Premiê pede perdão por acidente de trens, e Grécia deve encerrar buscas

Chefe de estação ferroviária apontado como responsável pela tragédia pode ser condenado a prisão perpétua

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Atenas | Reuters e AFP

O primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, pediu neste domingo (5) perdão aos familiares dos 57 mortos no acidente de trem na cidade de Larissa, a cerca de 230 km ao norte de Atenas.

"Como primeiro-ministro, devo isso a todos, mas acima de tudo aos familiares das vítimas, [pedir-lhes] perdão", escreveu o líder em uma publicação no Facebook. "Na Grécia, em 2023, não é possível que dois comboios circulem em sentidos opostos na mesma via e que ninguém perceba", acrescentou.

Manifestantes gritam para policiais que jogavam gás durante uma manifestação em Atenas, após o acidente de trem que matou 57 pessoas em Larissa, na Grécia - Louisa Gouliamaki - 5.mar.23/AFP

Na terça (28), um trem que carregava mais de 350 pessoas colidiu com um vagão de carga que percorria a mesma linha. A imprensa local trata o incidente como o pior do tipo no país. No momento da colisão, os trens viajavam a velocidades superiores a 160 km/h, reduzindo um deles a uma massa mutilada de aço e fazendo as temperaturas dentro do primeiro vagão superarem 1.300°C.

O trem de passageiros, que viajava de Atenas para a cidade de Tessalônica, no norte do país, estava lotado de estudantes que voltavam de suas casas após um feriado prolongado. Dezenas deles estão feridos, e 20 ainda estão no hospital, segundo a imprensa grega.

A polícia disse que 54 corpos de 57 pessoas dadas como desaparecidas por parentes foram identificados até agora –quase todos por testes de DNA, já que o impacto do acidente foi muito grande e causou deformações nos corpos das vítimas. As buscas de destroços e vítimas, aliás, estão no ritmo final.

O governo atribuiu o acidente a um erro humano, e o chefe da estação de Larissa foi preso pelo desastre. Ele compareceu neste domingo a um tribunal, onde prestou esclarecimentos à Justiça, e continua preso aguardando julgamento. O homem, de 59 anos, assumiu a responsabilidade, mas disse que muitos outros fatores contribuíram para a tragédia.

O funcionário, que de acordo com a imprensa local comandava a estação há apenas um mês, é acusado de homicídio culposo e lesão corporal. Ele pode ser condenado a prisão perpétua.

Uma gravação do diálogo entre ele e o condutor de um dos trens, publicada no jornal grego Proto Thema, sugere que o acusado instruiu o colega a ultrapassar o semáforo vermelho. A ordem não pareceu estranha, uma vez que o sistema de sinalização não estava funcionando corretamente. Aparentemente, no momento da tragédia, o funcionário estava sozinho na estação sem nenhum supervisor.

Seu advogado, Stefanos Pantzartzidis, disse na quinta (2) que apesar de seu cliente ter assumido responsabilidade, há outros elementos em jogo. "Meu cliente assumiu sua parcela de responsabilidade, mas não é preciso focar uma árvore quando há uma floresta atrás dela", afirmou.

Paralelamente, as manifestações contra o governo grego continuam nas cidades do país. Neste domingo, milhares de manifestantes reuniram-se em frente ao Parlamento, em Atenas, em protestos convocados por estudantes, ferroviários e funcionários.

Alguns manifestantes seguraram cartazes chamando o governo de assassino; outros lançaram centenas de balões pretos ao céu, em homenagem às vítimas. Segundo a agência de notícas AFP, houve confrontos entre os manifestantes e a polícia, que dispersou o protesto com gás lacrimogêneo.

"Sentimos uma raiva imensa", disse à AFP Michalis Hasiotis, presidente de um sindicato de especialistas em contabilidade, que se juntou à procissão. "O interesse pelo lucro, a falta de medidas de proteção aos passageiros levaram à pior tragédia ferroviária do nosso país", acrescentou.

Partes dos serviços ferroviários da Grécia foram privatizadas em 2017 sob um programa de resgate da União Europeia e do FMI. A Hellenic Train, unidade da Ferrovie dello Stato da Itália que adquiriu operações de passageiros e carga, disse que está trabalhando com as autoridades na investigação. Segundo a AFP, as investigações vão apurar possíveis responsabilidades criminais de vários diretores da empresa.

Na sexta (3), milhares de pessoas se reuniram em frente à sede da operadora, em Atenas, para protestar contra as condições das ferrovias do país. "Assassinos!", gritava a multidão. Um grupo de manifestantes escreveu a mesma palavra com tinta vermelha na fachada do prédio.

A empresa se defendeu na noite de sábado (4) e alegou ter "estado presente no local desde o início" e ter montado "um call center para prestar informações". A Hellenic Train também indicou que é responsável apenas pelo transporte de passageiros e mercadorias, mas que a gestão, manutenção e modernização da rede são de responsabilidade da estatal OSE.

Em outra frente, os trabalhadores do serviço ferroviário na Grécia estão em greve desde quinta –eles afirmam que a má gestão de sucessivas administrações contribuiu para a tragédia. De acordo com o sindicato, cerca de 750 trabalhadores estão hoje empregados no setor, número bem abaixo das ao menos 2.100 pessoas que deveriam estar atuando para que o sistema operasse de forma eficaz, de acordo com um plano aprovado pelo Estado.

Após a tragédia, o então ministro dos Transportes renunciou ao cargo. Seu substituto, Giorgos Gerapetritis, prometeu investigar o caso e reavaliar o serviço ferroviário do país.

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