois que um tribunal a condenou a seis anos de prisão e à inabilitação perpétua para cargos públicos, mas também esse indicativo é incerto. Ela apelou da decisão para uma instância superior.

Pela oposição, destacam-se o atual chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich, que parece ser o nome favorito para o apoio de Macri.

Há ainda o economista Javier Milei, líder dos Libertários, um outsider de direita que ganha força enquanto as correntes políticas tradicionais perdem apoio.

Larreta elogiou a decisão de Macri. "Mais uma vez, Mauricio Macri toma uma decisão que deixa clara sua enorme visão, sua generosidade, coragem e amor ao povo argentino", afirmou.

E Bullrich também apoiou. "A decisão histórica de Mauricio Macri confirma sua grandeza e generosidade. Mesmo podendo voltar a ser presidente, priorizou os interesses do nosso país antes dos seus, como poucos líderes fizeram na história argentina", disse ela no Twitter.

A Argentina enfrenta uma dura situação econômica, com inflação anual acima de 100% pela primeira vez desde 1991, quando o país estava saindo da hiperinflação, o que colocou cerca de metade de sua população de 45,6 milhões na pobreza. É a segunda maior inflação da região, atrás apenas da Venezuela.

Nos mercados, lojas e residências, o impacto da espiral de preços está sendo sentido de forma intensa, conforme uma das taxas de inflação mais altas do mundo pesa nas carteiras das pessoas. Os produtos que mais têm tido aumentos são alimentos, vestuário e serviços.

O governo tem tentado em vão domar o aumento dos preços, que prejudica o poder aquisitivo das pessoas, a poupança, o crescimento econômico do país e as chances do partido governista de se manter no poder nas eleições de outubro.

A inflação também faz com que moradores e turistas carreguem enormes maços de dinheiro para fazer pagamentos.

Diante do cenário, o governo decidiu começar a emitir uma nova nota de 2.000 pesos, dobrando o valor de face da maior cédula do país. A nova nota, porém, ainda valeria apenas US$ 11 oficialmente e US$ 5 nos mercados paralelos comumente usados.

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