Descrição de chapéu The New York Times

NY amplia serviço de saúde mental após prefeito defender internação forçada

Plano prevê sistema único de atendimento, mas não indica como será financiamento do serviço

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Andy Newman Emma G. Fitzsimmons
The New York Times

Em um esforço para combater um dos maiores problemas de Nova York no pós-pandemia, o prefeito da cidade, Eric Adams, anunciou na quinta-feira (2) a expansão dos serviços de saúde mental para pessoas que sofrem de formas graves de doenças do tipo.

As autoridades municipais estimam que haja cerca de 100 mil adultos na cidade com doença mental grave não tratada. São indivíduos com condições como esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão. Milhares de outras pessoas recebem atendimento, mas ele é inconsistente ou insatisfatório.

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O prefeito Eric Adams discute a iniciativa de saúde mental em Nova York, na prefeitura de Manhattan - Benjamin Norman - 2.mar.2023/The New York Times

As causas dessa insuficiência são muitas e incluem a escassez de psiquiatras disponíveis, falta de coordenação entre hospitais e outros órgãos de atendimento e, por fim, a utilização de presídios como instalações psiquiátricas.

O plano de Adams inclui a criação de um sistema único de atendimento que receba portadores de doenças mentais independentemente de onde ela more, incluindo abrigos para indivíduos em situação de rua, hospitais e prisões; a expansão de equipes móveis de tratamento para a alcançar mais 800 pessoas; a ampliação de um programa que envia profissionais de medicina em vez de policiais para atender chamados de emergência relacionados à saúde mental, atualmente disponível em alguns poucos bairros; e o aumento da capacidade de centros comunitários para portadores de doenças mentais.

Em comunicado à imprensa, o prefeito disse que a assistência a pessoas com doença mental grave "não pode se resumir a uma única intervenção". "A participação da comunidade é vital. Este plano investe em atendimento baseado na comunidade, assistência médica e habitação assistida para nova-iorquinos com doença mental grave, fortalecendo o sistema inteiro que os assiste", afirmou.

O plano é o mais recente de uma série de medidas semelhantes tomadas pelo prefeito e pela governadora Kathy Hochul, e foi anunciado no momento em que se aproxima o terceiro aniversário da pandemia de coronavírus. No período, muitos nova-iorquinos passaram a sofrer com dificuldades psicológicas e o número de mortes por overdose e de pessoas vivendo em situação de rua aumentou.

Democrata que concorreu ao cargo com uma mensagem de segurança pública no outono passado, Eric Adams anunciou um plano para transferir pessoas sem teto com doença mental grave e que representem um risco para elas próprias ou outros das ruas para hospitais –contra a vontade delas, se necessário. Ele tem recebido tanto elogios quanto críticas por suas operações em acampamentos de sem-teto, pelo aumento da presença policial no metrô e pela política de remoção involuntária.

Em janeiro, Hochul, também democrata, disse que obrigaria hospitais a reabrir centenas de leitos psiquiátricos fechados durante a pandemia, exigiria que os hospitais mantivessem pacientes psiquiátricos internados até se estabilizarem e coordenaria o planejamento de alta hospitalar com órgãos comunitários, além de criar novas equipes de tratamento móvel para atender mais de 2.000 pessoas em Nova York.

O novo plano do prefeito traz poucos detalhes sobre sua implementação e custos. O texto apresenta, principalmente, um conjunto de prioridades —a prefeitura terá que descobrir como obter verbas para financiar a maioria delas.

O plano acompanha a política que o prefeito anunciou no outono, que enfocava como a cidade trataria pessoas que se descontrolaram completamente em público. Esse plano foi criticado por alguns setores por ser coercivo e impositivo, mas também atraiu muito apoio. O novo plano, que enfoca exclusivamente o tratamento que as pessoas podem acessar voluntariamente, trata de como impedir que as pessoas cheguem ao ponto de colapsar, em primeiro lugar.

A iniciativa para enfrentar doenças mentais graves faz parte de uma política mais ampla de saúde comportamental que o prefeito apresentaria na quinta-feira (2) e que incluiria tratamento para dependências químicas e para as necessidades de saúde mental de menores de idade e suas famílias. O plano também visa combater as disparidades raciais no acesso à saúde: nova-iorquinos negros e hispânicos nessas condições têm probabilidade muito maior de estar recebendo assistência inadequada ou nenhuma.

O plano é, em certa medida, uma tentativa de lidar diretamente com um problema que está presente há mais de meio século, desde que o país deixou de abrigar boa parte dos pacientes em instituições psiquiátricas sem criar um sistema adequado de atendimento comunitário.

O projeto da prefeitura para doença mental grave inclui a construção com verba federal de seis novos centros comunitários de saúde comportamental para pessoas de baixa renda. Ele prevê o aporte de US$ 7 milhões em verbas municipais para ampliar os "clubes", vistos como uma maneira econômica e eficiente de ajudar pessoas com doença mental grave a continuar ligadas a fontes de apoio.

O plano também prevê a criação de 15 equipes de atendimento móvel adicionais que vão trabalhar com mais de 800 pessoas pacientes, incluindo cinco equipes dedicadas aos mais problemáticos, que frequentemente se deslocam entre abrigos, cadeias, a rua e hospitais.

Chamados de equipes de Tratamento Móvel Intensivo, ou IMT (a sigla em inglês), esses órgãos incluem assistentes sociais, terapeutas e psiquiatras. Elas têm um escopo amplo para oferecer aos clientes a assistência de que precisam, onde e quando a necessitam, quer isso signifique ajudá-los a encontrar habitação, orientá-los sobre como obter benefícios sociais ou a resolver problemas do dia a dia.

Jody Rudin, presidente da Institute for Community Living, organização sem fins lucrativos que opera seis equipes de IMT sob um contrato com a prefeitura, aplaudiu a iniciativa.

"Acho que os recursos estão bem posicionados onde a necessidade é mais aguda", ela disse. "Olhando este plano em conjunto com o plano da governadora, fica claro que há um enfoque sem precedentes sobre a saúde mental."

Brandon Jackson, 32, cliente de uma das equipes de IMT do instituto cujos antecedentes incluem uma passagem pela prisão por assalto com violência e de hospitalização por criar distúrbios num abrigo, disse que no último ano a equipe ajudou a colocá-lo no caminho para a estabilidade.

"Com ajuda médica, com ensino, com qualquer coisa da comunidade que eu preciso", ele disse. "Se eu preciso de comida, se preciso de roupa, se preciso de um lugar seguro onde ir, eles me apoiam com tudo isso."

Hoje ele está recebendo injeções mensais de medicamento antipsicótico da equipe e está numa lista de espera para se mudar para habitação assistida, que vem com serviços sociais no local.

Tradução de Clara Allain

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