Descrição de chapéu BBC News Brasil

Pilotos de caça de Israel se negam a treinar em protesto crescente contra governo

Movimento político é inédito e engrossa manifestações contra proposta de reforma judicial no país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tom Bateman
Jerusalém | BBC News Mundo

Pilotos de caça de um esquadrão de elite da Força Aérea de Israel prometeram não comparecer ao seu treinamento, em um protesto sem precedentes contra o governo. Quase todos os 40 pilotos reservistas do 69º Esquadrão se recusaram a participar de um exercício de treinamento de um dia nesta semana.

O protesto já é visto como um movimento político inédito, especialmente por ser organizado por alguns dos reservistas mais importantes para a estratégia militar de Israel.

Um caça camuflado prepara pra levantar voo numa pista em meio a uma região árida. é possível ver o desenho de uma águia numa de suas caudas
Os pilotos são os mais recentes reservistas a ameaçar não servir - Getty Images

É também um sinal da crescente oposição aos planos da coalizão nacionalista governista de reformular o sistema jurídico nacional. Um piloto que preferiu não se identificar disse ao site de notícias Ynet que a intenção do esquadrão é sinalizar que eles não estão preparados para servir a um regime ditatorial.

Enquanto isso, a companhia aérea nacional El Al disse que conseguiu escalar uma tripulação para levar o premiê Binyamin Netanyahu e sua esposa à Itália para uma visita de Estado nesta semana. Segundo a imprensa local, os pilotos da empresa, como parte dos protestos, estavam se recusando a levar o casal.

Em outro sinal da crescente preocupação na liderança militar de Israel, dez ex-chefes da Força Aérea publicaram uma carta aberta pedindo a Netanyahu que "pare e encontre uma solução" para a crise, dado o nível de protesto entre pilotos e tripulações. "Temos medo das consequências desses processos e do perigo sério e tangível que representa para a segurança nacional do Estado de Israel", disseram na carta.

Tudo isso acontece ainda após outro protesto anunciado na semana passada por reservistas da unidade de inteligência de elite 8200, que também disseram que não compareceriam ao trabalho.

Os reservistas são um componente-chave das forças militares, muitas vezes desempenhando funções de linha de frente e, no caso da Força Aérea, regularmente envolvidos em operações de combate.

No fim de semana, Netanyahu se pronunciou sobre o caso, postando no Twitter uma foto em preto e branco de seus documentos militares, de quando foi recrutado em 1967. "Quando somos chamados para o serviço de reserva, sempre comparecemos. Somos uma nação", escreveu ele.

O ministro da Defesa, Yoav Gallant, também pediu aos reservistas que compareçam ao serviço. "Qualquer pedido de recusa prejudica as Forças de Defesa de Israel e sua capacidade de realizar seu dever."

Reformas polêmicas

Os protestos contra o governo não param de crescer desde que Netanyahu voltou ao poder, no final do ano passado, liderando a coalizão nacionalista mais à direita na história de Israel e prometendo mudanças radicais no sistema legal do país. Entre as alterações propostas estão novas legislações que dariam ao governo controle total sobre a nomeação de juízes e, eventualmente, retirariam poderes da Suprema Corte.

A maioria dos juristas afirma que as reformas destruiriam a independência do Judiciário, enquanto figuras da oposição descrevem as propostas como uma tentativa de "golpe" do premiê e de sua coalizão.

Netanyahu também está sendo julgado por acusações de corrupção, que ele nega, e os oponentes afirmam que as reformas legais podem ajudar a protegê-lo da condenação. As propostas provocaram algumas das maiores manifestações antigovernamentais da história de Israel, com cerca de 150 mil pessoas nas ruas de Tel Aviv e dezenas de milhares em protestos em outros lugares no último sábado.

Durante as manifestações da semana passada, as forças de segurança usaram bombas de efeito moral e canhões de água contra os manifestantes, depois que o ministro da Segurança Nacional, o extremista Itamar Ben-Gvir, prometeu reprimir os "anarquistas" que bloquearam as estradas.

Netanyahu diz que as reformas foram pensadas para impedir que os tribunais ultrapassem seus poderes e que, ao votar em sua coalizão na última eleição, o povo teria aprovado as mudanças.

Os reservistas da Força Aérea também estão preocupados que a conduta do novo governo linha-dura possa expô-los a processos pelo Tribunal Penal Internacional, já que não poderiam argumentar que há um Judiciário independente em Israel para investigar quaisquer irregularidades dentro de suas forças.

Organizações de direitos humanos e autoridades palestinas já rejeitam atualmente as investigações conduzidas por Israel sobre a conduta de suas forças, afirmando que são usadas apenas como fachada.

Ameaças de boicote por reservistas não são incomuns no país, mas a escala e o status dos envolvidos são sem precedentes. Os pilotos se somam a reservistas de quase todas as unidades de combate ou inteligência que, nas últimas semanas, ameaçaram não servir se o governo seguir com as reformas.

Segundo relatos, o chefe do Estado-Maior do Exército, o tenente-general Herzi Halevi, teria falado com Netanyahu para alertá-lo que os protestos poderiam prejudicar as capacidades operacionais dos militares.

Este texto foi publicado originalmente aqui.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.